Prenúncio de uma bolha: por que o rali da Bolsa da China assusta?

Ao se afastar cada vez mais da realidade, o mercado acionário chinês parece anunciar aos poucos uma tragédia; analistas alertam que disparada é sem fundamento e rali parece ser speculativo

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Bolsa chinesa passa por um rali explosivo enquanto sua economia está desacelerando. Em abril, o governo chinês informou que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 7% no primeiro trimestre, o ritmo mais lento desde a recessão mundial de 2009, ao passo a Bolsa de Xangai subiu 123% nos últimos doze meses e mais de US$ 4 trilhões foram adicionados ao valor de mercado total – atualmente em US$ 7,3 trilhões – das empresas listadas na Bolsa do país no mesmo período.  

Ao se afastar cada vez mais da realidade, o mercado acionário chinês parece anunciar aos poucos uma tragédia. Sinais de rali especulativo vêm sendo difundido pelos analistas de mercado, que veem falta de fundamentos na alta. 

A relação do indicador P/L – que pode ser lido como o valor de mercado dividido pelo lucro líquido e mensura em quantos anos o investidor conseguirá obter o valor pago pela ação – dos papéis das empresas de tecnologia chinesa está em 250 vezes. Ou seja, um quarto de milênio para recuperar o capital. Para se ter uma ideia, a Nasdaq, no auge da bolha pontocom, estava em 156 vezes. Em uma economia em desaceleração e com expectativa de queda nos lucros, o esperado é que essa relação se contraía, ajustando-se a realidade. Confira o gráfico abaixo que mostra a evolução do P/L das Bolsas de Xangai e Shenzhen, da China:

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Hoje, as ações de tecnologia dos Estados Unidos são negociadas a 22 vezes mesmo em meio à ascenção atual da Nasdaq para os 5.000 pontos, movimento bem divergente daquele, bem mais abrupto, do índice de tecnologia na virada do século, comenta a casa de research Empiricus. Alta que tem seu lastro nos bons resultados das gigantes Apple, Amazon e Google. 

“A euforia na Bolsa chinesa ocorre em momento que a economia fraqueja e os lucros caem em meio à aposta de mais incentivos do governo para dar suporte à economia. Sinais de um rali especulativo”, comenta o diretor técnico da Wagner Investimentos, João Faria Júnior. 

E não é apenas o indicador P/L que abre esse alerta. A margem concedida pelas corretoras aumentou em US$ 48 bilhões de fevereiro de 2014 para US$ 256 bilhões em abril de 2015, atingindo 3% do valor de mercado de ações. Nos Estados Unidos, essa margem é de 2% do mercado de ações, e vem subindo de forma lenta nos últimos anos. Além disso, o número de novos investidores que abriram conta desde junho subiu em 1.600% e atingiu maior patamar desde 2007 – saiu de algo em torno de 500.000 para mais de 6.000.000.

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Segundo Faria Júnior, esses são sinais de euforia – de um rali especulativo -, mas difícil detectar quando podem acabar, ainda mais em meio ao Federal Reserve, provavelmente, mais dovish (que reflete uma postura de autoridades de mercado de taxas de juros mais baixas e mais tolerante com a inflação).  

Para quem quer ver o que pode resultar dessa disparada sem fundamento da Bolsa chinesa, confira abaixo o gráfico elaborado pelo site americano Zero Hedge, que mostra o índice da Bolsa de Xangai em uma trajetória idêntica à que antecedeu a Bolha da Nasdaq.

Fonte: Zero Hedge