Preços do minério têm nova queda após plano de Pequim de recuperação econômica

Estímulos do governo chinês não levaram reação aos preços do minério

Camille Bocanegra

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Desde que a China anunciou medidas de estímulos econômicos, visando recuperar a demanda interna em 2024, os preços do minério de ferro reagiram de forma negativa. Na terça-feira, Pequim afirmou que intensificará ajustes na política macroeconômica para promover a recuperação da economia.

No entanto, tanto ontem quanto hoje, os contratos futuros apresentaram quedas na Bolsa de Futuros de minério em Dalian na China. Para analistas, o governo decepcionou o mercado com seu pacote de medidas, o que esfriou a valorização da commodity, que vinha atingindo seus maiores patamares desde o início do ano.

Antes mesmo do anúncio, porém, o mercado já colocava em dúvidas se recente movimento de alta seria sustentável. Além disso, a recente queda nos contratos de minério reflete ainda a velocidade mais lenta de reabastecimento nas usinas, considerando a manutenção de estoques em patamar mais baixo praticado pelas usinas.

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Dessa forma, a cotação do minério de ferro para maio, o mais negociado na Dalian Commodity Exchange (DCE) DCIOcv1, encerrou nesta quinta em baixa de 1,05%, a 942 iuanes (132,00 dólares) a tonelada – após queda de 1,35% da véspera.

Estímulos aquém do esperado

A China anunciou, na terça-feira, que intensificará os ajustes de política macroeconômica para promover a recuperação da economia em 2024, de acordo com a mídia estatal. A notícia reforçou que seria implementada uma política fiscal proativa e uma política monetária prudente no próximo ano.

“Para promover ainda mais a recuperação econômica, precisamos superar algumas dificuldades e desafios”, disse a mídia estatal. “Os principais problemas são a demanda efetiva insuficiente, o excesso de capacidade em alguns setores, as expectativas fracas do público e muitos riscos ocultos.”

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A China tem liberado estímulos para sustentar a economia há alguns meses e, dentre os maiores movimentos realizados, esteve a emissão de a emissão de 1 trilhão de iuanes em títulos soberanos para este ano (a primeira expansão do déficit orçamentário em um ano fiscal em 23 anos), em outubro.

Mesmo assim, as iniciativas anunciadas nesta terça foram consideradas insuficientes, de acordo com a reação do mercado em relação aos contratos do minério de ferro.

A dinâmica de dependência entre as movimentações de Pequim e o preço da commodity é vista como negativa pelo CEO da Vale (VALE3), Eduardo Bartolomeo. O executivo mencionou, na semana passada, que os preços devem ser estabelecidos através do equilíbrio entre a oferta e a demanda.

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“A regra da economia irá guiar o preço, a regra significa oferta e demanda”, afirmou Bartolomeo em Londres, antes do encontro anual com investidores da empresa. “Eles [governo chinês] não podem impor algo.”

Mineração segue como aposta

Mesmo diante destes percalços de curto prazo, em relatório, a XP avalia que a Vale continua precificando com desconto em relação aos preços spot do minério de ferro, enquanto a CSN Mineração está negociando com prêmio.

“De acordo com nossa análise, vemos a Vale precificando o minério de ferro em US$ 116/t, enquanto a CSN Mineração está em US$ 153/t, -14% e +15% versus preços spot de minério de ferro, respectivamente”, escreveu a XP.

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Na visão do Itaú BBA, em relatório sobre cenário de commodities para 2024, os investidores têm apresentado sentimento mais positivo em relação à China, o que levou a alteração de preferências por setores e empresas.

Nesse movimento, acrescenta o BBA, a mineração se tornou preferida, com Vale (VALE3) como principal escolha.

Contudo, a estimativa do banco é que os preços do minério de ferro cheguem a patamares mais baixos no ano que vem.

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“Os preços do minério de ferro têm se mantido em torno de US$ 130/tonelada nas últimas semanas, sustentados pelos sólidos níveis de produção de aço na China”, de acordo com o BBA.

Ainda assim, há a ressalva de que o mercado imobiliário chinês permaneceu lento, complementou.

“Olhando para o futuro, antecipamos dinâmicas de oferta e demanda um tanto ajustadas para a indústria de minério de ferro em 2024, com uma produção sazonalmente mais fraca de minério de ferro no 1º trimestre de 2024, abaixo dos níveis normalizados de estoque de minério de ferro e produção resiliente de aço na China”, reforçou o banco.

Por outro lado, há consideração de que os estímulos na China, com foco em infraestrutura e habitação social, possam afetar a demanda por aço em 2024.

Além disso, o banco destacou que as expectativas do investidores estão em linha com sua projeção para o preço do minério de ferro para 2024, estabelecido em US$ 110/tonelada.

Dentre os investidores que participaram da pesquisa, metade acredita que o preço ficará na faixa de US$ 100-110/tonelada e 27% aposta em preços maiores, estimados em US$ 110-120/tonelada.

(com Reuters)