Por que o Bitcoin subiu tanto contra o Rublo?

Hipóteses sugerem que oligarcas estão tentando evitar sanções ou que os cidadãos estão comprando Bitcoin para preservar suas riquezas

CoinDesk

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*Por George Kaloudis

Na terça-feira (1), o Bitcoin (BTC) atingiu sua máxima histórica em rublo, a moeda oficial da Rússia. Mas será que isso realmente significa alguma coisa?

Os preços não contam a história completa ao comparar valores de ativos em diferentes moedas, especialmente quando uma dessas moedas é emitida por um país que enfrenta sanções financeiras por invadir a Ucrânia (e a outra, o BTC, é o dinheiro mágico da internet).

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Uma rápida olhada no par USD/RUB (relação entre dólar e rublo) conta a maior parte da história. Um dólar americano valia 84 rublos na sexta-feira (25), e mais de 114 rublos na terça-feira (1). Com esse tipo de desvalorização, você pode razoavelmente esperar que muitos ativos cotados em rublo atinjam os máximos de todos os tempos em breve, especialmente se a tendência continuar.

No entanto, o rublo perdendo 37% de seu valor em dólar americano explicaria algo em torno de um ganho de 37% em “Bitcoin em rublo” (o dólar e as stablecoins pareadas em dólar representam o par de negociação mais usado para BTC, então essa é uma suposição que faz sentido).

Isso não explicaria imediatamente por que o Bitcoin ganhou mais de 55% (de 3,2 milhões para 4,9 milhões rublos); o ganho em excesso sugere que havia algum outro fator de demanda em jogo. Além disso, o preço do BTC em dólares ainda está com mais de 50% de desconto em relação às máximas de todos os tempos.

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De onde vem a demanda?

Dependendo de quais partes do universo cripto do Twitter você frequenta, de sua familiaridade com a história das criptomoedas, suas inclinações políticas, seu nível geral de cinismo ou sua insistência em ser um reacionário, você pode ter uma de duas hipóteses diferentes sobre o que está acontecendo:

  1. Os russos ultra-ricos que começaram uma guerra estão usando Bitcoin para evitar sanções porque precisam de dinheiro para continuar a batalha.
  2. As pessoas comuns na Rússia e na Ucrânia estão investindo em BTC para evitar sanções porque precisam de dinheiro para viver (ou querem preservar alguma riqueza).

Entre os dois, a segunda hipótese é mais provável do que a primeira. Histórias anedóticas sugerem que as massas podem apostar no Bitcoin para preservar a riqueza enquanto seus países vão para a guerra, enquanto o livro-razão transparente da criptomoeda (blockchain) não fará nenhum favor ao governo de Vladimir Putin para evitar sanções.

Essas conversas são divertidas de acompanhar, mas vamos ver o que os dados dizem.

Os dados

Ao contrário do rublo, a hryvnia, moeda oficial da Ucrânia, não perdeu muito valor em termos de dólares americanos. Mas, de acordo com dados da Kaiko, o BTC foi negociado a um prêmio de 6% em relação ao USD no mercado de hryvnia da Binance após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro, o que sugere um aumento na demanda.

Dados adicionais da Binance mostram que o volume do par de negociação BTC/RUB subiu mais de 240% acima da média de 30 dias em termos de RUB no dia 28 de fevereiro e mais de 400% em 24 de fevereiro.

Com esses dois dados em mente, faz sentido analisar os tipos de detentores de Bitcoin que podem ter surgido para descobrir se eles são novos detentores ou algo diferente. Noelle Acheson, ex-pesquisadora do CoinDesk, postou uma ótima thread no Twitter descrevendo o exercício que ela, eu e muitas pessoas da indústria passamos na semana passada. A história é longa, mas certamente vale a pena ler na íntegra se você tiver tempo. Vou resumir aqui.

Primeiro, consideramos o número de endereços BTC que estão mantendo US$ 1 ou mais em cripto. Houve um aumento de 34.564.788 para 35.035.127 de 27 de fevereiro a 1º de março. Indo mais fundo aqui, o número de endereços Bitcoin que estavam segurando mais que 1.000 Bitcoins também subiu de 2.121 para 2.257 no mesmo período. Embora o crescimento geral de endereços apoie a ideia de que pessoas comuns estão apostando no BTC, o crescimento de endereços com maior de 1.000 BTC (US$ 40 milhões) não.

Cavando um pouco mais fundo, a casa de análise Glassnode divulgou uma métrica inédita chamada “Wallet Cohort Trend Accumulation Score”, que divide o tamanho das carteiras que estão acumulando Bitcoin. De acordo com seu gráfico mais recente publicado no dia 27 de fevereiro, os detentores menores foram os mais agressivos na acumulação de BTC.

Isso é ótimo, pois pessoas comuns estão apostando em Bitcoin. Mas como explicamos o aumento na quantidade de endereços maiores? Aqui vai a explicação do thread da Noelle:

“Mas uma olhada na quantidade total de BTC mantida nesses endereços realmente diminuiu, sugerindo que era mais provável que fosse um caso de reorganização da carteira da exchange”.

Os dados correspondentes são mostrados no gráfico abaixo e essa visão é geralmente corroborada em toda a indústria.

Fonte: Glassnode

Tudo isso apoia o que os “bitcoiners” vêm dizendo há algum tempo – o BTC não está sendo usado por belicistas para evitar sanções (por enquanto). Em vez disso, acho mais provável que esteja sendo utilizado por pessoas comuns na esperança de preservar a riqueza enquanto a guerra continua.

No entanto, ainda não há um consenso. Os analistas do Citigroup disseram o seguinte, citando um gráfico que mostra que as compras de Bitcoin em rublo subiram em termos absolutos de BTC para cerca de 450 BTC:

“Os volumes russos têm sido relativamente pequenos até agora, sugerindo que a ação do preço se deve mais ao posicionamento dos investidores para um aumento esperado na demanda da Rússia, em vez da própria demanda russa.”

Esse é um bom ponto. As pessoas gostam de ganhar dinheiro mesmo diante de tragédias (basta verificar o aumento nas doações para a Ucrânia depois que o governo confirmou e depois cancelou a distribuição gratuita de novos tokens para doadores, ação conhecida no mundo cripto como airdrop). No final, isso poderia ser apenas traders tomando posições em antecipação ao aumento da demanda.

O tempo vai dizer.

*George Kaloudis é analista da CoinDesk Research.

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