Por que as ações da Marcopolo (POMO4) fecharam em queda de 6% apesar do lucro saltar mais de 3.600% no 2º tri?

Salto do lucro ocorreu em boa parte por conta do resultado financeiro, enquanto dados operacionais vieram, mais uma vez, fracos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Uma alta no lucro de 3.663% na comparação anual, passando de R$ 5,4 milhões para R$ 203,3 milhões no segundo trimestre de 2021, poderia ser uma boa indicação de bons resultados para a Marcopolo (POMO4). Porém, não foi essa a leitura de analistas e também dos investidores, com as ações fechando em queda de 6,05%, a R$ 2,95. Na mínima do dia, a baixa foi de 7,01%, a R$ 2,92.

O que explica esse movimento é o fato de que boa parte dessa forte alta do lucro foi decorrente do resultado financeiro, positivo em R$ 182,7 milhões, revertendo o resultado negativo de R$ 16,9 milhões no mesmo trimestre de 2020. Em boa parte, foi motivado pelos créditos por conta da exclusão do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na base de cálculo do PIS/Cofins, que contribuiu positivamente para o resultado em R$ 166,2 milhões.

Os dados operacionais, por sua vez, foram fracos. De acordo com o Itaú BBA, os números da fabricante brasileira de ônibus seguiram a tendência já vista nos primeiros três meses do ano: produção em níveis baixos, um mix pior de produtos e margens comprimidas.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês), de R$ 140 milhões no segundo trimestre, refletiu uma série de eventos, muitos não-recorrentes. Fazendo os ajustes, o Ebitda seria negativo em R$ 6 milhões, aponta o Credit Suisse, ficando abaixo da estimativa do banco suíço de R$ 22 milhões.

Contudo, a despeito dos resultados operacionais considerados fracos, a Marcopolo se mostrou confiante de que a demanda será retomada entre o fim do terceiro trimestre e o início do quarto trimestre deste ano.

Os analistas do BBA apontam que a segunda onda do Covid-19 impediu uma recuperação mais forte na venda de carrocerias de ônibus no segundo trimestre, tanto no Brasil quanto no exterior. No mercado nacional, as vendas de modelos voltados para fretamento foram dominantes no segmento de intermunicipais, resultando em um mix pior. Os modelos Volare continuaram com desempenho positivo, sustentado pelo programa federal “Caminho da Escola”.

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Já a margem bruta ficou pressionada devido à demanda internacional fraca e ao cenário menos favorável de câmbio. Outros motivos que contribuíram para a pressão de margem foram os volumes baixos, um portfolio de produtos modesto e custos não-recorrentes relacionados à reestruturação da força de trabalho. Excetuando-se esse último ponto, a margem bruta teria sido de 8,3%.

“Continuamos acreditando que as ações da Marcopolo devem ter um desempenho em linha com o mercado. Apesar das expectativas para o futuro parecerem promissoras, nossas projeções atuais são de múltiplos pouco atrativos”, avalia o Itaú BBA, que tem recomendação marketperform (desempenho em linha com a média do mercado) e preço-alvo de R$ 3,20 para os ativos, ou um valor 1,9% superior frente o fechamento da véspera.

Além dos créditos tributários não recorrentes, o Bradesco BBI destacou que outros destaques do balanço ficaram para as novas entregas do programa “Caminho para a Escola”, previstas para o quarto trimestre de 2021 e a empresa mantendo investimentos para lançamento de novos produtos. Contudo, a recomendação do banco para a ação segue de venda, com preço-alvo de R$ 3 para 2022, ou queda de 4,5% em relação ao fechamento de segunda.

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Na avaliação dos analistas do banco, com a pandemia do COVID-19 impactando o mercado doméstico e também outros mercados externos importantes para a Marcopolo, a lucratividade da empresa tornou-se altamente dependente do programa “Caminho para a Escola”. No terceiro trimestre de 2021, sem a entrega de ônibus escolares para este programa governamental, espera-se que a Marcopolo registre uma margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) negativa de 0,6%.

No quarto trimestre, a margem Ebitda da empresa deve voltar a ser positiva, mas ainda abaixo dos níveis pré-pandêmicos. Além disso, a pandemia também prejudicou os balanços dos clientes da Marcopolo, o que pode atrasar os investimentos em renovação e expansão da frota, apesar da recuperação esperada no tráfego de passageiros de ônibus com o avanço das vacinações contra a Covid-19 no segundo semestre.

Mesmo diante desse cenário desafiador, a Marcopolo continua investindo no desenvolvimento de novos produtos com o modelo New Attack para a família Volare, o Viaggio 800 para fretamento e o modelo G8 para ônibus rodoviários.

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O Credit Suisse também tem recomendação equivalente à venda (underperform, desempenho abaixo da média do mercado) para POMO4, com preço-alvo de R$ 2,50, valor 20% menor em relação ao fechamento da véspera.

Os analistas apontam que os resultados do trimestre, ainda que fracos, foram auxiliados pela entrega de 368 unidades do Caminho da Escola. Porém, a maior parte já foi entregue no primeiro trimestre.

Por outro lado, os analistas acreditam que a Marcopolo poderá se beneficiar de uma aceleração da demanda no quarto trimestre de 2021 com o avanço do programa de vacinação no Brasil e redução do covid-19, podendo gerar recuperação da demanda no turismo, retorno aos escritórios e aulas presenciais. Além disso, outro fator no radar é o novo programa Caminho da Escola, com previsão de geração de 3.900 unidades para a Marcopolo, com inicio de produção previsto para o final do terceiro trimestre e entregas no último trimestre do ano.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.