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SÃO PAULO – Antes de decidir comprar a ação de uma empresa, o que você leva em consideração? O balanço, a qualidade da gestão e o tratamento dado aos minoritários? Não há dúvidas de que esses são pontos importantes para escolher a empresa que fará parte do seu portfólio por, quem sabe, muitos anos. Mas existe no mercado quem faça mais do que isso. Alguns gestores estão cada vez mais preocupados em entender o negócio em que a empresa está inserida e saber se realmente aquele papel vale ou não a pena – e, para isso, eles não poupam esforços.
Em busca de mais informações sobre a Kroton, um dos maiores grupos de educação do país, analistas da gestora de recursos Constellation matricularam-se em faculdades adquiridas pela companhia e até em uma concorrente. O objetivo era saber se o ensino tinha a qualidade esperada e verificar se os processos eram eficientes. Se o aluno atrasasse a mensalidade, por exemplo, o procedimento adotado pela universidade era correto?
Em quanto tempo ele seria notificado? “Nada como você fazer isso na prática para saber como a empresa realmente lida com esse tipo de situação”, afirma o sóciodiretor da gestora Fábio Dall’Acqua. A equipe de gestão costuma analisar de perto cerca de cem empresas da bolsa em busca de oportunidades de investimentos. Só no ano passado, foram feitas 1.821 reuniões com representantes das companhias, concorrentes, fornecedores, consumidores e consultores. “É um trabalho intenso. Procuramos empresas que tenham vantagens competitivas fortes, crescimento, margens altas e estáveis e que tenham acionistas alinhados com os minoritários”, diz. Dessas cem empresas analisadas, cerca de 20 vão fazer parte do portfólio da asset. Mas para entrar ali é preciso passar pelo crivo de analistas experientes. A equipe, formada por 11 profissionais, encontra-se semanalmente para discutir as teses de investimentos e analisar as aplicações que estão sendo feitas. Se enxergam uma boa oportunidade, gastam ainda mais tempo entre críticas e análises “ácidas” para testar se aquele é realmente um bom negócio. “É um processo de mútuo convencimento, de discussões e críticas fortes sobre as empresas. Quando achamos que haverá uma demanda grande por determinado serviço, começamos a destruir aquela tese para ver se ela aguenta e buscamos informações de fornecedores, clientes e competidores”, diz o sócio-gestor, Rafael Sales.
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No caso da Kroton, hoje a maior posição da Constellation, outro ponto que pesou foi o tratamento dado pela companhia aos alunos que utilizam o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil), programa do Ministério da Educação destinado a financiar mensalidades de ensino superior. Enquanto estudantes inscritos no programa representam 20% do total em outras universidades, nas faculdades da Kroton isso é quase o dobro. “Ligamos para várias instituições perguntando sobre o Fies e a percepção é que muito poucas tinham um processo organizado. Na Kroton, eles não perdiam a oportunidade nem deixavam o aluno bater em outra porta”, diz Dall’Acqua.Outra grande posição do Constellation 60 FIC FIA, único fundo aberto da asset, está na empresa de shoppings centers Aliansce. Na opinião da equipe de gestão, os shoppings devem continuar ganhando mercado em relação ao varejo de rua por conta da comodidade e segurança que esse tipo de empreendimento oferece. Se a empresa tiver qualidade e souber aproveitar o crescimento, passa a ser uma ótima oportunidade. Mas antes de investir, os analistas fizeram um longo trabalho de campo, visitando todos os shoppings da Aliansce, com a preocupação de conhecer cada peça envolvida no processo: desde o dono do terreno até o responsável pelo desenvolvimento do projeto. “Dessa forma, conseguimos entender se o relacionamento dos sócios naquele projeto era correto. Isso nos deu a convicção de que esse é um investimento muito bom para os próximos anos”, afirma Sales.
Longo prazo é a palavra de ordem
A maior parte (87%) dos investidores da Constellation não está no Brasil. Fundos de pensão norte-americanos, endowments (fundos de universidades dos EUA) e fundos soberanos fazem parte da lista. O motivo é o tipo de capital que vem lá de fora. “Dificilmente os estrangeiros pensam em um horizonte menor do que dez anos”, diz Dall’Acqua. Esse dinheiro de longo prazo é o que a gestora procura para montar posições sem precisar se preocupar com ruídos e problemas pontuais a que todas as companhias estão sujeitas. Se o preço da ação cair por conta de alguma notícia ou rumor de mercado, esses investidores não sairão em debandada. “Em 2011, tivemos a oportunidade de comprar ações da Kroton quando todos estavam vendendo. A companhia estava indo bem, mas uma suspeita de contabilidade agressiva na Anhanguera (outra empresa de educação) fez o mercado bater no setor como um todo. Conhecendo bem o ativo, enxergamos a oportunidade de aumentar a posição”, diz o sócio.A média dos investimentos é de três anos. Mas nada impede que a empresa fique mais tempo na carteira da gestora, desde que haja um bom motivo para isso.
O lema é participar do crescimento dos negócios, ter paciência – mesmo em trimestres ruins – e entender que o investimento deve gerar frutos em alguns anos. “Isso era algo que os estrangeiros tinham mais facilidade de compreender”, diz Rafael Sales. Mas ele acredita que isso já começou a mudar. Se antes os investidores nacionais evitavam o risco da Bolsa por terem a opção do CDI (Certificado de Depósito Bancário), que garantia um bom prêmio sobre a inflação com risco baixíssimo, isso já não acontece hoje em dia. Com a redução da taxa básica de juros e o aumento dos preços, está cada vez mais difícil obter ganho real com investimentos conservadores, o que força uma mudança de atitude em relação aos investimentos.
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No longo prazo, toda essa preocupação com a qualidade do investimento se traduz em retornos maiores e mais consistentes. Nos últimos cinco anos, o fundo trouxe retorno de 95,51%, contra -7,29% do Ibovespa. “Mais do que a composição do portfólio, o segredo está na eficiência da equipe e no nível de conhecimento dos negócios”, conclui Dall’Aqua.
História
A história da gestora começou em 1999, com a criação da Utor, asset fundada para gerir o dinheiro de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, trio egresso do extinto Banco Garantia que hoje comanda gigantes como a AB InBev (maior cervejaria do mundo), o Burger King e a Lojas Americanas, entre outras companhias. Lemann é avesso à exposição pública, mas também é muito focado em resultados – não por acaso, está na lista dos mais ricos do Brasil, frequentemente na primeira posição. O bilionário permaneceu como sócio minoritário depois da transformação da Utor em Constellation, em 2002. À época, ele e o gestor Florian Bartunek (ex-sócio do Banco Pactual e atual chefe de investimentos da Constellation) decidiram dar acesso às estratégias de ações para investidores externos. Em 2007, o Lone Pine Capital, um dos mais bem -sucedidos fundos de ações dos EUA, adquiriu participação minoritária na gestora.
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