Governo e oposição têm, juntos, só metade do Congresso, estimam analistas

Pelas estimativas dos especialistas consultados, 255 deputados e 40 senadores poderiam ser classificados como "incertos"

Marcos Mortari

Brasília - Plenário da Câmara dos Deputados, durante pronunciamento do Presidente Temer. Foto José Cruz/Agência Brasil

SÃO PAULO – Passados os primeiros seis meses da nova legislatura, as estimativas de analistas políticos para o tamanho do grupo de deputados e senadores que não se alinham nem com o governo Jair Bolsonaro (PSL) nem com a oposição chegaram ao maior patamar no governo pesselista. É o que mostra a sétima rodada do Barômetro do Poder, pesquisa feita pelo InfoMoney com algumas das principais casas de análise política em atividade no país.

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O levantamento, realizado entre os dias 22 e 24 de julho, mostra que, dividindo os 513 deputados federais e 81 senadores em três grandes grupos (alinhados com o governo, de oposição e indefinidos), a média das estimativas dos especialistas aponta para uma base aliada de apenas 120 deputados e 22 senadores. Já o tamanho da oposição é estimado em 138 deputados e 19 senadores.

Juntos, esses dois grupos somam apenas metade dos assentos no Congresso Nacional, o que reforça a importância do “grupo do meio” nos rumos do processo legislativo. Pelas estimativas dos especialistas consultados, 255 deputados e 40 senadores poderiam ser classificados como “incertos”, com posições não identificadas automaticamente com nenhum dos lados.

A média das projeções para esta categoria mais que dobrou desde janeiro, quando o Barômetro do Poder começou a ser feito. Naquele mês, a média das estimativas para o “grupo do meio” era de 121 deputados e 21 senadores, números considerados elevados e decisivos para o governo na busca de apoio em torno de qualquer agenda legislativa. As projeções para o tamanho do grupo dos “incertos” se acentuaram a partir de março, passado o primeiro mês da nova legislatura.

Gráfico 1: A distribuição dos deputados entre base aliada, oposição e indefinidos

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Gráfico 2: A distribuição dos senadores entre base aliada, oposição e indefinidos

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Na prática, é um retrato da avaliação de um governo permanentemente minoritário no Legislativo, sem formação de coalizão e com maiorias eventuais, caso a caso. Na medida em que se acumulam os atritos entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional, cresce o ceticismo dos especialistas quanto ao colchão do governo no parlamento. Isso tende a ser testado com maior intensidade quando a página da reforma da Previdência for virada e houver maior disputa pelo controle da agenda legislativa.

“O governo não aproveitou o período de curva de aprendizado dos 6 meses. Após a Previdência, ficará a reboque de uma agenda pautada pelo Legislativo. Institucionalmente, haverá medidas para enfraquecimento institucional do Executivo. Estamos entrando na era do sub-presidencialismo”, observou um dos analistas consultados pelo levantamento.

Participaram desta edição do Barômetro 12 casas de análise de risco político (4E Consultoria, BMJ Consultores, Control Risks, Eurasia Group, MCM Consultores, Medley Global Advisors, Patri Políticas Públicas, Prospectiva Consultoria, Pulso Público, Tendências Consultoria e XP Política) e três analistas independentes (Antonio Lavareda, do Ipespe; Carlos Melo, professor do Insper; e Thomas Traumann, jornalista e consultor político). Conforme combinado com os colaboradores, os resultados são divulgados de forma agregada.

O levantamento mostra que continua ruim a percepção dos analistas sobre a relação entre Executivo e Legislativo. E na avaliação da maioria, 80%, as coisas tendem a continuar nesta toada ao longo dos próximos seis meses. Apenas 7% esperam uma melhora, enquanto 13% ainda veem espaço para uma piora na relação entre os Poderes.

Gráfico 3: A relação entre Executivo e Legislativo

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Gráfico 4: O futuro da relação entre Executivo e Legislativo

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“A indicação de Flávio Bolsonaro irá tensionar mais a relação do Executivo com o Legislativo”, observou um dos analistas consultados. O deputado federal, foi indicado pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro, para assumir a embaixada brasileira em Washington, um dos postos mais cobiçados da diplomacia brasileira.

A indicação precisa ser submetida a aprovação pela Comissão de Relações Exteriores e o plenário do Senado Federal. Os analistas políticos consultados pelo Barômetro se dividem sobre as chances de tal cenário se confirmar, embora a maioria atribua probabilidade “média” ou “alta”.

Gráfico 5: As chances de Eduardo Bolsonaro ficar com a embaixada

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O Barômetro do Poder também ouviu as avaliações dos analistas políticos sobre a qualidade da relação entre os demais Poderes. No caso de Executivo e Judiciário, houve um recuo, de 33% em junho para atuais 7%, no grupo dos que classificam a relação como “ruim”. Ao mesmo tempo, cresceram os que avaliam como “regular”: de 67% para 93%.

Um ambiente melhor é observado nas relações entre Judiciário e Legislativo. O levantamento mostra que 40% classificam como “ótimas” ou “boas”, 47% como “regulares” e 13% como “ruins”. Apesar da fotografia mais favorável, o resultado é um pouco pior do que o observado em junho.

Gráfico 6: A qualidade da relação entre Judiciário e Congresso

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Apesar da preocupação do governo em manter a base bolsonarista mobilizada e incentivar o uso de mecanismos de uma gestão mais conectada com o eleitorado em alguns aspectos, analistas políticos veem um apoio “médio”, 60%, ou “baixo”, 33%, da sociedade à atual administração. Passados os primeiros meses de lua de mel, Bolsonaro tende a enfrentar maiores dificuldades em manter seu eleitorado ativo ao longo de todo o mandato.

Gráfico 7: O apoio da sociedade ao governo

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.