Com polêmica, Bolsonaro inflama audiência digital, mas mantém base distante da Previdência

Apesar da repercussão majoritariamente negativa nos veículos de imprensa, o saldo até o momento do ocorrido não é de dispersão da base bolsonarista ou fortalecimento de movimentos contrários ao presidente

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – As polêmicas postagens e o compartilhamento de vídeo obsceno pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre um episódio ocorrido neste Carnaval inflamou as redes sociais e gerou repercussão mundo afora. O caso provocou críticas e comentários intensos no meio político e trouxe o Brasil de volta ao clima de outubro de 2018, quando o militar reformado derrotava Fernando Haddad (PT) na corrida presidencial em um ambiente marcado pela polarização.

Apesar da repercussão majoritariamente negativa nos veículos de imprensa, o saldo até o momento do ocorrido não é de dispersão da base bolsonarista ou fortalecimento de movimentos contrários ao presidente. Ao menos, na ótica do jornalista Manoel Fernandes, diretor da BITES Consultoria, especializada no monitoramento da opinião pública digital.

“Bolsonaro reanimou parte da sua audiência digital pouco entusiasmada com debates sobre economia, como a reforma da Previdência, e que se ressentia de debates mais inflamados em torno de uma agenda de costumes”, analisa Fernandes. Para ele, a despeito da forte reação provocada, não é possível falar no ganho de força de um movimento antibolsonaro.

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De acordo com levantamento da BITES, Bolsonaro ganhou 194.485 seguidores em seus perfis oficiais no Facebook, Twitter, Instagram e Youtube entre terça-feira (5) e a manhã desta quinta-feira (7). No mesmo período, os internautas brasileiros produziram 49,8 milhões de tweets.

As palavras-chave “Bolsonaro” ou “presidente” foram utilizadas em 2,1 milhões de posts. A hashtag #BolsonaroTemRazao foi utilizada em 543.563 tweets. A segunda de maior propagação (#impeachmentbolsonaro) alcançou 242.094 posts.

“Os números mostram que a propagação de defesa foi mais intensa que os ataques. A base bolsonarista não dispersou. Ele pode ter provocado estanhamento no eleitor mais anti-PT, que silenciou”, observa.

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“Foi um ato vexatório? Foi. Mas o sentimento de reação não extrapolou as fronteiras tradicionais de oposição a ele”. Para o especialista, o silêncio tácito de uma parcela dos que votaram em Bolsonaro, mas discordam de suas postagens, reforça a ideia de que o sentimento antipetista ainda não arrefeceu. 

“As pessoas ficam muito impactadas pelo fato em si. O fato em si é muito grave. Mas ele perdeu adeptos? Não. O tweet nos colocou de volta em outubro de 2018. O problema é se o país vai aguentar isso de maneira contínua”, pontua.

Na avaliação de Fernandes, apesar de não sofrer os impactos que poderiam ser imaginados à sua imagem pela dimensão do episódio em um primeiro momento, Bolsonaro ainda não cumpriu tarefa fundamental para o êxito de uma de suas prioridades neste início de mandato: a aprovação da reforma da Previdência.

“O governo não está conseguindo impor, dentro desse universo, agenda necessária para o país, que é a reforma da Previdência. Essa base específica que reagiu rapidamente em defesa a ele não foi iluminada sobre a necessidade da reforma”, afirma o especialista.

“A comunicação oficial não chegou até eles ou tem se demonstrado pouco eficaz. Bem treinados, podem ajudar bastante na votação no Congresso, pressionando parlamentares contrários ou indecisos”, complementa.

Para ele, o envolvimento direto de Bolsonaro na mobilização de seu exército nas redes é condição fundamental para a reforma. “Essa base fica completamente enlouquecida com essas questões morais. Mas há uma coisa mais importante, que são as reformas”.

Já o analista político Leopoldo Vieira, da consultoria Idealpolitik, diz que, com as polêmicas postagens, Bolsonaro dobra a aposta na polarização da sociedade como instrumento de governabilidade. “Bolsonaro precisa de apoio para, hipoteticamente, defender-se de pressões. É o que lhe garante o piso mínimo para não ter um destino como o de Dilma Rousseff”, diz.

Ele acredita, contudo, na manutenção de empenho tímido para a aprovação de uma reforma robusta pelo parlamento, em linha com as concessões sinalizadas a jornalistas na semana passada. “É importante ressaltar que o governo parece se enxergar como já tendo cumprido a promessa de reforma da Previdência aos investidores”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.