Simone Tebet: surge a candidatura que pode derrotar Renan Calheiros na presidência do Senado

Líder do MDB na casa ganha força como "plano B" ao favoritismo de Renan e é vista como nome mais favorável ao governo Jair Bolsonaro

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em meio ao desconforto de alguns parlamentares e parte da opinião pública com a possível candidatura de Renan Calheiros (MDB-AL) à presidência do Senado Federal – cargo que ocupou por quatro vezes –, começou a ganhar força na casa legislativa uma espécie de “plano B”. Ontem, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), líder do partido na casa, anunciou que disputará a indicação da sigla para a disputa pelo comando da Mesa Diretora. O nome da parlamentar é visto como mais favorável ao Planalto, em contraste com a imagem hostil que seu principal adversário carrega.

“Coloco minha candidatura em defesa da independência, da autonomia, da soberania do Senado, que será a ponte de travessia para todas as saídas econômicas, sociais, regionais e políticas para o País. É preciso resgatar e fortalecer o papel constitucional do Senado Federal. Além disso, devemos absorver o recado das urnas, que clamou por renovação na política e, consequentemente, no Senado”, afirmou a senadora em nota.

“É um novo tempo, são novos ventos. É hora de olhar para a frente e nos reinventarmos, sob pena de sucumbirmos. Há um clamor por renovação. Por isso, coloco a minha candidatura na bancada”, complementou.

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A vinculação de Renan Calheiros à chamada “velha política” tem sido usada como um dos principais argumentos contrários à sua candidatura. O alagoano foi alvo de 18 inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal), sendo 9 arquivados. Até o momento, ele nega interesse em se candidatar, mas nos bastidores tem feito contatos com parlamentares para tentar se viabilizar na disputa. O bom relacionamento com os pares é uma de suas grandes armas.

Em seu perfil no Twitter, o senador ontem publicou: “Olha, não quero ser presidente do Senado. Os alagoanos me reelegeram para ser um bom senador, não presidente. Já fui várias vezes, em momentos também difíceis. A decisão caberá à bancada, e temos outros nomes”. Os emedebistas se reunirão em 29 de janeiro para decidir sobre seu representante na disputa.

A seu favor, Renan Calheiros também conta com decisão do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, que derrubou liminar concedida pelo ministro Marco Aurélio Mello que determinava voto aberto nas eleições para o comando do Senado. Na prática, isso tira dos parlamentares eventual constrangimento público de apoiar o emedebista. O que se diz é que Renan só será candidato se avaliar que tem chances consideráveis de vencer.

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Pela praxe do Senado, o presidente costuma vir da indicação da maior bancada eleita, recebendo aval da maioria do plenário na eleição, mas não há regra que determine a prática. Na legislatura que começa em fevereiro, o MDB terá 12 dos 81 assentos da casa, 3 a mais que o PSDB, segunda maior bancada. O que coloca Renan à frente de adversários de outras legendas, como Álvaro Dias (Podemos), Davi Alcolumbre (DEM-AP), Esperidião Amin (PP-SC), Major Olímpio (PSC-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). O mesmo motivo, contudo, dá força para o nome de Simone Tebet, uma via alternativa a Renan e do partido que controla a maior bancada da casa.

Para ganhar espaço na disputa, Renan Calheiros tenta mostrar simpatia ao governo Jair Bolsonaro e à agenda de reformas econômicas e costumes a ser implementada. Recentemente, o parlamentar buscou aproximação com o ministro Paulo Guedes (Economia) e indicou boa vontade com o esperado texto de reforma previdenciária a ser encaminhado no próximo mês. O realinhamento ao novo eixo de poder não representa um desafio ao experiente senador.

O presidente Jair Bolsonaro defende que o governo não apoie publicamente nenhuma candidatura para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Apesar disso, o nome de Renan é avaliado por aliados do presidente como uma possível pedra no sapato, mesmo após os acenos feitos pelo parlamentar até aqui.

Ao contrário do que aconteceu na Câmara, com o apoio declarado à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), o PSL, partido do presidente, optou no Senado por lançar uma candidatura própria: a de Major Olímpio, a despeito de ter sido eleito para o primeiro mandato na casa. O “recruta”, como se autointitulou na nova missão, diz que mantém o diálogo com possíveis candidatos e diz acreditar na possibilidade de união em torno de um nome. Uma eventual composição com o emedebista, contudo, não está no horizonte neste momento. Simone pode ser o “plano B” que o grupo anti-Renan procurava.

As chances de Simone Tebet

Conforme mostrou a primeira rodada do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila projeções dos especialistas das principais casas de análise política em atividade no país sobre temas relacionados ao governo federal, mostra que a leitura majoritária é que Renan Calheiros é o nome mais forte na disputa. Mas, como mostra o gráfico abaixo, 1 dos 7 analistas consultados vê Simone Tebet como favorita.

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O levantamento foi feito entre os dias 14 e 16 de janeiro e contou com a participação 5 casas de análise (Control Risks, Eurasia Group, MCM Consultores, Prospectiva e XP Política) e 2 analistas independentes (Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe; e Carlos Melo, professor do Insper). Conforme combinado com os colaboradores, os resultados são divulgados de forma agregada, sendo mantido o anonimato das respostas.

“Renan hoje é quem aglutina uma força maior, de fato. Esses outros nomes de oposição a ele que aparecem, como Tasso Jereissati, Major Olímpio, Simone Tebet, Davi Alcolumbre estão tentando se tornar protagonistas contra a candidatura de Renan, mas ainda sem um grande consenso entre eles porque não há ainda uma grande força”, observa o analista político Paulo Gama, da XP Investimentos. Ele participou do programa Conexão Brasília da última sexta-feira (18).

“Se alguém despontasse como grande rival, com força para bater de frente, fatalmente os outros senadores fatalmente abririam mão de suas postulações para apoiar. O próprio Major Olímpio deixa isso razoavelmente claro quando diz que sua candidatura não é uma questão de vida ou morte. Fala-se muito na Simone [Tebet], por conta da proporcionalidade de o MDB ter a maior bancada do Senado. Se o próprio partido decidisse lançá-la, acho que esses outros candidatos cederiam”, complementou.

Em meio a uma disputa ainda incerta, Gama chama atenção para a importância do processo de condução da eleição, marcada para 1º de fevereiro: “Quem preside a sessão de eleição é o membro da mesa anterior que não tenha renovado mandato. Neste caso, a prerrogativa de presidir seria do Davi [Alcolumbre]. Ele é candidato e, apesar disso, está disposto a presidir a sessão mesmo assim e a prerrogativa para decidir questões de ordem é de quem está presidindo a sessão”.

Na prática, o senador do DEM é o árbitro e jogador simultaneamente. E, como há regras do jogo ainda em aberto, o posto é de extrema relevância para o resultado do processo. A título de exemplo, há pouco mais de um mês, o presidente da casa Eunício Oliveira (MDB-CE) acolheu uma questão de ordem do então senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e decidiu que será eleito seu sucessor aquele que obtiver 41 votos, entre os 81 senadores. Até então, a regra era vitória a quem levasse mais voto, sem necessidade de segundo turno.

Nos bastidores, circula a possibilidade de se apreciar um pedido para a votação ser aberta, a despeito da nova posição do STF. Em sendo presidente da sessão, a responsabilidade de condução do debate seria de Alcolumbre, o que poderia impor a Renan uma derrota. “Isso dá um pouco mais de trabalho, porque teve uma decisão de Toffoli, mas Davi entende que a decisão do plenário é soberana. Então, tem-se a situação em que se ele estiver disposto a tocar essas questões à frente mesmo, pode complicar um pouco o jogo”, observa Gama.

Outros adversários tentam antecipar o anúncio de Renan como candidato, com objetivo de gerar constrangimento e pressão popular contra seu nome. A despeito do favoritismo, o emedebista ainda tem obstáculos a enfrentar para voltar ao comando da casa.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.