De ‘risco-Bolsonaro’ a reforma bancária: A sabatina de Haddad ao Roda Viva em 13 pontos

Candidato à presidência pelo PT, Haddad insistiu na estratégia de contrastar Bolsonaro com a democracia, falou sobre propostas para a área econômica, reconheceu erros de seu partido mas defendeu o legado

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A seis dias do segundo turno das eleições, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT), candidato à presidência da República, esteve no programa Roda Viva, da TV Cultura, para uma sabatina de pouco menos de 50 minutos com jornalistas.

Na entrevista, transmitida ao vivo na noite da última segunda-feira (22), o petista voltou a dizer que seu adversário, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), não tem cultura democrática e representa um risco ao Brasil. Haddad também reconheceu erros cometidos por seu partido em gestões anteriores, mas disse que legado positivo não pode se perder no tempo.

O candidato também tratou do caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falou sobre economia e fez acenos a lideranças políticas para a construção de alianças. Seu adversário, Bolsonaro, também foi convidado a participar do programa, mas recusou.

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Eis um resumo do programa em 13 eixos principais:

1. Risco-Bolsonaro

“Meu adversário é uma pessoa que cultua a tortura, que tem como principal herói o torturador mais bárbaro da ditadura militar, uma pessoa que diz a uma colega de trabalho no parlamento que só não a estuprava porque ela não merecia, uma pessoa que trata quilombola como alguém medido em arroba, como se fosse gado e diz mais: que os quilombolas que conheceu sequer servem para procriar; uma pessoa que não perde a oportunidade de ofender a mulher, que falou que os nordestinos deveriam comer capim. (…) Penso que as qualificações dele não o habilitam para governar o país em tempos democráticos”.

“O que temos que fazer durante uma campanha eleitoral é alertar. Você acha que os sociais-democratas alemães erraram ao alertar sobre a ameaça da chegada ao poder do Hitler ou do Mussolini ou do Franco? Foi um erro deles alertar? Estou dizendo que Bolsonaro não tem cultura democrática. Isso está provado em centenas de vídeos. Está faltando evidência de que ele não tem apreço pela democracia?”

2. Frente democrática

“Não penso que tenha fracassado. Hoje, por exemplo, Marina Silva, por meio de rede social, declarou apoio explícito à minha candidatura. (…) Cid Gomes, depois daquela aresta em um encontro do PT, mandou dois vídeos, dizendo que não há alternativa democrática à minha candidatura e rechaçando a candidatura do meu adversário, que todos os democratas consideram uma ameaça. Inclusive Fernando Henrique, que não pode declarar voto em mim, em função de questões relativas ao seu próprio partido, tem manifestado certo inconformismo com uma pessoa da qualidade de Bolsonaro estar liderando as pesquisas. Todo mundo que lutou por democracia sabe dos riscos que o Brasil está correndo com uma pessoa que está se cercando quase que de uma milícia, incluindo seus próprios filhos, ameaçando o país e as instituições. (…) As coisas que ele verbaliza são contrárias a toda a tradição liberal e republicana que estamos tentando construir no Brasil”.

3. Ciro Gomes

“Sempre considerei Ciro um grande quadro político. Eu era dos petistas que cogitava que o PT, sim, podia apoiar Ciro à presidência da República se houvesse uma aproximação maior. Os partidos (PDT e PT) estavam muito afastados e cheguei a ligar para o Carlos Lupi e sugerir uma visita dele ao Instituto Lula para falar com o presidente, o que aconteceu ainda em fevereiro deste ano. Mais tarde, em abril, conversei com Roberto Mangabeira Unger, que é um dos gurus do Ciro Gomes, professor de Harvard. Eu dizia: ‘por que não pensar em uma chapa Lula-Ciro e, em caso de Lula ser impugnado, Ciro poderia até assumir a liderança dessa chapa’. Sempre agi com muito desprendimento com relação a isso porque acho que o que está em jogo no Brasil é tão sério que projetos pessoais jamais poderiam se impor sobre qualquer outro interesse que não fosse o interesse nacional. Acho que Bolsonaro é uma ameaça ao interesse nacional e ao interesse popular. (…) Ciro sabe de tudo isso. Eu esperava e espero que Ciro dê um alô, de onde estiver, porque é muito importante para o Brasil que ele se manifeste publicamente. Aguardo ansiosamente seu aceno, porque precisamos ganhar a eleição e governar juntos o Brasil”.

4. Nova Constituinte

“Quando deu uma confusão a respeito da redação sobre a reforma constitucional, nós imediatamente retiramos do programa para deixar claro que a reforma constitucional é sempre liderada pelo Congresso Nacional”.

5. Antipetismo

“Sempre houve antipetismo, desde o nascimento do PT. Hoje essa rejeição é um pouco maior, em função de tudo que aconteceu, de 2014 pra cá. Assumimos que houve erros na condução de alguns assuntos importantes para o país, fiz críticas públicas à questão da Petrobras. Acho que os controles que exercemos sobre os ministérios não foram replicados nas estatais. (…) Temos que assumir que houve problemas, mas sempre insisto em dizer: não é possível jogar a criança com a água do banho. O projeto que o PT representa de emancipação das pessoas, de combate à pobreza, de respeito ao trabalhador não pode se perder no tempo”.

6. WhatsApp

“Todo dinheiro que favorece uma candidatura que não é contabilizado no TSE é caixa dois. Se nós tivéssemos feito a apreensão e identificado a fonte de pagamento, poderíamos ter pedido uma prisão preventiva, porque essa pessoa está violando um princípio democrático. Houve juízes que disseram que o caixa dois é um crime ainda mais grave do que a corrupção, porque ela coloca em risco a democracia. Essa frase não é minha, é de Sergio Moro. Se isso é verdade, por que não aplicar o mesmo critério nesse caso?”

“Um único contrato era de R$ 12 milhões, a R$ 0,04 a mensagem. Quantos milhões de brasileiros receberam mensagens caluniosas a meu respeito e de minha vice? A estimativa que se faz hoje é que só contra Manuela D’Ávila foram emitidas 13 milhões de mensagens pagas com dinheiro de caixa dois”.

“Caso a pessoa fosse identificada, a Justiça tinha que tomar providências para evitar o pior. Estávamos a 10 dias da eleição, suponha que você identifique o empresário que colocou R$ 12 milhões em uma campanha sem declarar. Vamos passar a mão na cabeça? Vamos jogar fora todo o esforço que o Brasil fez até agora a mando de quê?”.

7. Lula

“Considero Lula o melhor presidente da história do país. Acho que ele foi injustiçado e espero que a Justiça reveja sua sentença. Li o processo de cabo a rabo, não achei uma única prova que desse consistência para uma sentença condenatória e acho que os tribunais superiores terão a oportunidade de fazer a reparação. Não tenho nenhum problema com isso, jamais vou negar minha filiação, minhas relações pessoais, meus apoios. Faço isso com total transparência”.

“O que o presidente Lula quer é um julgamento justo nas cortes superiores a que tem direito. Não está pedindo favor nenhum, não está querendo ser tratado de maneira distinta de qualquer outro cidadão. A mudança de jurisprudência [da prisão após condenação em segunda instância] aconteceu em 2016, pelo visto com vistas ao caso dele. Estão sendo feitas revisões do entendimento do STF sobre várias coisas: condução coercitiva, sigilo de grampo telefônico, delação premiada. O que ele está pedindo é o seguinte: zelar para que as cortes superiores façam um julgamento apartidário, com base nos autos. Não acho que está pedindo demais”.

8. Mercado

“Há grandes especuladores no mercado que lidam com muito dinheiro. Pouca gente sabe, mas fui analista de investimento do Unibanco por quase dois anos. Eu trabalhava do lado de mesas de operações. Os movimentos especulativos geralmente prejudicam o pequeno poupador. Aquele que tem um volume grande de recursos usa da boa fé das pessoas para ganhar dinheiro”.

9. Privatizações

“Não tenho nenhuma estatal em meu radar para ser vendida. Meu adversário falou que vai vender todas as estatais criadas pelo PT. Eu criei uma, que gerencia os 47 hospitais universitários. Melhorou enormemente. Você vai vender a empresa de hospitais universitários? Pra quem? E as universidades vão ter cenário de prática onde? Vão ter que alugar leito hospitalar para capacitar nosso médicos?”

10. Herança econômica

“Hoje estamos em um grau superior ao herdado do governo Fernando Henrique Cardoso e vocês não chamavam o Brasil de lixo à época. Hoje, a classificação do Brasil é superior à da época. E não estou criticando aqui Fernando Henrique. Porque ele estabilizou a economia, tem seus méritos. Depois também cometeu equívocos na política econômica. Ele pegou um país com hiperinflação, estabilizou a moeda. Errou onde? No câmbio. Todo mundo avisando que ele estava errado no câmbio, errou, perdeu a eleição em 2002. É da democracia. Governos erram e acertam. Dilma errou quando começou a querer administrar a inflação e emprego com base em preço público. Desoneração. Foi alertada. Depois, quando tentou corrigir, o que aconteceu? A oposição começou a sabotar a correção”.

11. Pautas-bomba

“Hoje conversei com Tasso Jereissati, porque disseram que eu não entendi a mensagem que ele disse no primeiro turno. Ele próprio dizia: ‘Dilma errou, mas nós reincidimos. Nós também erramos ao aprovar as pautas-bomba de Eduardo Cunha’. A crise não seria do tamanho que foi se não tivesse havido uma crise política envolvendo Temer e Cunha”.

12. Agenda econômica

“O que proponho é uma reforma bancária. Dilma não fez uma reforma bancária. O que foi feito foi usar os bancos públicos para reduzir artificialmente o spread, e isso eu não estou propondo. Alckmin estava propondo uma reforma bancária, depois que colou em meu programa. Se nós não fizermos, nunca vamos nos tornar uma sociedade capitalista moderna, porque não existe sistema de crédito no Brasil. Com 300% de juros do cratão de crédito, 120% do cheque especial, 40% do capital de giro, não tem empresário que consiga ter lucro suficiente para pagar o banqueiro. Uma reforma bancária é essencial. Desregulamentar o setor, apoiar cooperativas e fintechs, sobretaxar os bancos que cobram spread abusivo não tem nada a ver [com a agenda de Dilma]“.

“A questão do gás é uma questão completamente diferente: estou pegando um item, que representa 4% do faturamento da Petrobras e dizendo que este item vai entrar na cesta básica, porque é fundamental para as famílias pararem de cozinhar à lenha ou à álcool, com os prejuízos inclusive para a saúde pública. Tem hospital lotado com gente queimada. Falar que o gás vai ter um tratamento específico do governo… Senão, você vai dizer que o subsídio dado ao diesel pelo governo Temer lembra Dilma, e não é verdade”.

13. Banco Central

“O BC também será responsável pela reforma bancária. O BC vai ter que fazer, em meu governo, reforma bancária. Não vai ser capturado por banco mais. Porque o BC hoje fala que é independente, mas, na verdade, do mercado ele não tem independência nenhuma, ele sempre foi capturado pelo interesse dos bancos. Além de controlar a inflação pela Selic, o Banco Central terá a obrigação de apresentar ao país a reforma bancária que nunca apresentou. Porque o Cade não cuida de banco, de concentração bancária. Na minha opinião, ou bem o BC transfere para o Cade a questão da concentração bancária e deixa o Cade cuidar exigindo uma desconcentração ou abertura do mercado para novos bancos ou ele apresenta uma reforma bancária”.

“O [programa de governo inicial] passou a impressão de que o governo teria ingerência sobre a fixação da Selic, e não: o governo fixa a meta e quem busca a meta é o Banco Central no gozo de sua autonomia”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.