Apesar de Paulo Guedes, mercado tem motivos para se preocupar com Bolsonaro

Alicerces da coalizão de Bolsonaro têm disputas internas marcadas para a construção da agenda legislativa em caso de vitória nas urnas

Marcos Mortari

(Divulgação)

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SÃO PAULO – A eleição presidencial entra na reta final com Jair Bolsonaro (PSL) em ampla vantagem em relação a Fernando Haddad (PT). A depender das indicações das pesquisas, o militar da reserva tem grande favoritismo na disputa. Neste contexto, começam as especulações sobre como seria um eventual governo seu e quais seriam as condições políticas de implementação de uma agenda de reformas sonhada pelos agentes econômicos.

Para projetar este cenário, o programa Conexão Brasília da última semana recebeu Suelma Rosa, vice-presidente do conselho deliberativo do Irelgov (Instituto de Relações Governamentais). Para a especialista, ainda há uma série de pontas soltas que precisam ser levadas em consideração por todos que acompanham o jogo político nacional.

“Ao longo do processo, à medida que Bolsonaro foi conquistando apoiadores e crescendo nas intenções de voto, foram se somando à campanha dele diferentes atores. Pensando no potencial cenário de governo Bolsonaro, vemos um espaço ainda por compreender de como os quatro pilares de sua campanha vão interagir”, observou Suelma.

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Para a especialista, os alicerces da campanha do candidato líder nas pesquisas se dividem entre o agronegócio, lideranças evangélicas, militares e o mercado financeiro. Como em qualquer governo, ela espera que, caso Bolsonaro seja eleito, na medida em que se iniciem as articulações políticas para a implementação de uma agenda, as diferenças entre esses grupos se explicitem.

A cada pauta incluída ou excluída da lista de prioridades, atritos terão de ser arbitrados. É aí que deve residir um foco de preocupação do mercado: quão comprometido com uma agenda de reformas e com a saúde das contas públicas estaria Bolsonaro? Quais seriam suas condições políticas de implementar as medidas esperadas pelos agentes econômicos?

“Ainda não conseguimos antecipar [como será] a relação entre esses pilares. Na hora em que se evidenciarem conflitos de interesses e percepções entre esses grupos, quem vai mediar? Vai ser o próprio Bolsonaro? E, se fizer, vai favorecer qual grupo: o que o apoiou historicamente, dos militares, ou o que viabilizou sua candidatura para o setor privado, de economistas liberais?”, questionou.

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“Um dos trade-offs presentes nessa agenda é, para melhorar a percepção de segurança, não será suficiente alterar a legislação sobre armamentos, serão necessários investimentos em tecnologia, infraestrutura e em salário das forças policiais. Isso tudo exige investimentos do governo, que neste momento não se faz presente, principalmente para o mercado, que espera que essa seja uma administração responsável fiscalmente, que tente restabelecer metas de superávit primário e que tente dar resultados de curto prazo para desafios de política econômica. A gente vai ver qual vai ser a disputa entre o responsável pela segurança e o superministro Paulo Guedes, lutando pelas forças liberalizantes do governo”, complementou.

Mesmo a surpresa com as eleições para o Legislativo, onde Bolsonaro conseguiu construir a segunda maior bancada partidária, não é suficiente para garantir um quadro de confortável governabilidade e certeza de êxito com reformas econômicas demandadas pelos agentes econômicos.

O PSL foi de 8 deputados para 52 na próxima legislatura, mas isso corresponde a apenas 10,01% da Câmara. No Senado, o partido que hoje não tem nenhum representante passará a ocupar 4 assentos, ou seja, 4,94% da casa. Há expectativas de que a cláusula de barreira e a possível vitória do militar da reserva incentivarão migrações partidárias, o que tende a inflar sua sigla. Mesmo assim, para construir maioria, Bolsonaro precisará de muito mais do que seu próprio partido. E os movimentos para a construção de uma base sólida ainda não estão claros.

“Se, por um lado, nas forças que são base da campanha, já não está claro como os conflitos de interesses entre elas vai ser mediado, menos ainda como vai ser essa formação da coalizão de maioria dele. Bolsonaro, ainda que não tenha sido de fato um deputado expressivo, conhece o Congresso por dentro e sabe como funciona o sistema. Talvez ele não tenha a habilidade que o presidente Michel Temer tenha demonstrado ao longo de sua carreira, mas ele conhece a lógica. Ele sabe que, para formar essa coalizão, vai precisar barganhar. Ele pode fazer de maneira programática, que sonhava fazer Marina Silva. O Congresso nunca se comportou assim, é difícil antever esta postura programática”, avaliou Suelma.

Também há grandes desafios entre seus correligionários. “O PSL é uma massa amorfa de recém-eleitos que não têm identidade ainda. A única identidade foi associar sua imagem a Bolsonaro no processo eleitoral. Então, o primeiro desafio é a sigla se estruturar como partido e como burocracia. Em segundo lugar, quem são essas lideranças, quem são essas vozes? O partido ainda precisa criar uma identidade que não sei se é o L do PSL. Não sei se todos esses novos parlamentares eleitos se unem pela identidade liberal”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.