Fernando Haddad: como pensa o vice de Lula e possível “plano B” do PT para as eleições?

Coordenador do programa de governo do PT, Haddad já era favorito na disputa. Agora, ganha ainda mais força para substituir Lula em caso de impugnação

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Depois de muitas idas e vindas, o PT bateu o martelo sobre sua chapa para a corrida presidencial. Como esperado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há quatro meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, representará a sigla na disputa, acompanhado por Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e atual coordenador do plano de governo da candidatura, que agora ocupa a vice. Como Lula está inelegível e corre risco de ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, nos bastidores o partido intensificou o movimento em direção a um “plano B”. Haddad, que já era o nome mais cotado para assumir a candidatura após eventual impugnação do nome de Lula, agora aparece como candidato quase certo.

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Perto do limite para a confirmação das chapas, estabelecido depois de 24h do prazo para a realização de convenções (5 de agosto), o PT encerrou o período pré-campanha com uma aliança formal com PROS, PCO e PCdoB, além de conquistar a neutralidade do PSB, que ameaçava apoiar Ciro Gomes (PDT). Durante todo o domingo, o partido tentou um acordo com os comunistas, que só foi se confirmar ao final de um processo de intensa negociação.

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O PCdoB, que tinha Manuela D’Ávila como candidata aceitou desistir do plano e ingressar em uma chapa petista. O acordo, firmado nas últimas horas do domingo, prevê que os comunistas ocupem a vice da candidatura encabeçada pelo PT caso Lula seja impedido de disputar, o que na prática representou a deflagração de um “plano B” que petistas apenas admitiam nos bastidores.

Com os movimentos recentes, ficou mais clara a aposta do partido de que Haddad seria o melhor nome para herdar a candidatura após um esperado impedimento de Lula. Embora sustentem a narrativa de que insistirão na candidatura do ex-presidente, hoje líder nas pesquisas eleitorais, quadros do PT já reconhecem que a chance de vitória nesta batalha é remota. Oficialmente, a tendência é o discurso se manter, o que é coerente com a estratégia do partido.

Pesquisas internas no PT mostram que o eleitorado que se identifica como “lulista” ainda não topa pensar em outra candidatura, mesmo que seja um nome do PT. O lulismo não se vê representado por nenhum plano B, até porque desconhece os nomes mais cotados no PT para substituir Lula e expressa sentimento de traição quando se fala em colocar alguém no lugar do ex-presidente. Para o partido, o jeito mais fácil de driblar essas dificuldades é mostrar ao eleitor que a sigla lutou até as últimas possibilidades jurídicas para que o ex-presidente fosse candidato.

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Por que Haddad?

Para além das avaliações de curto prazo, o nome de Haddad hoje ganha ainda mais favoritismo para pegar o bastão da candidatura petista em algum momento antes de 17 de setembro, limite estabelecido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para a substituição de candidaturas. Alguns elementos dão sustentação ao nome de Haddad. O fato de ser de São Paulo, maior colégio eleitoral do País, e ter governado a capital do estado por 4 anos ajuda, embora tenha saído derrotado em primeiro turno da disputa pela reeleição, em 2016, ajuda na tática do partido.

São Paulo também é estratégico por representar a cidadela de Geraldo Alckmin (PSDB), adversário com maior estrutura de campanha nesta corrida presidencial. Apesar do tempo como governador do estado, o tucano não detém a preferência da maioria dos paulistas na disputa até o momento. Segundo pesquisa Ibope divulgada ontem, Lula lidera o pleito no cenário de primeiro turno em que sua candidatura é considerada, com 23% das intenções de voto, tecnicamente empatado com o deputado Jair Bolsonaro (PSL), com 18%. Alckmin, por sua vez, tem a preferência de 15%. A margem de erro máxima é de 3 pontos percentuais para cima ou para baixo.

A escolha de um nome do estado pode ajudar a candidatura petista a manter parte dos votos que Lula hoje detém, somando pontos em terreno adversário. Haddad não é um nome com força no Nordeste, mas o peso do lulismo pode mover pedras. Além disso, a conquista da neutralidade do PSB, que antes negociava com a candidatura de Ciro Gomes (PDT) dá importante vantagem ao PT. Com o quadro de inelegibilidade de Lula, Haddad é tido como o “plano B” do PT para a eleição presidencial, embora negue tal hipótese.

Mas, afinal, como pensa Haddad?

Graduado em Direito pela USP, onde também fez mestrado em Economia e doutorado em Filosofia, Haddad tem participação relevante no setor público. Integrou o Ministério do Planejamento na época da elaboração do projeto que instituiu as Parcerias Público-Privadas no Brasil, durante a gestão de Guido Mantega na pasta. Foi ministro da Educação entre 2005 e 2012 e prefeito de São Paulo entre 2013 e 2016. No PT, Haddad cresceu nos últimos anos e conseguiu, recentemente, romper importantes resistências, o que acabou acompanhado por sua migração para a CNB, corrente majoritária petista, o mesmo grupo de Lula. Haddad é visto por pares como quadro moderado, aberto ao diálogo e, nos últimos meses, ganhou protagonismo como interlocutor de Lula e coordenador do programa de governo da campanha petista à presidência.

Em entrevista concedida ao InfoMoney na última segunda-feira (30), Haddad apresentou algumas das ideias que ele e seu partido têm para o País. Durante a conversa, reconheceu equívocos cometidos pelas gestões petistas à frente da presidência; defendeu uma reforma tributária que onere menos o consumo e as camadas mais pobres da população, em detrimento a grandes heranças, lucros e dividendos; sustentou a criação de uma política de incentivos à redução de spreads bancários e punição a instituições financeiras que mantenham taxas elevadas; advogou por políticas de controles externos e maior cautela no uso do mecanismo das delações premiadas e na concessão de benefícios a corruptores; além de reconhecer a necessidade de se promover mudanças na Previdência Social e argumentar em favor da retomada de investimentos públicos.

Confira a íntegra da entrevista, concedida quando Haddad ainda não era oficialmente o vice de Lula (e possível herdeiro da candidatura):

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.