Campanha eleitoral deve começar com Bolsonaro líder e empate quádruplo entre candidatos, diz Antonio Lavareda

Para cientista político, mais importante que o jogo de adivinhação em torno da candidatura do PT, as atenções deveriam se voltar ao poder de transferência de votos de Lula ao possível herdeiro

Marcos Mortari

Style: "Neutral"

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SÃO PAULO – É implausível imaginar que a possível candidatura que venha a substituir o ex-presidente Lula na disputa presidencial pelo PT mantenha patamar de apenas 3% das intenções de voto ao longo do pleito. A leitura é do sociólogo e cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe, que acredita que o cenário que deverá se sobrepor no início do período de campanha será o de um empate quádruplo na segunda posição, com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) largando na pole position.

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O especialista acredita que, mais importante que o jogo de adivinhação em torno do nome do candidato petista (se Fernando Haddad, Jaques Wagner ou qualquer outra opção) à medida em que Lula caminha para ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, as atenções deveriam se voltar ao poder de transferência de votos do ex-presidente a seu possível herdeiro.

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Foi o que começou a testar, desde a semana passada, o Ipespe em pesquisas encomendadas pela XP Investimentos. Segundo o levantamento, o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad pode saltar do patamar de 3% das intenções de voto para 11% somente com a informação de que ele seria o candidato apoiado por Lula (veja o gráfico abaixo). Com isso, o petista ficaria em condição de empate técnico com Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB).

Corria presidencial. Com apoio explícito de Lula a Haddad

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“Uma vez definida a candidatura de Fernando Haddad ou de qualquer outro [nome pelo PT], é esse cenário que deve se impor nos primeiros dias da campanha de TV e rádio: com a liderança de Bolsonaro ainda e um empate quadruplo no segundo lugar”, observou Lavareda em entrevista ao InfoMoney (assista a íntegra pelo vídeo ao final desta matéria).

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“Outras pesquisas já haviam apontado que Fernando Haddad e Jaques Wagner têm praticamente apoio equivalente. O diferencial é o apoio de Lula. Então, fomos direto ao ponto: ‘Fernando Haddad, com apoio de Lula’. E, como se viu, desarruma um pouco o quadro de intenções de voto estabelecido em cenários que não adicionam essa informação. São cenários que terminam produzindo fotografias totalmente destituídas de plausibilidade. Fazer apenas uma fotografia do momento sem esse ajuste termina desinformando a sociedade”, pontuou.

Para o cientista político, à medida que o candidato do petista for apresentado e o partido começar a trabalhar na transferência de capital político de Lula, o nome escolhido poderá superar os 11% atribuídos a Haddad no cenário destacado. Tudo depende da competência da campanha, da imagem construída pelo herdeiro político, além da condição de o ex-presidente fazer campanha mesmo preso há dois meses no âmbito da Lava Jato.

Quem observa as movimentações e discursos de dirigentes e lideranças do PT pode ter a impressão de que Lula terá sua foto nas urnas em outubro. Como muitos têm sustentado, se depender do partido, não haverá alternativa: a sigla irá às últimas consequências com o nome escolhido para representá-lo na corrida presidencial. Por trás da retórica, há uma estratégia política. Já que nenhum nome do partido hoje se aproxima do desempenho de Lula nas pesquisas, pode fazer sentido assumir o risco e manter a candidatura do ex-presidente até as últimas consequências.

Por outro lado, Lavareda acredita que o partido corre riscos ao protelar a indicação de um substituto para Lula. Isso porque eleitores tradicionalmente ligados ao PT poderiam começar a buscar alternativas e se entusiasmar com outros candidatos, o que poderia dificultar a retomada de apoio.

O sociólogo chamou atenção para a eleva rejeição ao governo do presidente Michel Temer como outro fator a potencializar o desempenho de Lula nas pesquisas eleitorais, o que também pode trazer dificuldades para candidaturas da centro-direita, como se observa atualmente.

“Uma das dificuldades naturalmente colocadas para os candidatos do que se chama de centro hoje é exatamente o posicionamento em relação ao governo Temer. Praticamente todas essas forças políticas se posicionaram favoráveis ao afastamento da ex-presidente Dilma”, lembrou. “Naturalmente, quando há governos mal avaliados, isso beneficia inexoravelmente candidaturas de oposição”.

“Antes do impeachment de Dilma, Lula perdia, nas projeções de intenções de voto em todos os institutos de pesquisa, para vários candidatos disso que se convencionou chamar centro-direita. É óbvio que essa retomada do ímpeto e da força eleitoral do ex-presidente está bastante associada à sorte do governo Temer. À medida que aumentou a insatisfação, ele, que é o principal ícone, líder, da oposição ao governo, se beneficia”, explicou.

Quando questionado sobre a possibilidade de um segundo turno polarizado, Lavareda apontou dois possíveis cenários: um alinhado com a tradição de disputa entre PT e PSDB dos últimos seis pleitos presidenciais; outro mais parecido com 1989, quando a multiplicidade de candidaturas viáveis trouxe um ambiente de profunda incerteza ao quadro.

“O Datafolha fez um cenário com 19 candidaturas. Quando você olha toda essa fragmentação e agrega os candidatos deste campo do centro até a direita, excluindo Bolsonaro, eles reuniram a mesma pontuação que Bolsonaro apresentou nesta situação liderada pelo ex-presidente Lula. É a melhor evidência para entendermos o quanto essa fragmentação afeta e poderá vir a afetar a sorte do representante deste campo que podemos chamar de centro ou centro-direita”, diagnosticou.

Confira a íntegra da entrevista:

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.