Ciro com ‘centrão’, PSDB com Marina e Bolsonaro com PR: as inusitadas alianças estudadas para as eleições

Atual momento antecede a etapa das convenções partidárias, que selarão os rumos tomados pelos partidos e as armas de que dispõe cada candidato

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A pouco menos de quatro meses do primeiro turno, a corrida presidencial caminha para seu momento mais importante antes do pontapé oficial do período de campanhas. Daqui até meados de julho, os partidos e candidatos iniciam uma crescente ofensiva de negociações em torno de alianças. A ideia é ocupar a melhor posição possível para as disputas majoritárias e proporcionais na fase que se inicia em agosto com o horário de televisão e os comícios regionais. O atual momento antecede a etapa das convenções partidárias (de 20 de julho a 5 de agosto), que selarão os rumos tomados pelos partidos nessas eleições e as armas de que dispõe cada candidato.

O tipo de coalizão construída terá ampla relevância na definição da força de cada candidatura, sobretudo na corrida presidencial. As alianças ajudam na distribuição do tempo de televisão, na formação de palanques regionais fortes e na consolidação de estruturas partidárias atuando de forma mais ou menos coordenada. Embora meios alternativos tenham conquistado maior relevância na dinâmica eleitoral, as estruturas tradicionais seguem tendo grande importância no processo (como explicado no vídeo do início desta matéria).

Confira as estratégias, movimentações e especulações adotadas pelas 5 principais candidaturas na corrida por alianças:

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Ciro Gomes flerta com ‘centrão’

O ambiente de dificuldades para a unificação dos partidos de esquerda em torno de uma única candidatura na corrida presidencial faz com que o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) abra frentes de operação em outros campos da política. Com as chances reduzidas de o PT abrir mão de um nome próprio na disputa pelo Palácio do Planalto, mesmo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja barrado pela Lei da Ficha Limpa, o ex-governador do Ceará busca uma combinação de alianças que vai desde o PCdoB e PSB na esquerda até legendas do “centrão”, com destaque para PR, do empresário Josué Gomes (Coteminas), PP, do empresário Benjamin Steinbruch (CSN), e DEM, que hoje ainda mantém a improvável candidatura de Rodrigo Maia (RJ), atual presidente da Câmara dos Deputados. Em temos de tempo de televisão, uma aliança com PSB, PP, DEM e Solidariedade poderia render cerca de 2 minutos e 53 segundos à candidatura de Ciro.

Até o momento, não se sabe se as legendas do “centrão” realmente estariam interessadas em um acerto com o pedetistas, possivelmente preocupados com o desempenho ruim de Alckmin na disputa, ou se as ações seriam apenas um gesto para exigir melhores contrapartidas para apoiar a campanha do tucano futuramente. As rotineiras declarações polêmicas de Ciro também são um obstáculo para a confirmação da heterodoxa aliança. Conforme noticiou o site Poder360 ontem, uma colocação do pedetista esfriou a relação com DEM, PP, SD, PRB e PSC. Em viagem à Argentina na sexta-feira, ele disse que, antes de fechar com o “centrão”, precisa acertar a aliança com PSB e PCdoB “para garantir a hegemonia moral e intelectual” da chapa, o que incomodou profundamente o bloco de partidos.

Para a equipe de análise política da XP Investimentos, o cenário mais provável envolvendo a candidatura do pedetista seria uma aliança com PSB e PCdoB, o que, nos cálculos deles, renderia 1 minuto e 30 segundos de tempo de televisão à campanha. A segunda situação com maior chance de acontecer é Ciro não conseguir costurar acordo com partidos de esquerda e apenas ter espaço entre siglas nanicas, isolamento que lhe renderia apenas 33 segundos em rede nacional durante o horário de propaganda eleitoral. O terceiro cenário mais provável seria o de uma aliança de esquerda incluindo o próprio PT, movimento desejado por governadores petistas no Nordeste. Neste caso, Ciro teria 3 minutos e 3 segundos de tempo de televisão. Já a aliança com o “centrão” e sem o PT seria o cenário considerado mais distante, rendendo 2 minutos e 53 segundos na televisão.

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O ‘centro’ com Marina Silva

O risco de fragmentação da centro-direita pró-reformas econômicas ortodoxas entre múltiplas candidaturas elevou o nível de preocupação com um cenário em que o espectro político é excluído do segundo turno da corrida presidencial. Com o mau desempenho de todos os nomes deste campo, crescem as declarações sobre a importância de unificação. Na semana passada, sob o patrocínio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foi lançado o “Manifesto por um polo democrático e reformista”, reunindo alguma lideranças isoladas de PSDB, PPS, PSD, PV, PTB, MDB, DEM, Rede, Podemos e PRB.

Em entrevista ao jornal O Globo na semana passada, FHC elogiou Marina Silva e disse que “a esta altura do campeonato, não convém fechar as portas”. Aliados tucanos são mais enfáticos nos bastidores em busca de um acerto de chapa com a ex-senadora. Marina, contudo, tratou de descartar qualquer possibilidade de um encaminhamento nesse sentido. “De jeito nenhum”, afirmou em sabatina promovida pela rádio Jovem Pan ao ser questionada sobre a possibilidade de ser vice de Alckmin ou tê-lo nessa posição em uma chapa por ela comandada. “Esses partidos se perderam envolvidos em casos graves de corrupção. Precisam de férias e não de ‘fagocitar’ as lideranças políticas que estão surgindo”, disse.

Com voo solo, cenário hoje considerado mais provável, Marina contaria com apenas 8 segundos de tempo de televisão. Além disso, a Rede Sustentabilidade conta com baixa estrutura partidária, capilaridade e poucos recursos financeiros para sustentar uma campanha nacional.

O jogo de Jair Bolsonaro

A despeito do bom desempenho nas pesquisas de intenção de voto e da cristalização de parcela significativa do apoio hoje recebido, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) tem um horizonte de grandes dificuldades à frente. Além do desafio de furar uma bolha de eleitores localizada mais na extrema-direita, o parlamentar terá de enfrentar o obstáculo da baixa estrutura partidária, poucos recursos e tempo de televisão escasso. Nesse sentido, foi iniciado um movimento para tentar costurar uma chapa com o PR. O partido do “centrão”, contudo, tem resistido ao movimento. O senador Magno Malta (PR-ES) avisou que não aceita ser candidato a vice em sua chapa. A decisão dificulta a costura de uma aliança entre PSL e PR.

A aliança poderia fazer o tempo de televisão de Bolsonaro saltar de 9 segundos para 54 segundos. O movimento, contudo é cercado de riscos: do lado do parlamentar, há a possibilidade de ser associado com a imagem da política tradicional e do jogo do “toma lá dá cá” com a aproximação da imagem de Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do “mensalão”. Do lado do PR, existe a possibilidade de o partido virar a “vidraça” da campanha de Bolsonaro, o que poderia prejudicar seu desempenho em outros pleitos.

A esperança de Geraldo Alckmin

Mal nas pesquisas de intenção de voto, apesar de liderar o grupo de candidatos da centro-direita, o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) precisa consolidar uma robusta estrutura de alianças para levar vantagem durante o período de campanha. A ideia é começar a crescer com maior exposição na televisão, com bons palanques regionais e a exposição de uma imagem de gestor público experiente. O tucano, porém, vive uma situação paradoxal: precisa provar viabilidade eleitoral para conquistar apoio das legendas do “centrão”. Ao mesmo tempo, ele sustenta que o crescimento nas pesquisas só ocorrerá durante a campanha, quando o eleitor começar a se preocupar mais com as eleições.

Para os analistas da XP Investimentos, o cenário mais provável para Alckmin é o de uma aliança com o “centrão” (PSD, PTB, DEM, PP, Solidariedade, PRB e PSC) excluindo o apoio do MDB. Em tal situação, o tucano contaria com 5 minutos de tempo de televisão. O segundo cenário com maior probabilidade de acontecer, na avaliação dos especialistas da XP, seria uma aliança com parte do “centrão”: PSD, PTB e PPS. Neste caso, o tucano teria 2 minutos e 53 segundos de tempo em cadeia nacional. A terceira situação seria uma aliança envolvendo esses três partidos do “centrão” e o MDB, que teria de abrir mão da candidatura própria liderada pelo ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles. O tempo de televisão, neste caso, seria de 4 minutos e 20 segundos.

O cenário menos provável seria a costura de uma aliança com todos os partidos do “centrão” e o MDB, o que renderia 6 minutos e 26 segundos no horário de propaganda eleitoral. Tal situação exigiria ampla habilidade política de Alckmin, que precisaria acomodar diversas forças e interesses e despontar como única alternativa de tal espectro político em um ambiente de crescentes riscos.

Incertezas múltiplas no PT

A indefinição sobre o lançamento de uma candidatura própria e o nome alternativo à cada vez menos provável chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornam o ambiente completamente indefinido no PT. Para os analistas da XP Investimentos, a ausência de perspectiva de poder pode cobrar seu preço ao partido, que corre o risco de correr sozinho na disputa ao Palácio do Planalto. Neste caso, a sigla contaria com 1 minuto e 40 segundos de tempo de televisão.

O segundo cenário com maior probabilidade, na avaliação da equipe da XP, seria a costura de aliança com algum partido de esquerda — sendo o mais cotado o PCdoB, que teria que desistir da candidatura de Manuela d’Ávila. A sigla tradicionalmente compõe com a candidatura do PT. Isso pode se repetir (o que renderia um tempo de televisão de 1 minuto e 53 segundos), desde que o nome apresentado tenha alguma viabilidade eleitoral.

Situação menos provável seria a formação de uma aliança de esquerda com PCdoB e PSB, além de uma costura envolvendo o PR em torno de uma candidatura petista. Para isso, seria necessário a ala de Pernambuco se sobressair dentro do PSB e se a conta fechar para a bancada do PR. Neste caso, o PT teria que mostrar ampla viabilidade eleitoral.

O quadro com menor chance de se confirmar, na avaliação dos especialistas da XP, seria a desistência do lançamento de candidatura própria do PT. Neste caso, Lula começaria a perder força nas pesquisas eleitorais ou já receberia um indicativo mais claro da Justiça Eleitoral sobre a inviabilidade de sua candidatura, o que estimularia a pressão de governadores do Nordeste por uma composição com Ciro Gomes.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.