Com Michel Temer mais fraco, Rodrigo Maia será o “primeiro-ministro” que o mercado sonha?

Presidente da Câmara busca protagonismo na agenda de reformas após rejeição de denúncia contra o peemedebista, mas há dúvidas sobre sua capacidade de conduzir tal processo

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Passada a votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, o governo tenta reconduzir o debate da reforma da Previdência no parlamento. Com uma margem cada vez mais apertada para avançar com sua agenda econômica, o peemedebista terá que contar com o apoio do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que nas últimas semanas buscou ganhar força em uma ofensiva para consolidar a imagem de personagem indispensável para o êxito de medidas legislativas às vésperas das eleições.

O placar mais magro conquistado pelo governo na rejeição da última peça contra o presidente e dois de seus ministros em plenário preocupa o mercado sobre as reais condições de se avançar com mudanças nas regras para a aposentadoria. Se por um lado, analistas políticos chamam atenção para eventuais distorções no uso da votação da última quarta-feira como uma espécie de proxy de qual é o nível de apoio que o governo parte na batalha das reformas, por outro o resultado indica que o preço cobrado pelos deputados será ainda mais elevado. Na última quarta-feira, foram 251 votos favoráveis ao presidente a 233 contrários. Para se ter uma ideia, uma proposta de emenda à Constituição, como é o caso da reforma previdenciária apresentada, precisa do apoio de 308 deputados em duas votações em plenário e mais 49 senadores em outros dois turnos.

“A votação precisa ser levada em conta. O fato de o governo não ter conseguido repetir o placar da primeira denúncia foi negativo para a reforma da Previdência”, observou o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, que participará do programa Conexão Brasília desta sexta-feira (27), pela InfoMoneyTV a partir das 14h45. Nem mesmo os tropeços da PGR na condução do acordo de colaboração premiada com executivos da J&F foram capazes de alavancar o resultado do governo, o que limita um movimento mais eufórico do mercado.

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Para Ribeiro, o atraso na agenda legislativa provocado pela segunda denúncia apresentada pelo então procurador-geral Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer prejudicou seriamente a tramitação da reforma previdenciária na Câmara dos Deputados, mas ainda é possível que um pacote mais diluído seja aprovado pelos parlamentares. De qualquer forma, ele acredita que tal avanço só poderá se viabilizar se Rodrigo Maia for envolvido diretamente na costura da proposta. “O presidente da Câmara, propositadamente, criou zonas de atrito com o governo, magnificou tensões que poderia ter minimizado. E fez isso porque realmente estava querendo alcançar um processo de maior protagonismo na agenda de reforma fiscal. Foi um movimento para aumentar seu capital político, esticando a corda com o governo sem rompê-la”, observou.

Na avaliação do analista político da MCM Consultores, eventuais sinais de melhora da economia podem favorecer agendas do Planalto no futuro próximo, uma vez que o governismo poderá ter maior capital político para influenciar o ambiente eleitoral. “A melhora da economia favorece o campo governista e pode reduzir o receio de que isso atrapalhe a reeleição de membros da base aliada. Quem está na base já está fadado ao desgaste. Mas pode haver um bônus se a reforma for aprovada”, afirmou. Ele acredita que a perspectiva para a aprovação da matéria não é muito positiva, mas pode ser que alguns pontos acabem avançando no parlamento. Sob este ponto de vista, tudo dependeria da simbiose entre o deputado e o presidente. “Temer tem o controle de toda a máquina administrativa, tem capacidade de gerir recursos para fazer sua composição da rede de apoio, controla cargos. Sem ele, Maia não vai muito longe. Eles precisam jogar juntos”, explicou Ribeiro.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, é cético quanto à possibilidade de se avançar com a agenda previdenciária a menos de um ano das eleições. “Quem vai assumir o progagonismo nesse processo é o próprio ambiente eleitoral. Maia, assim como qualquer deputado, vai se subordinar a isso. Se o ambiente eleitoral permitir avançar em uma pauta de reformas, ele vai caminhar nesse sentido. Do contrário, vai fazer o possível, vai tentar mostrar certo protagonismo em relação a um Michel Temer desgastado”, observou.

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O especialista questiona as condições políticas que o atual presidente da Câmara tem de incorporar o personagem que o mercado sonha neste momento. “Maia não é uma liderança do tamanho de Ulysses Guimarães. Ele é resultado das circunstâncias, não vai fazer deputado votar só porque ele quer. As possibilidades dele são relativas”, analisou. Para ele, nem mesmo as armas das quais o governo dispõe no momento (leia-se emendas parlamentares, com efeitos cada vez mais limitados pelo tempo e caixa do governo, e cargos) poderão ser suficientes neste momento. “O wishful thinking do mercado tem que ir devagar. O mercado está sempre procurando um super-herói. É preciso relativizar. Não há super-heróis. Ele (Maia) pode ter a pauta do Congresso, mas não tem tamanhã ascendência política sobre a base, nem a caneta do Palácio do Planalto”, disse. Nesse sentido, o que se tem dito acerca de uma espécie de parlamentarismo na prática, liderado pelo deputado em meio à fragilidade do presidente, teria de ser visto com muita reserva.

A base comparativa de Carlos Melo para o atual governo tem sido as turbulências da gestão de José Sarney, momento que ele avalia como menos grave para a economia, a despeito dos elevadíssimos índices inflacionários da época. O cientista político e professor não acredita em uma repetição do que ocorreu no Plano Real, quando Fernando Henrique Cardoso herdou os bons frutos de um programa econômico competente. “O Brasil deve melhorar aos poucos. Tem que torcer para não piorar. Se melhorar, vai ser devagar”, sem grande relevância eleitoral, observou.

Sendo assim, uma avaliação mais realista, na percepção de Melo, apontaria para avanços em outras direções também importantes para a economia, mas não necessariamente de maneira incisiva sobre as regras para aposentadorias no País. “Talvez o governo consiga avançar em alguma pauta microeconômica e em alguns pontos incrementais na reforma da Previdência ou na tributária”, projetou o professor do Insper. Ao que tudo indica, a tônica dos próximos meses será cada vez mais a pauta eleitoral.

Todavia, vale a ressalva de Melo: “No Brasil, tudo pode acontecer. Afinal, aprendemos com Dilma que vacas tossem”.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.