Empresas do Governo Federal perdem cerca de R$ 150 bi no mandato Dilma

Medidas para controlar o preço da gasolina, reduzir o spread bancário e a tarifa de energia corroem o valor de mercado de empresas do Governo

Fernando Ladeira

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SÃO PAULO – Desde que assumiu a presidência do País no início de 2011, Dilma Rousseff tem tomado uma série de medidas na tentativa de reanimar a economia frente à crise internacional e reduzir o custo do País. Nessa empreitada, quem tem pagado a conta são as empresas federais. As quatro principais desse grupo com ações negociadas na bolsa já acumulam perdas de quase R$ 150 bilhões em valor de mercado, segundo levantamento feito pelo Portal InfoMoney.

Para colocar o número em perspectiva, ele representa uma perda de 31,8% em valor de mercado para as federais. Mas vale lembrar que nem toda essa queda é reflexo da política, uma vez que no mesmo período a crise internacional continua a representar um desafio para os mercados. Assim, na mesma época, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa, já registra queda de 18,5%.

Petrobras subsidia petróleo
A intenção das medidas é vista como saudável para o Brasil, mas a dose adotada foi exagerada, alertam analistas e economistas. A gasolina vendida a um preço subsidiado e a queda nos juros cobrados pelos bancos e no custo da energia são alguns dos itens na agenda do Governo. Assim, a principal perda fica por conta da Petrobras (PETR3, PETR4), que viu seu valor de mercado passar de R$ 358,7 bilhões para R$ 247,7 bilhões.

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Nesse período, a petrolífera reportou o seu primeiro prejuízo trimestral desde 1999. Apenas entre janeiro e setembro deste ano, a empresa já acumula perdas de R$ 17,3 bilhões na área de abastecimento.

Isso acontece porque, para atender à demanda interna, a Petrobras importa petróleo e o revende a um preço mais baixo no mercado interno. Na tentativa de segurar a alta da inflação, o Governo assume o prejuízo da estatal. Por outro lado, segundo publicado na quarta-feira pela Folha de S. Paulo, a diretoria da empresa busca um reajuste de até 15% no combustível para o próximo ano.

Confira a evolução de mercado durante o Governo Dilma
Empresa Ação 30/12/2010 – 22/11/2012
Petrobras PETR3, PETR4 Perdas de $ 110,9 bilhões
Eletrobras ELET3, ELET5, ELET6 Perdas de R$ 18,7 bilhões
Banco do Brasil BBAS3 Perdas de R$ 19,4 bilhões
Telebras TELB3, TELB4 Ganhos de R$ 559,4 milhões
Saldo Final Perdas de R$ 148,5 bilhões

Energia mais barata pode afetar investimentos
Logo em seguida, o valor de mercado do Banco do Brasil (BBAS3) encolheu de R$ 79,3 bilhões para R$ 59,9 bilhões, enquanto o da Eletrobras (ELET3, ELET6) caiu de R$ 27,3 bilhões para R$ 8,6 bilhões.

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Levando em conta os setores, as empresas de energia com ações no Ibovespa perderam R$ 18,9 bilhões, isso é, 20,3% de valor de mercado. Nesse mesmo período, o valor de mercado dos bancos com papéis no principal índice da bolsa tiveram uma queda de 6,7%, ou R$ 27,0 bilhões – desempenho melhor que o Ibovespa.

Entre as federais, a exceção fica por conta da revigorada Telebras (TELB3, TELB4), que nesse período viu seu valor quase dobrar: de R$ 616,8 milhões foi para R$ 1,1 bilhão.

Em setembro deste ano o Governo publicou a Medida Provisória 579, que revê o sistema de concessões no setor de energia com uma redução na tarifa, em troca de um pagamento de indenizações pelos investimentos já feitos mas ainda não amortizados. As indenizações propostas, entretanto, são bem inferior ao que as empresas contestam.

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Muitas delas ainda negociam com o Governo os termos para a renovação das concessões, mas a Eletrobras, por ser do próprio poder público, deverá aceitar sem grandes discussões.

“Isso que vimos no setor elétrico passa uma imagem negativa e traumatiza os investidores”, alerta Paulo Esteves, analista-chefe da Gradual Investimentos. A preocupação do analista é de que, quando a economia do País voltar a crescer entre 4% a 5% ao ano – as previsões do mercado para o próximo ano é de uma alta de 3,99% -, o poder público não terá condição de investir nessas empresas no ritmo necessário para a geração de energia. “Como elas vão atrair investimentos com quebra de contrato?”, questiona. 

Por isso ele acredita que o Governo deverá admitir um espaço de manobra. Caso contrário, diz, a medida pode se revelar um tiro no próprio pé.

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Compare a evolução porcentual do valor de mercado entre elas
Empresa Variação
Petrobras -30,94%
Eletrobras -68,39%
Banco do Brasil -24,45%
Telebras +90,69%
Ibovespa -18,57%

Redução no spread bancário afasta estrangeiros
No setor bancário a situação não é tão diferente. “O capital estrangeiro tem aversão clara a intervenção do Governo na economia”, complementa João Augusto Salles, economista da Lopes Filho.

O banco, assim como qualquer empresa, busca maximizar seus lucros, o que costuma ocorrer via um crédito mais caro. E quando um fator exógeno afeta essa lógica, os investidores externos saem com muita rapidez, explica.

Esteves ainda indica que os spreads bancários (a diferença entre o quanto o banco cobra para conseguir crédito e o quanto ele paga) eram realmente elevados, mas que a própria tendência natural do mercado é fazer com que eles caiam gradualmente. “O governo tentou acelerar, mas corre o risco de reduzir o spread de modo muito forte em um momento em que a inadimplência ainda preocupa”, afirma.

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Apesar disso, Salles admite que os lucros das instituições financeiras eram fora da curva no passado. O economista da Lopes Filho lembra que entre 2005 e 2007 os bancos viviam uma situação atípica: mesmo com uma Selic elevada, houve uma forte alta na demanda via crédito no varejo, guiada pelo alongamento dos prazos para pagamento. Assim, eles conseguiram ganhar tanto em aplicações financeiras quanto no crédito. 

“Aquelas rentabilidades foram muito distorcidas. Essa é uma nova realidade”, ressalta. Entretanto, uma realidade ainda boa para os bancos, na qual o ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) é muito superior ao das instituições internacionais.

Além do mais, o Banco do Brasil distribui ao mercado 40% de seus ganhos e, por ser federal, ele ainda capta a um custo muito competitivo, uma vez que o risco de calote é do Governo, complementa Salles. Por isso, ele acredita que, logo que a economia voltar a crescer a um ritmo mais acelerado, a ação voltará a se recuperar.

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Por fim, todas essas medidas, em conjunto com outras adotadas pelo Governo, como a desoneração da folha de pagamento, a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), aumento na tarifa de importação para uma série de produtos e a desvalorização cambial, tem como objetivo reanimar a economia e reduzir o custo Brasil.

Mas Esteves, da Gradual, lembra que há outros meios de alcançar essa redução, como aumentar a produtividade das empresas, melhorar a logística do país e reduzir a excessiva carga tributária. “São medidas corretas, mas o ritmo tem que ser muito bem ponderado”, conclui.

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