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SÃO PAULO – Em meio ao surto do novo coronavírus, o mercado irá se voltar na próxima quinta-feira (9) para o petróleo conforme ocorre a reunião, via teleconferência, a reunião da OPEP+, que reúne a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e mais algumas nações produtoras.
E apesar da notícia deste encontro extraordinário terem feito o preço do petróleo disparar 30% na quinta e sexta da semana passada, nesta segunda-feira (6) a commodity caiu forte conforme aumentam as incertezas sobre o que irá acontecer nesta reunião, recuperando partes das perdas na sessão seguinte.
A ideia é discutir um corte coletivo na produção destes países, que pode chegar a 10 milhões de barris por dia (bpd) – o maior da história – como forma de combater os efeitos do coronavírus, que tem prejudicado muito a demanda.
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A reunião estava marcada para esta segunda com expectativa da participação de produtores dos Estados Unidos, mas acabou adiada após a Arábia Saudita e Rússia trocarem farpas e os americanos não sinalizarem cortes em sua produção.
Dois dos maiores produtores de petróleo gostariam que os EUA participem da reunião. Leis antitrustes americanas, porém, não permitem que o país participe de um cartel como a OPEP. Mesmo assim, especialistas apontam que um acordo pode ser atingido incluindo os americanos.
Na véspera, o presidente americano, Donald Trump, afirmou que, se a Opep pedir um corte na produção de petróleo nos Estados Unidos, o governo americano “tomará uma decisão sobre isso”. “Ainda não me fizeram esse pedido”, disse o republicano. Mas ressaltou: “Se olharmos para os mercados, é certo que haverá um corte na oferta de petróleo“.
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A Opep ainda convidou Brasil, Noruega, Reino Unido e mais quatro países para participar da reunião, segundo o Dow Jones.
Segundo a equipe de analistas do Morgan Stanley, sem cortes de oferta, os estoques de petróleo provavelmente esgotarão a capacidade de armazenamento do mundo em cerca de 60 dias.
“Mesmo que a OPEP+ chegue a um acordo para reduzir a produção, o mercado de petróleo provavelmente permanecerá com excesso de oferta”, diz o estrategista de petróleo do Morgan, Martijn Rats, estimando um excesso de oferta de 18 milhões de bpd, o que deixa 8 milhões de bpd em excesso mesmo que ocorra um corte de 10 milhões de bpd.
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“Como resultado, o mercado ainda ficaria com estoques inchados, que precisam ser trabalhados em um cenário de demanda incerto”, explica o estrategista.
O Credit Suisse segue a mesma linha, apontando que mesmo um corte de 10 milhões de bpd não dará conta do superávit de petróleo no segundo trimestre, principalmente porque “a logística de qualquer corte não entrará em vigor até o final de abril”.
“Portanto, é fundamental que a OPEP+ chegue a um acordo crível que se estenda até o terceiro trimestre para compensar o inevitável superávit do segundo trimestre e, de preferência, um acordo até o final do ano, dada a incerteza do mercado sobre a rapidez com que a demanda global pode retornar aos níveis normais”, explicam os analistas.
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Os 3 cenários para o petróleo
Em relatório, os analistas Vicente Falanga e Gustavo Sadka, do Bradesco BBI, afirmam que, se confirmada, essa redução de oferta seria uma ótima notícia para o mercado de petróleo.
Por outro lado, eles destacam que existem outros fatores que manteriam as incertezas, como por exemplo, a duração do pico de impacto da Covid-19 na demanda e a duração dos cortes propostos pelos países envolvidos no acordo.
Como resultado, eles apontam para três possíveis cenário para após a reunião desta semana.
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O primeiro, mais otimista, indica um pico de perda de demanda de apenas um mês, o que, segundo os analistas, obrigaria um corte de produção de 10 milhões de bpd por 13 meses, com a recuperação do petróleo em novembro deste ano, levando os preços para uma média de US$ 49 em 2021.
Já no cenário base do Bradesco, a pressão da demanda dura três meses, com o corte da produção precisando durar por 18 meses. Tudo isso levaria a uma recuperação do petróleo apenas em março de 2021, para uma média de preço de US$ 40 no ano que vem.
Por fim, o pior cenário seria de um pico de perda de demanda de cinco meses, levando a um corte de produção de cerca de 21 meses, com o petróleo começando a se recuperar em agosto do próximo ano, ficando em uma média de US$ 30 em 2021.
“A boa notícia é que, nos três cenários, os preços do petróleo podem chegar a US$ 55 por barril antes do nosso horizonte de quatro anos”, afirmam os analistas.
Apesar disso, eles ressaltam que mesmo no cenário mais otimista, ainda pode ser cedo para apostar na recuperação do petróleo e, mesmo no cenário base, os investidores podem ter que esperar até o quarto trimestre deste ano para que os preços comecem a se recuperar de forma significativa.
Decisão complexa
Sobre a decisão em si, Fernando Fontoura, gestor da Persevera, destaca que a reunião da Opep é um evento geopolítico e tem várias camadas de complexidade, não tratando apenas do petróleo.
“Isso [guerra de preços] não é apenas um fruto de discordância comercial entre Arábia Saudita e Rússia. É uma questão geopolítica muito mais complexa, que envolve a indústria de xisto dos EUA, envolve até uma influência de uma questão geopolítica que envolve a reeleição americana do Trump”, afirma.
Por conta de todas essas variáveis, o gestor acredita que o assunto vai demorar para se resolver completamente. “Eu ainda não acredito num acordo ou nada que venha a resolver essa situação no curto prazo pelo lado da oferta. Juntamente, tem pelo lado da demanda um colapso completo no mundo inteiro [por conta do coronavírus]”, afirma.
Sobre o impacto na Petrobras (PETR3;PETR4), Fontoura diz que um acordo seria muito positivo para a companhia. Mas mais do que isso, ele ressalta que a boa notícia é que a estatal brasileira “está numa situação muito melhor para enfrentar essa crise do que já esteve”.
“Em outros momentos da Petrobras, a gente estaria se questionando sobre a sobrevivência da empresa. Hoje, mesmo em meio a esse cenário nebuloso, ainda não é o caso”, explica.
Analistas acreditam que haverá algum tipo de acordo na próxima quinta, mas isso pode não ser a solução de todos os problemas, já que o assunto se mostra muito mais complexo do que pode parecer inicialmente e a recuperação do mercado pode demorar para acontecer.
“Ainda que seja uma sinalização positiva, um otimismo maior com o petróleo dependerá de sinalizações positivas do lado da demanda, principalmente em vista do repentino aumento de estoques no mundo. Tal estoques demorarão para retomar em patamares normalizados, e são função da magnitude da retomada pós-pandemia. Continuamos com postura cautelosa em relação a preços de petróleo”, destaca a equipe de análise da XP Investimentos.
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