PETR4: de proventos frustrantes a falas em tele, Petrobras “perde” R$ 32 bi após 2T

Lucro operacional medido por Ebitda ficou em linha, mas houve frustração com nível de capex, ou despesas de capital

Lara Rizério

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Resultados em linha. Contudo, o fluxo de caixa livre e, consequentemente, os dividendos, suscitaram uma reação negativa aos resultados do segundo trimestre de 2025 (2T25) divulgados pela Petrobras (PETR3;PETR4), que se intensificaram ao longo do dia

No início da manhã, os ADRs (recibo de ações negociado em Nova York) já apontavam para queda no pré-market e, após às 10h (horário de Brasília), quando abriram na B3, as ações tinham queda de cerca de 2%.

A baixa, contudo, se intensificou ainda mais ao longo do dia, intensificada durante a teleconferência de balanços: assim, os papéis PETR3 fecharam com derrocada de 7,95% (R$ 32,78) e PETR4 teve baixa de 6,15% (R$ 30,53). Assim, o valor de mercado da estatal passou de R$ 442,2 bilhões na última quinta para R$ 410,2 bilhões no fechamento desta sessão, uma queda de cerca de R$ 32 bilhões de valor de mercado em apenas uma sessão.

Análise de Ações com Warren Buffett

Durante a call de balanços, as sinalizações negativas ganharam ainda mais destaque, com o crescimento da produção e a visão de pressão não recorrente no fluxo de caixa não sendo suficientes para compensar o overhang (excesso de ações no mercado, pressionando os ativos) de sinalizações de investimentos em GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) e distribuição de combustíveis, e a baixa probabilidade de dividendos extraordinários em 2025.

Os comentários sobre distribuição de combustíveis pesaram sobre as ações: a gestão da companhia sinalizou que pode se concentrar na distribuição de GLP (industrial/agrícola), mas pode estar envolvida em combustíveis e postos de gasolina.

Já o o diretor financeiro da companhia, Fernando Melgarejo, afirmou que a chance de dividendos extraordinários se tornou mais baixa com a atual situação financeira da petroleira, o que também pesou sobre os ativos. Isso, embora segundo o Morgan Stanley, não seja exatamente uma novidade e tenha sido mencionado no contexto da queda dos preços do petróleo. “O novo plano estratégico reavaliará todos os projetos, e apenas aqueles que geram valor permanecerão no portfólio”, aponta o Morgan.

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O balanço

A petroleira apurou lucro líquido de R$ 26,65 bilhões, revertendo prejuízo observado no mesmo período do ano passado.

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado ficou em R$ 52,3 bilhões, 5,1% maior que o observado no segundo trimestre de 2024. A receita de vendas, no entanto, caiu no segundo trimestre, tanto ante mesmo período do ano passado (2,6% a menos) quanto na comparação trimestral (queda de 3,3%) e ficou em R$ 119 bilhões.

“A Petrobras reportou um Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] ajustado por itens não recorrentes de US$ 10,2 bilhões, acima das nossas estimativas, mas em linha com o consenso. No entanto, o Fluxo de Caixa Livre (FCF) ficou abaixo das expectativas”, aponta o Itaú BBA.

Isso se deveu principalmente a: i) um consumo inesperado de capital de giro, que resultou em um Fluxo de Caixa Operacional (FCO) de US$ 7,5 bilhões (US$ 300 milhões abaixo das suas projeções e US$ 700 milhões abaixo do consenso); e ii) um investimento caixa acima do esperado, de US$ 4 bilhões (US$ 300 milhões acima das suas estimativas e US$ 400 milhões acima do consenso).

Como resultado, os dividendos ordinários do trimestre totalizaram US$ 1,6 bilhão (2,1% de yield, ou rendimento de dividendos), abaixo das estimativas do BBA de US$ 1,9 bilhão e abaixo do consenso de US$ 2 bilhões.

O Bradesco BBI também reforça que o Ebitda ajustado de US$ 10,2 bilhões no 2T25 ficou ligeiramente acima da sua estimativa e 1% acima do consenso mas que, apesar dos resultados sólidos, houve frustração com o alto nível de capex (despesas de capital) em caixa (US$ 4,1 bilhões), que resultou em um pagamento de dividendos cerca de US$ 400 milhões abaixo do esperado.

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“Houve também maior consumo de capital de giro, provavelmente relacionado ao aumento da produção, que deve se recuperar”, apontam os analistas do banco. Os dividendos totais também ficaram abaixo da estimativa do BBI, que era de US$ 2 bilhões.

Em reais, o pagamento de dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) intercalares é no valor de R$ 8,66 bilhões, equivalente a R$ 0,67192409 por ação ordinária e preferencial em circulação.

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O montante será pago como antecipação da remuneração aos acionistas relativa ao exercício de 2025, declarada com base no balanço de 30 de junho. Os proventos serão pagos em duas parcelas em novembro e dezembro de 2025.

“Como a previsibilidade e a dependência do carregamento de dividendos têm sido fatores importantes para os investidores na tese de investimento da Petrobras, prevemos uma reação negativa do mercado”, avaliou o BBA.

O Goldman Sachs também aponta que “o destaque negativo foi a queda na conversão do Ebitda em fluxo de caixa livre e o pagamento de dividendos, impactados por um capex maior que o esperado e fluxo de caixa operacional mais fraco”.

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A XP destacou que o Ebitda também ficou em linha com as suas projeções, com queda de apenas 4% na base trimestral, apesar da queda mais acentuada nos preços do Brent (-10% no trimestre), pois o preço mais baixo do petróleo foi parcialmente compensado pela maior produção e pelos crack spreads no downstream. Contudo, também aponta fluxo de caixa e os dividendos abaixo das expectativas.

Diretrizes do plano estratégico

O Conselho de Administração decidiu ainda incluir o posicionamento em distribuição entre os elementos estratégicos do Plano Estratégico da empresa, com duas diretrizes importantes: i) “Em conformidade com as disposições contratuais vigentes”, o que
indica que, de acordo com os termos do contrato de marca com a Vibra (VBBR3), a empresa está impedida de atuar no negócio de distribuição de líquidos devido a uma cláusula de não concorrência (pelo menos até 2029); e ii) “atuar na distribuição de GLP”, o que indica que a empresa planeja entrar no negócio de distribuição de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo).

O BBA ressalta que o setor de GLP passou por mudanças significativas desde a privatização da Liquigás em 2021. Em sua cobertura, a Ultrapar (UGPA3), por meio da Ultragaz, é o player mais relevante neste segmento e pode ser afetada por este anúncio.

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Recomendações

O BBI tem recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e apontou ter estabelecido um novo preço-alvo para o final de 2026 em US$ 13,50 por ADR (recibo de ações da companhia, ou R$ 40 por ação PETR4), com base numa projeção de dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) de 12% para os próximos 5 anos.

“À medida que nos aproximamos de 2026, as ações da Petrobras normalmente se tornam mais voláteis durante um ano eleitoral. Continuamos gostando da combinação de carrego de dividendos (de cerca de 10%) e potencial de valorização”, aponta.

O Itaú BBA também tem recomendação outperform, com preço-alvo de R$ 43 para o ativo PETR4, enquanto o Goldman também tem recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 35,10.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.