Petrobras: fala de Lula ainda reverbera e mais um temor surge com alta do petróleo

Defasagem dos combustíveis praticados pela estatal em relação aos valores internacionais já chama a atenção e tema ganha força após falas recentes de Lula

Lara Rizério

Plataforma da Petrobras na Baia da Guanabara, no Rio de Janeiro(Mario Tama/Getty Images)

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“Eu tenho um compromisso com o povo brasileiro que é reduzir o preço da gasolina, o preço do combustível, o preço do gás de cozinha e o preço do óleo diesel”.

Essa fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, feita na semana passada, acabou não recebendo os holofotes dos acionistas da Petrobras (PETR3;PETR4) durante o pregão do dia 11 de março, quando ela aconteceu. As atenções se voltaram principalmente para as críticas de Lula aos dividendos da estatal após a polêmica do não pagamento de proventos extraordinários, que tanto tem mexido com as ações desde a divulgação de resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23).

Outro pilar para a tese de investimentos dos analistas para a companhia, contudo, pode ser alvo de testes e também pode passar a ser olhada de perto pelos investidores: a manutenção de uma baixa defasagem de preços dos combustíveis em relação aos valores praticados no exterior, ainda mais levando em conta as constantes altas do petróleo. Na véspera, a commodity fechou a sessão na máxima em quatro meses, com o brent superando os US$ 87 o barril.

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A Petrobras, cabe lembrar, anunciou em maio do ano passado a sua nova política de preços de combustíveis, com o fim da política de paridade de importação. Os novos termos geraram dúvidas no mercado, mas elas foram ganhando mais ou menos peso no mercado conforme a estatal reajustava os preços e se aproximava dos valores internacionais.

A companhia e o CEO Jean Paul Prates têm destacado que a nova política também visa não repassar a conhecida volatilidade da commodity. Isso já fez com que a companhia também tenha praticado valores acima dos internacionais desde que a política foi implantada, mas também acabou gerando dúvidas sobre até quando a companhia vê como razoável segurar os preços.

Em um contexto sem reajuste da gasolina há 151 dias e com as recentes falas de Lula, os investidores vão monitorar cada vez mais os movimentos da Petrobras nesse quesito. Segundo dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a diferença dos preços da Petrobras na comparação com os preços praticados no Golfo do México era de 19% na segunda-feira, 18, enquanto o diesel S10, sem reajuste há 84 dias, registrava preço 13% menor do que no exterior.

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Segundo a Abicom, a estatal poderia aumentar os preços dos combustíveis em R$ 0,64 e R$ 0,52 o litro, respectivamente. A janela para importação de gasolina está há 43 dias fechada, enquanto o diesel já registra 84 dias sem oportunidades de compra no exterior.

Para a Genial Investimentos, que via até semana passada um deságio menor (de R$ 0,07 o litro de gasolina e de R$ 0,15 o litro do diesel), o mais importante a monitorar é o impacto das falas do presidente Lula.

“Excluindo toda a discussão acerca dos dividendos extraordinários, aparentemente o presidente novamente criticou a politica de paridade de preços internacionais, dizendo que não faria sentido existir essa equiparação. (…) A questão da paridade vai muito além do senso comum de ‘se o petróleo é brasileiro, então os preços deveriam ser nacionalizados’”, avalia a casa, ressaltando que resta acompanhar as próximas semanas, a movimentação do mercado e a orientação que a empresa seguirá.

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Já o Itaú BBA apontou que, na semana passada, a maior parte dos fatores de preços internacionais subiram, especialmente os crack spreads da gasolina – a diferença de preço entre um barril de petróleo bruto e um barril de gasolina, um indicador das margens brutas –  que dispararam 38% na base semanal com sinais de forte demanda de verão nos Estados Unidos, bem como pelo forte declínio na utilização de refinarias nas regiões Centro-Oeste e Costa do Golfo. O declínio da utilização também está afetando os estoques.

“Como resultado desses fatores, nossas faixas estimadas de preços para a gasolina continuaram a aumentar, levando os preços da gasolina da Petrobras a serem posicionados abaixo do limite inferior de nossas faixas de preço pela primeira vez em seis meses. Em relação ao diesel, os preços da Petrobras ainda estão dentro da faixa, mas agora mais perto da extremidade inferior”, avalia o BBA, ponderando que a empresa poderá avaliar os parâmetros de seus estratégia comercial diferente das suas estimativas.

“A Petrobras sempre defendeu evitar fazer ajustes rápidos (tanto para baixo e para cima) para evitar a transmissão da volatilidade dos preços internacionais para o consumidor”, reforça o banco, lembrando também que esta tendência de preços ascendentes da commodity deverá persistir durante pelo menos alguns dias.

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O BBA avalia que, no contexto das falas recentes do presidente sobre paridade de preços, o aumento dos crack spreads poderia colocar novamente alguma pressão sobre este tópico, já que em algum momento a Petrobras teria que fazer o reajuste. Tanto Genial quanto BBA têm recomendação neutra ou equivalente para os papéis da estatal.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.