Petrobras e Vale levantaram mais de US$ 13 bilhões “desinvestindo” em 2013

Enquanto do lado da estatal o foco é investir mais no pré-sal brasileiro, a mineradora quer concentrar ainda mais seus esforços na produção de minério

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – De olho nas perspectivas turbulentas para a economia brasileira no futuro próximo e na acomodação dos preços das commodities em patamares bem mais baixos que os vistos no boom que inflou o desenvolvimento das empresas produtoras de matérias-primas e do PIB (Produto Interno Bruto) do País anos antes, as duas maiores companhias brasileiras, Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3; VALE5), chamaram atenção em 2013 para suas políticas ainda mais austeras com relação à redução do número de ativos não estratégicos e o foco em operações que possam garantir maior crescimento e retorno aos acionistas.

Do lado da estatal, o programa de desinvestimentos gira em torno do novo e promissor investimento no pré-sal brasileiro, área com grandes quantidades de petróleo a serem exploradas nos próximos anos, mas também com elevada exigência do desenvolvimento de tecnologia de ponta para se alcançar pontos tão profundos no mar. Em outubro de 2013, a maior reserva do pré-sal brasileiro, o Campo de Libra foi leiloado com a Petrobras fazendo parte do consórcio vencedor e conquistando o direito de 40% de participação na exploração da reserva. Para poder investir neste empreendimento e melhorar suas degradadas contas, a empresa intensificou seu programa de desinvestimentos neste ano, captando cerca de US$ 7,4 bilhões, sendo US$ 4,3 bilhões entre janeiro e outubro. De acordo com o plano de negócios da companhia, a estatal pretende levantar entre 2013 e 2017 um total de US$ 9,9 bilhões com a venda de ativos não estratégicos.

De olho em todo esse cenário que pede por um caixa mais robusto da empresa, a presidente Graça Foster assumiu as rédeas de importantes alienações de ativos, com destaque para a venda de US$ 2,1 bilhões de ativos em agosto, incluindo a participação em um bloco na Bacia de Campos por US$ 1,54 bilhão, conforme levantou a Reuters, além da venda de 50% dos ativos na África por US$ 1,5 bilhão. Em novembro, a companhia vendeu a Petrobras Energia Peru para a estatal chinesa CNPC (China National Petroleum Corporation) por US$ 2,6 bilhões, ampliando ainda mais a receita gerada pelos desinvestimentos em 2013.

Continua depois da publicidade

Vale lembrar também que a companhia tem registrado uma grande piora em suas contas com o déficit gerado pelo descompasso entre os preços dos combustíveis no Brasil e mercado internacional, onde gasolina e diesel encontram-se mais valorizados – o governo Dilma Rousseff tem aplicado uma política de congelamento nos preços dos dois produtos para evitar que a inflação alcance um nível mais elevado que o teto de 6,5% de IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) estabelecido. Com isso, aumenta ainda mais a necessidade da companhia avaliar a viabilidade de manter ou alienar alguns ativos que possui.

Confira os maiores desinvestimentos da Petrobras em 2013:

Valor Negócio
US$ 2,6 bilhões Venda da Petrobras Energia Peru para a CNPC
US$ 1,54 bilhão Participação em bloco na Bacia de Campos
US$ 1,5 bilhão Venda de 50% dos ativos na África

Vale: US$ 6,1 bilhões com venda de ativos
Na mesma linha que Foster, Murilo Ferreira, CEO (Chief Executive Officer) da Vale, também aumentou o ritmo da política de desinvestimentos adotada pela mineradora no terceiro trimestre do ano passado, quando acumulou US$ 1,5 bilhão. Neste ano, a companhia já conseguiu levantar um montante em torno de US$ 6,1 bilhões com a venda de ativos considerados não estratégicos para a empresa, mais de 3,5 vezes o valor obtido em 2012. A meta da empresa é reduzir seu número de ativos e focar em empreendimentos de classe mundial que possam trazer maior retorno ao investidor e crescimento à empresa, reduzindo a diversificação de seus negócios.

Continua depois da publicidade

Na última segunda-feira (23), a companhia informou que assinou um acordo de R$ 2 bilhões com um fundo gerido pela Brookfield Asset Management para a venda de 26,5% de sua participação no capital da VLI, empresa de logística integrada de carga geral. Ainda na semana passada, a Vale vendeu todas as ações que possuía da Log-In (LOGN3) em leilão por R$ 233 milhões. Ao longo do ano, a companhia também vendeu uma fatia da VLI para a Mitsui por US$ 695 milhões e outros 15,9% do capital da VLI para o FI-FGTS por US$ 553 milhões, além da venda de US$ 1,82 bilhão em ativos de uma fabricante de alumínio na Noruega.

A política de desinvestimentos é entendida pelo mercado como um mecanismo usado pela empresa para financiar o projeto Serra Sul, orçado em US$ 20 bilhões, além de permitir o pagamento de dividendos mais gordos no ano que vem, mesmo com a questão dos desembolsos para o pagamento do Refis (Programa de Recuperação Fiscal), referente à cobrança da Receita Federal de impostos sobre os resultados obtidos por controladas da mineradora em Bermudas, Luxemburgo, Dinamarca e Bélgica.

É importante destacar, no entanto, que essa não é primeira ofensiva da companhia para reduzir o número de ativos que possui. O portal de relações com investidores da mineradora destaca entre os anos 2000 e 2012, pouco menos de 30 negócios milionários que permitiram que a empresa levantasse US$ 6,1 bilhões. Ainda assim, certamente trata-se de uma movimentação que implica em significativas mudanças para a companhia, e, portanto, novas perspectivas para seus investidores.

Continua depois da publicidade

Para 2014, a Vale pretende seguir desinvestindo. A mineradora mantém conversas avançadas para vender, na primeira metade do ano, metade de sua participação no projeto Nacala, uma ferrovia construída para escoar o carvão em Moçambique. A meta da companhia é focar cada vez mais na produção de minério de ferro, seu carro-chefe.

Confira os maiores desinvestimentos da Vale em 2013:

Valor Negócio
US$ 1,82 bilhão Venda de ativos da Norsk Hydro, fabricante de alumínio da Noruega
R$ 2 bilhões Venda de 26,5% de sua participação na VLI a um fundo gerido pela Brookfield Asset Management
 US$ 695 milhões Venda de uma fatia de uma fatia da VLI para a Mitsui
US$ 553 milhões  Venda de 15,9% da VLI para o FI-FGTS
R$ 233 milhões  Venda de toda a participação sobre o capital da Log-in

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.