Para além do foco: aftosa bloqueia exportação de soja e máquinas brasileiras

Indonésia usa suspeitas quanto à carne bovina para estender protecionismo; Argentina, por outro lado, restinge-se ao afetado

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Focos de febre aftosa no gado do Mato Grosso do Sul; suspeitas de que os rebanhos de Paraná e São Paulo também tenham sido contagiados. São um ótimo motivo para que os países importadores de carne bovina barrem a entrada de carne, certo? Que tal somar à conta barreiras ao farelo de soja e a máquinas agrícolas brasileiras?

Parece absurdo, e irritou o governo nacional. A Indonésia anunciou na quarta-feira o embargo à importação da carne do Brasil. Acompanharam-no, de modo um tanto o quanto conveniente aos asiáticos, as proibições à compra de máquinas, equipamentos, remédios e farelo de soja.

Sanções descontentam ministério

Todas as sanções descontentaram o Ministério da Agricultura, mas aquela ligada à soja foi especialmente provocativa. Afinal, os indonésios são o quarto maior comprador do farelo de soja nacional, respondendo por US$ 100 milhões por ano.

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Técnicos do Ministério enfatizam que a medida carece de justificação sanitária, pois o farelo não é um dos vetores da febre aftosa. O esmagar da soja exige temperaturas de mais de 50°C, o que exterminaria o vírus causador da doença. Além disso seu foco não está em rebanhos bovinos, e sim na alimentação de suínos e aves.

Argentinos mostram boa conduta

Nossos vizinhos argentinos, tão criticados pelo questionamento dos princípios liberais dentro do Mercosul, são os que seguiram o protecionismo de maneira mais sensata. Parece absurdo, mas agradou o governo nacional.

Tudo porque a Argentina respeitou a identificação oficial dos municípios afetados pela febre aftosa, e limitou as barreiras de importação apenas a esses locais. Uma amostra de que a boa vizinhança do Mercosul vale algo, e de que os argentinos agem com cautela ao impôr barreiras, já que ocasionalmente são vítimas das mesmas.

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Instrumento reconhecido

O veto além da carne praticado pela Indonésia e por alguns dos 43 países que recentemente declararam medidas protecionistas a importações brasileiras inspirou a diplomacia nacional a protestar na OMC (Organização Mundial do Comércio).

O reconhecimento do problema pelo órgão internacional é mais um indício de que o protecionismo no comércio exterior via barreiras fitossanitárias já está consolidado, e é uma ótima alternativa política às já saturadas barreiras via tarifas ou cotas.