Pão de Açúcar ou Assaí: qual ação está mais atrativa após a sessão de extremos na segunda-feira?

Analistas destacam, majoritariamente, visão positiva para ambas as companhias, mas operação de atacarejo anima mais o mercado

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Depois da emocionante sessão da última segunda-feira (1) para as ações da Sendas (ASAI3), controladora do atacarejo Assaí, que saltaram 386% (R$ 71,40) em sua estreia após a cisão, e para os papéis do Pão de Açúcar (PCAR3), que tiveram baixa de 66% (R$ 23,33), uma pergunta que muitos investidores passaram a fazer é: o que esperar para as duas ações na B3 a partir de agora?

Vale lembrar que a oscilação da véspera, apesar de assustadora num primeiro momento, já era em grande parte esperada pelo mercado (veja a análise). E, ao contrário do que poderia parecer, quem segurou o investimento em PCAR3 entre sexta-feira e segunda viu uma rentabilidade de cerca de 14%.

Isso porque, com o movimento de cisão ocorrido na última sexta-feira,  todas as ações compradas e detidas de PCAR3 na ocasião tiveram direito de receber ações ASAI3 na mesma proporção. Isso significa que o investidor que detinha, por exemplo, 100 ações PCAR3 na sexta, continuou com essas 100 ações nesta segunda e ganhou 100 ações ASAI3 também. Na sexta, as ações PCAR3 fecharam a R$ 83 por ativo.

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Após a sessão de ontem, a primeira com a negociação de ASAI3 e PCAR3 separadamente, os dois papéis somaram R$ 94,73 (ou uma alta de 14,13%). Ou seja, separados, os negócios passaram a valer mais do que combinados. E a perspectiva ainda é de alta, especialmente para a rede de atacarejo. Vale destacar que, na reta final da sessão desta sexta, por volta das 17h20 (horário de Brasília), enquanto PCAR3 caía cerca de 3%, ASAI3 registrava o movimento oposto, com alta de cerca de 3%.

Analistas da XP Investimentos, Danniela Eiger, Thiago Suedt e Marco Nardini explicaram que a forte queda de GPA foi justificada, uma vez que o valor relacionado ao Assaí estava concentrado no grupo.

Para Luis Sales, da Guide Investimentos, a divisão foi um movimento positivo: “A separação da companhia em seu braço de varejo e de atacado ocorre com o objetivo de permitir que as empresas passem a operar de forma autônoma e com equipes de gestão individuais, o que promove maior desenvolvimento e crescimento de cada uma delas. (…) E facilita a mensuração de valor de mercado de cada um dos negócios.”

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Após a cisão, a XP Investimentos iniciou a cobertura para ASAI3 com recomendação de compra e preço alvo de R$ 120 por ação para o fim de 2021, ou um potencial de alta de 68% em relação ao fechamento da véspera (veja o relatório clicando aqui). Além disso, destacou a companhia como preferência no setor por conta de um valuation muito atrativo. Ou seja, a ação, na avaliação da equipe de análise, está muito barata para ser ignorada, sendo negociada a um múltiplo de 15 vezes o preço sobre o lucro esperado (P/L) esperado para 2021, um desconto de 35% na comparação com os seus pares internacionais, enquanto vê muito potencial de crescimento a ser entregue.

Os analistas Danniela Eiger, Thiago Suedt e Marco Nardini, veem cinco principais destaques da tese de investimento para a companhia, com 184 lojas espalhadas em 23 Estados diferentes e contando com 10 centros de distribuição. Os motivos estão listados a seguir:

i) Perspectiva de crescimento sólida, puxado por planos de expansão (expectativa de 100 novas lojas até 2025) e expansão de margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) decorrente de alavancagem operacional e desalavancagem;

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ii) Forte geração de caixa, com uma conversão média de Ebitda em caixa em torno de 30% nos próximos 5 anos;

iii) Estratégia de expansão assertiva, com uma estrutura de líderes regionais que permite a companhia competir regionalmente enquanto também entregando a maior produtividade de loja (receita bruta por metros quadrados) entre as empresas listadas;

iv) Vasta experiência da diretoria, com mais de 20 anos de experiência no varejo alimentar; e

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v) Riscos positivos da frente de serviços financeiros, digitalização e potencial entrada no atacado de distribuição.

Já entre os riscos, os analistas destacam os listados a seguir:

i) Redução do auxílio emergencial, que pode pressionar os resultados de curto prazo, uma vez que os clientes do Assaí são em sua grande maioria de classes mais baixas (75% sendo das classes C/D/E). “Entretanto, alimentos não é uma categoria que pode simplesmente ser eliminada e, portanto, acreditamos que o impacto mais provável será em uma piora no mix de produtos e/ou uma mudança de canal para o Atacarejo, o que inclusive favoreceria o Assaí”, avaliam.

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ii) Aumento das restrições de Covid-19 impactando negativamente a recuperação de bares, restaurantes e transformadores o que, por sua vez, impacta a demanda de B2B (ou venda para as empresas). Na avaliação dos analistas, isso pode ser compensado por uma demanda ainda resiliente de pessoa física, enquanto esse impacto deve ser temporário e a retomada deve vir com a vacinação mais acelerada e/ou queda dos casos de Covid-19.

iii) Competição, uma vez que que as empresas podem enfrentar concorrência em cidades/estados específicos. Contudo, os analistas veem esse risco mitigado pela estrutura de líderes regionais do Assaí combinado com um histórico sólido de execução.

As perspectivas da XP para o Pão de Açúcar também são positivas, com os analistas mantendo recomendação de compra e ajustando o preço-alvo após a cisão de R$ 103 por ação para R$ 28 para o fim de 2021 – ou seja, com um potencial de alta de 20% em relação ao fechamento da véspera, menor na comparação com o Assaí.

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Assim como para o Assaí, os analistas da XP destacaram cinco principais pontos que sustentam a visão positiva no papel:

i) Manutenção de margem Ebitda em níveis sólidos sustentada por melhorias operacionais, como projeção de expansão de 0,4 ponto percentual na margem EBITDA até 2025 explicada pelas conversões das lojas, implementação de novos conceitos em mais lojas e alavancagem operacional.

ii) Digitalização como um ponto positivo: “vemos a estratégia de e-commerce do GPA como positiva, pois o principal foco deles permanece no varejo alimentar no curto prazo, que é uma das categorias que, na nossa visão, entendemos que demanda um marketplace de nicho, enquanto a companhia está aberta para parcerias com outros marketplaces (como o Mercado Livre) para alavancar o seu”. Além disso, eles acreditam que o GPA conta com vantagens competitivas como forte posicionamento de marca, capilaridade das lojas, capacidade de última milha, alta frequência de compra (3 vezes a 4 vezes por mês) e base de clientes sólida.

iii) Pouca atenção dada para o Grupo Éxito, apesar de que têm marcas muito reconhecidas na Colômbia e Uruguai, contam com uma penetração de marcas próprias de 17% (alimentar) e 34% (não-alimentar) e plataforma multicanal sólida;

iv) Riscos positivos interessantes, como o aumento de produtividade de loja impulsionado pelo programa de fidelidade; as iniciativas na frente financeira e monetização de créditos fiscais totalizando R$1,0 bilhão (em 5 anos) relacionado à exclusão do ICMS da base de cálculo do PIS/Cofins.

v) Potencial de valorização, uma vez que a companhia possui algumas reservas de valor que podem ser destravadas ao longo do tempo, como a participação na Cnova (listada na Euronext), com valor de mercado atual de R$ 5,4 bilhões. “A companhia já vocalizou seu interesse em desinvestir nesse ativo, porém vemos um entrave de liquidez para que isso seja concretizado. Além disso, a companhia tem enfrentado um cenário competitivo mais duro, liderado pela Amazon, o que tem prejudicado seu perspectiva de crescimento”, apontam os analistas.

Vale destacar que, na véspera, o Itaú BBA havia divulgado relatório em que traçava as suas estimativas para as ações de ambas as companhias, também com recomendação equivalente à compra (no caso, outperform, ou desempenho acima da média) para as ações delas. Contudo, o preço-alvo para ASAI3 é de R$ 75, uma alta modesta de 5% frente o fechamento da véspera, enquanto para PCAR3 é de R$ 39, uma valorização mais expressiva em relação ao fechamento de ontem, da ordem de 67%.

“Estamos iniciando a cobertura do ASAI3 com uma visão construtiva com base na excelente qualidade financeira da empresa
histórico e seu plano de abrir pelo menos 78 novas lojas entre 2021 a 2023. Os principais riscos para a nossa tese de investimento são um ambiente competitivo mais difícil e incerteza do cenário macroeconômico”, apontaram os analistas do BBA.

Já sobre PCAR3, o banco acredita que o valor do braço de varejo no Brasil e as operações da Éxito e da CNova serão melhores refletidos nas ações após a cisão do Assaí. A virada no multivarejo e a transformação digital devem ser a principal via de crescimento nos próximos trimestres, apontam, mas vendo o risco de execução e a incerteza macro como os principais riscos do case.

Os analistas do Bank of America, por sua vez, destacaram em relatório datado do último dia 26 de fevereiro (ou seja, na sexta-feira antes da cisão) que permaneceram com o GPA carregam alguns problemas, como o risco de governança e contingências atualmente estimadas em R$ 12,5 bilhões.

Desafios no radar

Em entrevista ao Broadcast, Julia Monteiro, analista da MyCap, destacou que o Assaí (assim como o Atacadão, parte do grupo Carrefour) é visto pelo pelo mercado como a “joia da coroa” da varejista, o que confere um maior potencial de alta para as ações. Na visão da MyCap, para o fim de 2021, a ação do Assaí pode valer entre R$ 104 e R$ 105 (potencial de valorização entre 45,7% e 47%), enquanto a previsão para o GPA (que ficou com bandeiras como Extra e Pão de Açúcar) é de R$ 30 por papel (alta de 28,6%).

Apesar da ação da companhia de atacarejo ser, no princípio, mais atrativa aos olhos dos investidores, o mercado também está de olho em um desafio: o avanço da companhia nos meios digitais, que deve ser observado com atenção por Belmiro Gomes, que preside o Assaí.

Na semana passada, em sua primeira teleconferência com investidores separada do Grupo Pão de Açúcar, o executivo foi questionado da presença praticamente inexistente da companhia no mundo online. Ele afirmou que a empresa deve trazer novidades nesse sentido ainda neste ano. Belmiro Gomes disse ainda ao Broadcast que trabalha para “ter alguma coisa no segundo semestre, no terceiro ou no quarto trimestre”.

Enquanto isso, com relação à ação do Pão de Açúcar, o Morgan Stanley revisou as suas projeções de preço-alvo para a ação, com target de R$ 28 (potencial de alta de 20%), mas com recomendação equal-weight (expectativa de valorização dentro da média do mercado).

Para as operações de multivarejo e Éxito, o banco diz ver um cenário negativo em 2021. Os analistas da instituição afirmam, contudo, que, se a operação de multivarejo entregar bons indicadores de vendas em mesmas lojas em 2021, isso impulsionaria sua convicção de que uma mudança no comportamento do consumidor mais estrutural, e que haveria tendência de alta dos preços das ações.

Saiba mais sobre a estreia de Assaí na B3 na última segunda-feira assistindo ao vídeo abaixo: 

(Com Estadão Conteúdo)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.