Os pregões mais marcantes da Bolsa brasileira em 2023

Queda forte no primeiro dia, Americanas e maior sequência de baixa da histórias se destacaram

Vitor Azevedo

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O ano de 2023 termina com um saldo extremamente positivo para a Bolsa brasileira, que até o pregão desta terça-feira (26) acumulava ganhos de 21,6%, superando a marca dos 113,5 mil pontos – o que representa um recorde histórico.

Quem olha apenas o desempenho final do ano, porém, se engana ao achar que foi só alegria entre os investidores. No meio do caminho, entre altas e baixas, houve até mesmo um recorde histórico de quedas consecutivas.

Logo no início do ano, entre os dias dois e três de janeiro, por exemplo, o índice caiu 5%, com baixas de 3,06% e 1,47%, respectivamente.

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Na ocasião, investidores foram às vendas, temerosos com as atitudes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recém empossado. 

As ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4) caíram, respectivamente, 6,67% e 6,45% no primeiro dia do ano, repercutindo o discurso de posse do petista. Lula, então, atacou os lucros “exorbitantes da petroleira”.

Fora isso, logo que assumiu determinou que seus ministros revogassem atos que iam em direção à privatização das estatais.

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Ele também, logo de cara, prometeu que revogaria questões como o teto de gastos e a reforma trabalhista, o que estressou a curva de juros e, consequentemente, os ativos de risco. Havia, portanto, um forte temor de que o novo governo seguiria por um caminho de “gastança”. 

Americanas

No dia 12 de janeiro, outro baque para a Bolsa brasileira e para o Ibovespa: o estouro do escândalo da Americanas (AMER3). Como consequência, o preço da ação evaporou, disseminando preocupações sobre todo o setor varejistas, já que outros casos parecidos poderiam ocorrer. 

Os investidores viram, assim, os papéis da varejista passarem de maior alta do Ibovespa em janeiro – até a sessão da véspera (com avanço de cerca de 24%) – para a maior queda de 2023, com menos 90% e os papéis fora do Ibovespa, já que a empresa entrou com pedido de recuperação judicial.

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Em apenas um pregão, a companhia viu seu valor de mercado desabar de R$ 10,83 bilhões para R$ 2,45 bilhões, uma queda de R$ 8,38 bilhões. O papel AMER3 derreteu 77,33%, a R$ 2,72 – um dia antes fechou valendo R$ 12.

O ano, contudo, também foi feito de fatos positivos. No dia 11 de abril, o Ibovespa teve o seu primeiro pregão marcante do lado dos ganhos, com uma alta de 4,29% – a maior do ano.

Na manhã daquele pregão, houve uma surpresa positiva com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março, que veio abaixo do esperado e animou os investidores. 

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“O IPCA de março abaixo do esperado desencadeou uma onda de otimismo e reprecificação dos ativos de risco, com alta do Ibovespa e do real, enquanto os juros futuros caíram. O IPCA apresentou queda nos núcleos e abriu uma brecha para a possibilidade de corte da Selic em junho, em momento em que também há otimismo com o andamento da proposta do novo arcabouço fiscal”, ressaltou Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, na época.

Maior sequência de quedas da história e nova máxima

Enquanto isso, no dia 17 de agosto, o Ibovespa teve mais uma data marcante com a renovação do seu recorde histórico de maior sequência de quedas. Foram 13 pregões consecutivos de baixa em agosto, acumulando 5,71% de perdas – mas isso após ter subido 20% nos quatro meses que antecederam julho.

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De forma geral, na época a movimentação foi atribuída a um movimento de realização de lucros, bem como por preocupações quanto à economia da China. As notícias negativas vindas do oriente, ajudaram a derrubar o índice, prejudicando, especialmente, a Vale (VALE3), por conta do minério. O país asiático vinha frustrando com seus dados econômicos e até então não havia anunciado estímulos.

No dia 14 de dezembro, por fim, outro pregão histórico, com o Ibovespa superando, pela primeira vez no ano, sua máxima de fechamento em moeda local, aos 130.842 pontos – isso após uma sequência de altas. O movimento se deu um dia após o Federal Reserve manter as taxas de juros inalteradas nos Estados Unidos, mas com seu presidente, Jerome Powell, dando sinalizações consideradas mais brandas.

A percepção do mercado foi que os juros na maior economia do mundo passaram do ponto mais alto do ciclo de elevação. Assim, para frente, a percepção passou a ser de que as taxas passariam a ser acomodadas em níveis mais compatíveis ao apetite por risco – ou seja, possibilidade de cortes na taxa de referência dos EUA, logo adiante, como antecipava o mercado.

“O mercado rapidamente fez a leitura de que o ciclo de cortes iria começar. A treasury para dez anos afundou. E, a partir dai, é óbvio que as Bolsas tiveram altas muito fortes”, pontuou Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.