Os políticos de costas para o capital e o trabalho

Há uma crise política “autônoma” não relacionada com os interesses do país, mas com os dos políticos

Francisco Petros

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Se tivéssemos que fazer uma classificação tipológica da crise brasileira atual teríamos de distinguir com precisão as duas “subcrises” que estão a vigorar no cenário. A eventual confusão entre elas engendra um processo de confusão analítica que acaba por levar a conclusões incompatíveis com a realidade atual. Vejamos.

A tal da crise política é autônoma, de fato. Esta não tem relação direta com a situação econômica que atormenta os agentes econômicos, leia-se, os empresários, enquanto representantes do capital, e os trabalhadores, enquanto mercadores de sua força de trabalho. A turbulência política é fruto, isso sim, do proveito político que os principais líderes políticos estão tirando em relação ao governo para obter espaços no poder instalado desde as eleições do ano passado (no caso dos partidos que “apoiam o governo Dilma Rousseff”) ou para fustigar o governo (no caso dos partidos de oposição ao governo).

Alguém poderia argumentar que este é o tal do “jogo democrático”. Ocorre que no Brasil o que está a ocorrer é que esse processo não tem a menor raiz social e econômica. Trata-se de jogo meramente clientelista e arrastado pelo mais vil interesse imediatista dos partidos do governo e da oposição. Ademais, deputados e senadores que estão sendo investigados por algumas das operações da Polícia Federal, notadamente a Lava Jato, estão abertamente chantageando o governo e, indiretamente, os distintos representantes do capital e do trabalho.  

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É o caso de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Impressiona como este tipo de parlamentar pode vocalizar as suas chantagens na mídia sem reação vigorosa da sociedade vez que a resposta do governo é bem frágil dada a sua fragilidade perante a opinião pública – 9% de popularidade é muito pouco. (Alguns setores econômicos, tal como a Sociedade Rural Brasileira até prestaram homenagens a Eduardo Cunha dias antes das denúncias no âmbito da Lava Jato serem reforçadas).

Como se vê, o jogo político em Brasília, apenas aprofunda ou minimiza a crise econômica conforme o grau de interesse que a classe política tem em reduzir ou aumentá-la em prol se seus próprios interesses. A corrupção e o clientelismo são aspectos essenciais nesse contexto para os governistas. O desgaste do governo é importante à oposição. Note-se que no que tange à oposição, como se pode justificar votos como aqueles dados ao fim do fator previdenciário, altamente perniciosos à finança pública senão em prol de seus interesses imediatos? Vê-se que a crise política não se comunica diretamente com a crise econômica, mas de fato se aproveita desta última às custas do capital e do trabalho.

Do lado econômico a crise corre solta por conta desta “autonomia” da crise política, marcada pela chantagem oficialista e pela irresponsabilidade oposicionista, e, diretamente, pelas consequências do “analfabetismo” macroeconômico da Presidente Dilma Rousseff durante o primeiro mandato. Tal processo foi marcado pela quebra das regras mais primárias da administração econômica que informam o gestor público que a combinação de déficit externo cavalar, déficit primário enorme e crescente, câmbio valorizado, tarifas comprimidas, programas econômicos e sociais que de nada servem ao aumento da produtividade, etc., etc. é explosiva para qualquer economia. Um dia o preço é cobrado e este momento é agora.

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A presidente bem fez em mudar o curso da política econômica – não teria alternativa. No seu governo, o que há de melhor é Joaquim Levy, não porque o ministro seja um gênio, mas porque está fazendo a coisa certa e, até mesmo, óbvia. Todavia, está enfrentando um Congresso que vira as costas para o país (o capital e o trabalho) e chantageia a presidente e a todos nós. Além disso, o partido da presidente (o PT), liderado por um ex-presidente da República que imagina ser um grande líder, mas que de fato é um engodo, fascinado por empreitadas duvidosas e empreiteiros presos. O PT está em busca do seu proselitismo perdido. Um eventual processo de impeachment de Dilma pode trazê-lo de volta: o discurso do golpismo.

Se a política e a economia não andarem no mesmo sentido, sem chantagens de lado a lado e olhando para os verdadeiros interesses do capital e trabalho, a crise institucional será feita por gente como Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Lula. O Brasil merece isso? Pense nas empresas paradas e nas famílias dos desempregados para responder a esta pergunta.