Oferta maior pode se tornar risco para empresas de papel e celulose no longo prazo

Companhias, com recente aumento de preços e benefícios de empréstimo ESG, passaram a investir em expansão de plantas

Vitor Azevedo

Foto: Klabin/Divulgação

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Recentemente, companhias do setor de papel e celulose anunciaram uma série de expansões em fábricas, o que deixou alguns analistas em alerta quanto à possibilidade de novas pressões no custo da commodity pelo lado da oferta no médio e longo prazo.

Algumas avaliações positivas feitas por especialistas para empresas como Suzano (SUZB3) e Klabin (KLBN11) há não muito iam na linha de que o oferta de papel e celulose não devia aumentar no médio prazo, por conta dos preços ainda pressionados e juros altos, que deveriam afastar novos investimentos.

Há cerca de uma semana, no entanto, a CPMC confirmou o plano de instalar uma nova fábrica no Brasil, com investimento de US$ 4,6 bilhões. Já a Eldorado, por volta do dia 20 de abril, anunciou o investimento de R$ 25 bilhões em uma nova linha no Mato Grosso do Sul.

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“Acreditamos que extensos planos de expansão na América Latina estão de volta e se materializarão. A capacidade de celulose na América Latina cresceu 15 milhões de toneladas por ano nos últimos 10 anos e mais 15 milhões estão planejados até o final da década (próximos 6-7 anos), considerando as notícias mais recentes”, diz o time do Goldman Sachs, encabeçado por Marcio Farid.

Segundo o Goldman Sachs, alguns investidores chegaram a questionar a credibilidade dessas expansões. Recentemente, o preço da celulose sofreu certa pressão, principalmente nos últimos meses de 2023. Parte do mercado, na ocasião, passou a enxergar que a produção não se sustentava nos patamares da época, chegando a projetar possíveis cortes de produção.

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No entanto, o primeiro trimestre de 2024 trouxe uma surpresa positiva. O problema, no fim do ano passado, se deu principalmente do lado da demanda, com juros mais altos mundo afora impactando o consumo e a economia da China frustrando as expectativas. No começo deste, porém, as demandas tanto na China quanto na Europa surpreenderam positivamente, com algumas casas revisando suas projeções para o final do ano.

Desde então, o preço da celulose estacionou em patamares mais saudáveis. Hoje, as toneladas de hardwood e softwood são precificadas, na China, em US$ 713 e US$ 798 — e o Goldman vê que as companhias enxergam o intervalo entre US$ 650 e US$ 700 por tonelada como base para o retorno sobre os investimentos necessários.

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“As empresas estão usando essa faixa de preço para aprovação de projetos, ou utilizando alavancagem para melhorar os retornos, ou têm uma justificativa estratégica para aceitar retornos mais baixos (por exemplo, garantir o fornecimento de matéria-prima)”, contextualizam.

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O Goldman Sachs pontua que a visão é que a demanda por celulose seguirá aumentando nos próximos anos. Fora isso, muitos projetos do setor têm incentivos para sair do papel, como, por exemplo, usufruindo de “empréstimos ESG”, com taxas menores, já que a indústria em questão tem boas credenciais nessa frente. Mas, para eles, o principal desafio da indústria no longo prazo será manter a capacidade adicional apertada , mesmo diante da demanda crescente.

Ajuda a elucidar certo receio do mercado com novos projetos o recuo da Suzano após o anúncio de que a companhia possivelmente irá fazer uma oferta bilionária pela IP, focada na produção de embalagens.

O Morgan Stanely, por exemplo, citou que apesar de a movimentação colocar a Suzano em um mercado maduro e diminuir a volatilidade dos lucros, hoje muito dependentes da celulose, a alavancagem da companhia poderia ser um problema. Ainda mais em um cenário no qual não se sabe como ficará, no futuro, a relação entre oferta e demanda.