Oferta apertada versus temores de recessão: o que deve predominar nos preços do petróleo?

Agentes de mercado estão divididos, mas notam assimetria positiva para petróleo, destaca XP em relatório após evento com setor

Equipe InfoMoney

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O conhecido cabo-de-guerra entre oferta e demanda de petróleo segue dando o tom do mercado da commodity. Na sexta-feira, o petróleo caiu em meio às difíceis negociações sobre o teto da  dívida nos EUA e o alerta do Federal Reserve sobre inflação alta, mas conseguiu subir na semana; já nesta segunda, enquanto as preocupações sobre os EUA permanecem, o aperto da oferta no Canadá e países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) dão suporte aos preços, com o brent negociado na casa dos US$ 75 o barril.

Com base nisso, a XP destacou em relatório as conclusões sobre o mercado após realizar um evento para discutir as perspectivas para os preços do petróleo.

As principais conclusões foram: (i) o consenso é que o petróleo está caminhando para um mercado com oferta insuficiente no segundo semestre de 2023 (2S23); (ii) a Opep atuará de forma “pró-ativa” e “preventiva”, mantendo um piso para os preços do petróleo; (iii) as incertas perspectivas macro deixam os participantes do mercado menos entusiasmados com as commodities, mas parece que o petróleo tem uma assimetria positiva no curto prazo; (iv) o mercado está em um lento (contínuo) processo de normalização dos mercados de derivativos após a eclosão da guerra Rússia/Ucrânia, que reduziu as posições em aberto, ampliou os spreads compra/venda e aumentou a volatilidade (mas os produtores ainda não estão fazendo hedge) e (v)  por fim, a cadeia global que abastece empresas de exploração e produção está se normalizando.

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Os analistas Andre Vidal e Helena Kelm, que assinam o relatório, apontam que, no geral, o sentimento dos diversos agentes de mercado permanece dividido entre o que parece ser um equilíbrio estreito entre oferta e demanda de petróleo à medida que se avança para a segunda metade do ano contra os temores de uma recessão global que pode pesar mais na demanda.

“Acreditamos que as palavras da Agência Internacional de Energia (IEA), em seu recém-lançado Relatório de Petróleo de maio, resumem muito bem o sentimento atual: ‘o atual pessimismo do mercado (…) contrasta fortemente com o equilíbrio de mercado mais apertado que prevemos no segundo semestre do ano em que a demanda deverá eclipsar a oferta em quase 2 mb/d [milhões de barris/dia]”, aponta.

Vidal e Helena reforçam que o cenário macro é difícil de navegar, e os dados de demanda de uso final para derivados de petróleo são uma ilustração desse enigma: enquanto a demanda por gasolina e combustível de aviação está aumentando (demonstrando que os consumidores ainda estão comprando e viajando), o diesel está reduzindo (refletindo um ambiente mais desafiador para o setor manufatureiro).

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Enquanto isso, a a estratégia da Opep parece clara e esses países produtores darão um piso para os preços do petróleo. O gestor de fundos multimercado da Legacy Capital e especialista em commodities, Ricardo Kazan, vê os dados macro mais como a perspectiva do “copo meio cheio”, pensando que é mais provável um cenário de soft landing (pouso suave da economia) do que hard landing (pouso brusco da economia).

Ele aponta que o motivo da queda recente do petróleo (que teve somente na semana passada sua primeira semana de ganhos em um mês) está mais na oferta do que na demanda, mas vê um mercado subofertado para o 2S23 (ajudado pela sazonalidade), assim como a IEA.

Kazan, citando as próprias palavras da Opep, vê o cartel agindo de forma “pró-ativa” e “preventiva”, cortando a produção para estabilizar mercados e preços. Para ele, o outlier (ponto “fora da curva”) da estratégia do grupo Opep+ tem sido a Rússia, que não está cortando produção e, como os dados vêm mostrando, está inundando os mercados globais com petróleo bruto e derivados.

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Os EUA, avalia o gestor, deveriam agir agora para reabastecer pelo menos parte de suas Reservas Estratégicas de Petróleo (“SPR”), mas não está claro se eles aproveitarão essa oportunidade ou não. Assim, pelo menos no curto prazo, ele vê uma assimetria positiva para os preços do petróleo.

Para o gestor, as próximas semanas serão cruciais para a guerra, já que a Ucrânia foi alimentada com armas de países ocidentais e parece disposta a infligir dor ao território russo, o que talvez possa causar interrupções na produção russa de petróleo e gás. Na frente geopolítica, ele destacou que a influência da China no Oriente Médio está crescendo e provavelmente ultrapassando os EUA. Ele acredita que a crescente influência da China no Oriente Médio terá profundas consequências a médio e longo prazo para a geopolítica, o petróleo e o papel do dólar no comércio internacional.

Peter Keavey, manager Director e chefe global de energia e produtos ambientais do CME Group, apontou, por sua vez, que o que aconteceu em 2022 – quando os mercados de derivativos de energia, metais e agricultura sofreram um movimento simultâneo de “disrupção” -, foi um outlier por “muitos anos por vir”.

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Ele vê um processo lento (em andamento) de normalização nos mercados de derivativos após o início da guerra Rússia/Ucrânia, que reduziu as posições em aberto, ampliou os spreads de compra e venda e aumentou a volatilidade.

Rodrigo Pizarro, CFO da 3R (RRRP3), compartilhou seus insights da perspectiva de uma empresa junior baseada no Brasil. A empresa não faz previsões quanto a preços, mas disse trabalhar com uma gama de resultados possíveis (em torno de US$ 70 a US$ 90 por barril em 2023) para ajustar as necessidades de financiamento da empresa para vários cenários possíveis. A empresa ainda apontou que uma das motivações para a 3R decidir por um (polêmico) aumento de capital foi estar do lado seguro caso o pior cenário para os preços do Brent se materializasse.

Assimetria, mas cabo de guerra continua

Os analistas da XP apontam que, em conversas diárias com gestores, enxergam que o petróleo continua sendo a commodity favorita para a maioria. Mas, de uma perspectiva bottom-up (olhando para o micro para depois olhar o macro), a maioria dos fundos não está favorecendo grandes alocações para o complexo de commodities em geral neste momento, devido às incertas perspectivas macroeconômicas.

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“Isso parece condizer com o que foi discutido no evento: que o petróleo tem uma assimetria positiva para o curto prazo, e nós concordamos com essa visão”, apontam os analistas.

Vidal e Helena citam ainda um fato ocorrido recentemente e que pareceu ter passado quase despercebido pelos mercados: o governo russo ordenou que a publicação de estatísticas sobre a produção de petróleo, gás e condensado seja suspensa até 1º de abril de 2024.

“Os otimistas podem ver isso como um sinal de que a produção da Rússia finalmente cairá (e Moscou não quer ‘revelar’ essa fraqueza ao mundo), enquanto os pessimistas podem perceber isso como uma estratégia para bombear ainda mais petróleo de forma ‘despercebida’ (embora os dados de exportação sejam mais difíceis de esconder no mundo tecnológico em que vivemos)”, apontam.

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A XP aponta estar mais próxima à visão dos otimistas, embora seja preciso mais tempo para ter certeza disso. Os analistas apontam ainda que os investidores devem ficar de olho na produção de líquidos dos EUA, que tem surpreendido positivamente, apesar de todas as menções à disciplina de capital, inflação de custos e gargalos de oferta (uma ilustração disso, dois dias atrás, a EIA revisou os números para a atividade de perfuração do país).

“Do ponto de vista de um investidor de ações no brasil, acreditamos que uma estratégia que combine as ações da Petrobras (PETR4) (beta baixo, ou variação baixa, frente o petróleo) com uma empresa ou uma cesta de empresas de petróleo júnior (beta alto para o petróleo) parece uma boa estratégia para navegar no ambiente macroeconômico incerto”, apontam.