O que está acontecendo no Mar Vermelho e qual a influência no mercado de petróleo

Os recentes ataques têm elevado os preços de petróleo e as incertezas sobre futuro da commodity

Camille Bocanegra

Guindastes no porto, Mar Vermelho do Norte, Massawa, Eritreia (Foto de Eric Lafforgue/Art in All of Us/Corbis via Getty Images)

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Desde novembro, uma das rotas marítimas mais importantes do comércio internacional tem se mostrado insegura para a empresas de transporte naval. O Mar Vermelho, que liga a Ásia à Europa da forma mais curta, deixou de ser a melhor alternativa para transportes, em especial de petróleo, por ataques de militantes Houthi, baseados no Iêmen.

Para o petróleo, o início da semana foi de ganhos, em especial com a perspectiva de mais interrupções no Mar Vermelho, ainda que um bloqueio total não seja esperado pela comunidade internacional. O brent se aproximou dos US$ 80 por barril na sessão de ontem (19) após passar por avanços de mais de 3% nas duas sessões anteriores, interrompendo assim uma sequência de baixas.

A possibilidade de interrupção logística no fornecimento de petróleo tende a apoiar os preços. Além disso, a chance de envolvimento de países responsáveis por grandes produções de petróleo – sobretudo o Irã – vem sendo um dos riscos mais monitorados para a oferta global desde o estopim do conflito entre Israel e Hamas, em outubro.

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Já nesta quarta à tarde, o brent apresentou discreta, com avanço de 0,44%, com barril cotado a US$ 79,58.

O aumento destaca a vulnerabilidade de um ponto-chave para os fluxos de petróleo, à medida que as potências globais redesenham o mapa do comércio mundial de energia. Nos últimos dias, com a escalada significativa de ataques a navios mercantes pelos militantes Houthi, baseados no Iêmen, levou empresas como a BP e a Equinor a interromperem os envios e a redirecionarem os navios, com os preços do petróleo subindo inicialmente com a notícia.

Politicamente alinhados ao Irã, o grupo Houthi tem realizado ataques a navios comerciais em apoio ao Hamas, de acordo com a Bloomberg. Os alvos escolhidos pelo grupo têm sido embarcações ligadas a Israel e aos EUA majoritariamente. Apesar de motivados pela guerra entre Israel e o Hamas, o grupo tem como inimigos o país judaico e os EUA desde antes do início dos conflitos.

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Mais de cem navios porta-contêineres estão optando pela rota mais longa ao redor da África para evitar a violência no Mar Vermelho, gerando custos extras e atrasos, enquanto os EUA consideram como responder à mais recente ameaça à economia global.

De acordo com a gigante logística Kuehne+Nagel, 103 navios porta-contêineres estão mudando sua rota do Mar Vermelho ao redor da África. Empresas também estão começando a considerar o uso de rotas ferroviárias e aéreas, pois a via navegável que transporta 12% do comércio global é considerada muito perigosa para ser atravessada.

Mesmo navios de países que, em tese, não estão na mira do grupo estão evitando o tráfego pela região. É o caso da Rússia, que tem Teerã como aliado assim como o grupo Houthi, e tem optado por jornadas mais longas para compradores na China e na Índia.

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Ainda assim, não há garantia que alguma embarcação não seja atingida por engano, uma vez que apenas navios de ajuda humanitária e da Cruz Vermelha estão com tráfego livre declaradamente.

Embora a crescente tensão no Mar Vermelho não tenha mudado significativamente a perspectiva para o petróleo, ela potencialmente sinaliza uma escalada do conflito, o que poderia ter implicações significativas, disse Daniel Hynes, estrategista sênior de commodities na ANZ Group Holdings Ltd. “É um alto risco que o mercado precisa levar em consideração”, afirmou em uma entrevista à Bloomberg TV.

(com Bloomberg e Estadão)