O que a safra de balanços nos EUA já trouxe – e o que vem pela frente?

Lucros das companhias americanas no S&P500 devem subir 3,5% no 1º trimestre na base anual

Camille Bocanegra

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A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2024 começou nos EUA e os números de companhias como Bank of America, Goldman Sachs e Netflix já foram divulgados. A safra deve ganhar tração de fato a partir de 22 de abril, quando mais de um terço das companhias reportam seus resultados.

Na expectativa de Maria Irene Jordão e Paulo Gitz, analista e estrategista global do Research da XP, a temporada deve vir “boa, mas sem grandes surpresas”. A alta esperada pelo consenso para o S&P 500 é de 3,5% na comparação anual.

A falta de expectativa por surpresas positivas vem da soma de fatores como a desaceleração no crescimento econômico dos EUA, a estagnação do processo desinflacionário da economia e o efeito negativo do dólar, que apreciou frente as principais moedas no primeiro trimestre.

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“Julgamos que a ainda forte economia dos EUA, com crescimento real previsto de 2% (ou mais), baixo desemprego e consumo das famílias ainda elevado seguirá sustentando os lucros das empresas nestes primeiros três meses de 2024. Portanto, deveremos ver o terceiro trimestre consecutivo de crescimento de lucros interanuais. As estimativas do mercado, hoje, mostram um crescimento de +3,5% ante o primeiro trimestre de 2023”, afirmam os analistas, que também ressaltam não esperar surpresas positivas nos guidances.

Dentre os setores, os destaques positivos esperados pela XP são Tecnologia, com alta de receita de 6,8% e de lucro de 19,6%, como reflexo do bom momento de subsetores de software, contando com Microsoft (+15%) e Nvidia (+404%). Os analistas destacam, ainda, o setor de comunicações com potencial boa receita, com alta de 7,4% e lucro de +19,3%. O segmento seria impulsionado pelo alto crescimento dos lucros da Meta Platforms (+94%), Alphabet (+30%) e Netflix (+56%). No setor de consumo discricionário, a Amazon (+169%) compensaria quedas significativa do setor automotivo, arrastado pela Tesla (-33,3%), Ford (-33%) e GM (-23%).

Balanços americanos

Para William Castro, estrategista-chefe da Avenue, a expectativa é que 5 dos 11 setores do S&P 500 apresentem crescimento nos lucros neste ano (de acordo com as estimativas do mercado). Os setores de Utilidades Públicas e Tecnologia da Informação devem apresentar maior expansão de lucros.

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Castro explica que a expansão para Utilidades Públicas se baseia na comparação fraca e na queda dos preços do gás, principal insumo para o setor. Tecnologia, por sua vez, pode ser beneficiado tanto pelo crescimento das “Mag 7” quanto pelo maior controle de custos e despesas que as companhias adotaram ao longo de 2023.

Na outra ponta, o estrategista-chefe vê com menos otimismo setores como Material Básico e Energia. A visão mais pessimista é baseada nos preços de gás natural significativamente mais baixos em comparação com o ano anterior e de diversas commodities também não tiveram um desempenho significativo no período. A visão da XP é similar e considera que quedas nas commodities e nos preços realizados de petróleo e derivados no 1º trimestre impactam negativamente as previsões do setor.

Bancos americanos

“Para os bancos, que iniciam esta safra, espera-se um crescimento modesto nos lucros de 1,7% na comparação anual. Em suma, o ritmo de crescimento dos empréstimos tem sido relativamente fraco. Após o susto com o Silicon Valley, as perdas de crédito continuam a normalizar-se, mas é possível que os bancos aumentem suas reservas para se prepararem para perdas futuras”, afirma Will Castro.

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A temporada foi iniciada com dados dos principais bancos dos EUA, que superaram as expectativas. O Goldman Sachs teve crescimento do lucro e, de acordo com analistas da Avenue e da XP, contou com contribuição da divisão de renda fixa para estabilidade do resultado. Já o Bank of America apresentou queda no lucro mas com dados dentro do esperado. A Avenue destacou que, mesmo com margens mais apertadas, os números do banco vieram dentro das expectativas tanto em receita quanto em lucro por ação.

Netflix decepionou por guidance

Por enquanto, o destaque da temporada não foi um balanço mas sim as orientações (guidance) fornecidas pela Netflix. A gigante de streaming apresentou bons números mas trouxe estimativas mais fracas que o esperado para os próximos trimestres. Além disso, “o anúncio de que irão parar de reportar os números trimestrais de assinantes e receita média por usuário deram um tom mais negativo ao anúncio”, de acordo com a XP.

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