O feixe de luz que existia se apagou e varejo padece: em 4 dias, 2 bancos dizem ‘vai piorar’

Morgan Stanley cortou hoje a recomendação de seis ações de sua cobertura, apontando que fraqueza no setor persistirá para 2016; já o BTG ressalta que o fundo do poço das varejistas ainda não chegou

Paula Barra

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SÃO PAULO – Em apenas quatro dias, duas grandes instituições alertaram que a situação do setor de varejo vai piorar. Enquanto uma ressaltou que o fundo do poço ainda não chegou, a outra destaca que o mercado ainda não precifica um 2016 também enfraquecido. O consenso das projeções apontam para uma aceleração das vendas, que para o banco, não vai ocorrer. As perspectivas negativas migram para o 2016, que deve marcar outro ano perdido para o setor. 

Por conta de um cenário nebuloso para o ano que vem, o Morgan Stanley cortou hoje a recomendação de seis ações do setor do seu universo de cobertura. Juntamente a isso, a Natura (NATU3) deu largada ontem à noite à temporada de balanços do terceiro trimestre do setor. O que se viu foi a confirmação do cenário que vinha sendo traçado para o setor: com vendas impactadas, principalmente pelo cenário macroeconômico desfavorável e aumento da carga tributária. A resposta aos números veio na Bolsa, com as ações da companhia desabando 3%, em sessão de forte alta do Ibovespa. 

Um resultado que não deve ser só amargado pela Natura no terceiro trimestre. Com a demanda brasileira se deteriorando rapidamente, com crescente desemprego e queda na confiança do consumidor, o setor de varejo, que antes era considerado até defensivo pelos analistas, deve enfrentar mais um período difícil. Até a Lojas Renner, que até o segundo trimestre era o brilho praticamente isolado no setor, deve apresentar crescimento mais modesto, com estimativa do Credit Suisse de que mostre expansão de apenas “um dígito médio” no lucro líquido. 

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Das instituições que cortaram projeções para o setor nessa semana, o Morgan Stanley diz que a atual fraqueza vista no consumo brasileiro vai persistir para 2016. “Nós acreditamos que o consenso ainda está muito elevado para o setor e as ações não estão precificando um 2016 fraco”, disseram Franco Abelardo e Lyssia Carreira, analistas do setor. Segundo eles, as projeções do consenso do mercado aponta uma aceleração das receitas e lucros no ano que vem, contra 2015, mas não é isso que o modelo tem apontado. 

Todos os nomes do setor da cobertura do Morgan indicam lucros abaixo do consenso do mercado, principalmente Pão de Açúcar (PCAR4), B2W (BTOW3) e CVC (CVCB3). Da mesma, os analistas comentam que os múltiplos da maioria das ações estão acima da média histórica – isto é, pelos fundamentos, os papéis teriam espaço para cair até se ajustarem à sua média.  

Um pessimismo que fez o banco cortar a recomendação de seis ações do setor: as ações da Lojas Americanas e CVC foram para “equal-weight” (exposição em linha com a média) e Grupo Pão de Açúcar (PCAR4), Lojas Renner, Cia Hering (HGTX3) e Hypermarcas (HYPE3) para “underweight” (exposição abaixo da média). O banco manteve as recomendações de Natura (NATU3) e B2W (BTOW3) em “equal-weight”. 

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O banco trabalha com cenário de contração de 3,9% das vendas do varejo em 2016, em termos reais, após queda de 3,8% em 2015. O Morgan Stanley citou fatores como inflação, altas taxas de juros, queda da renda, desemprego e valorização do dólar. Para a instituição financeira, as vendas do varejo só devem ser retomadas no primeiro trimestre de 2017.

Na segunda-feira, foi a vez do BTG fazer seu alerta ao setor: a má notícia é que o fundo do poço ainda não chegou: vai piorar. O banco estima queda de 55% no lucro líquido das varejistas no período quando comparado com o mesmo trimestre de 2014. Um resultado que será impactado basicamente por seis empresas: Pão de Açúcar, Via Varejo, Magazine Luiza (MGLU3), Hypermarcas, Restoque (LLIS3) e Natura. Essas seis empresas serão responsáveis por 97% da queda do lucro no setor.

Eles acreditam que Via Varejo, Pão de Açúcar e Magazine Luiza são as mais impactadas no setor atual, de expectativa de vendas no segmento “mesmas lojas” (lojas abertas há, no mínimo, um ano) bem negativa e queda substancial no lucro. Na mesma linha, eles apontam que Cia Hering e Natura enfrentam vários problemas micro e competição acirrada, o que contribuirá para um resultado pior.

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