O Brasil pode ser um “no doubts, my friend” e isso deve ajudar o Ibovespa

O tom pessimista com Brasil havia infectado a mente dos maiores investidores locais; porém, este sentimento passou ao longo da primeira parte do ano

Lucas Collazo

Publicidade

Caros(as) leitores(as),

“Com certeza, no doubts” foi a resposta de Rogério Xavier quando o questionei se já era a hora de tomar mais risco no Brasil. Poucas palavras que dizem muita coisa.

No texto da última coluna, explanei algumas visões sobre essa alta recente da Bolsa ser um “voo de galinha” ou não. Hoje gostaria de comentar mais algumas questões de fluxo.

Continua depois da publicidade

Essa resposta de Xavier diz muito sobre como os gestores multimercados mudaram de cabeça recentemente. O tom pessimista com Brasil havia infectado a mente dos maiores investidores locais.

Questões políticas, fiscais e monetárias foram os pilares para essa indigestão com o cenário verde e amarelo. Porém, conforme a primeira metade desse ano foi passando, a leitura mudou.

“Talvez o Brasil não seja tão ruim assim” foi a frase que saiu das minhas telas ao longo desse processo. Comentei sobre o sentimento na última oportunidade que tivemos aqui. Os multimercados que estavam apostando contra a Bolsa brasileira desistiram dessa tese e os que eram mais neutros passaram a comprar levemente.

Continua depois da publicidade

Uma descompressão de risco, como falamos no jargão do mercado. Porém, o que mais está por vir?

Temos 3 pilares para discutir: “gringo”, gestores e pessoas físicas. Vamos lá:

1 – “Welcome (back) to Brazil, my friend”

 O investidor estrangeiro não enxerga o Brasil como um investimento estrutural, de maneira geral. Costuma ser atraído por questões cíclicas ou conjunturais, como commodities, descontos no câmbio, preços atrativos na Bolsa ou juros reais elevados.

Publicidade

Dito isso, temos uma relação infiel com esse tipo de investidor. A facilidade com que os recursos são aplicados por aqui é a mesma com a qual eles nos deixam.

A queda dos juros abrupta que assistimos durante a pandemia, como consequência, a queda do diferencial de juros entre o Brasil e demais economias desenvolvidas, afugentou parte do capital estrangeiro. O aumento do risco perceptível na economia com o aumento do endividamento, ou mesmo a falta de opções ligadas com tecnologia, tudo isso nos deixou menos interessantes.

Nesse momento, essa relação pode “apimentar” novamente. O preço sobre lucro da Bolsa nos EUA (MSCI) está próximo a 19,4, enquanto nos emergentes temos 12. Ambos acima de suas médias históricas. Logo, não podemos dizer que os “EMs” estão uma pechincha, mas no relativo bem mais atrativos.

Continua depois da publicidade

Quando quebramos caso a caso a leitura muda. Rússia está fora do jogo por questões claras geopolíticas.

China, a parcela mais relevante dos emergentes, assusta e confunde investidores. Tende mais para o pessimismo.

Índia é uma eterna promessa de uma “China mais barata”. Há anos isso é discutido nos mercados e nunca se concretiza.

Publicidade

Quem sobrou? México e Brasil.

D modo geral, as empresas mexicanas possuem mais qualidade quando comparadas com as brasileiras. Isso posto, é natural que elas estejam mais caras – e esse prêmio é imposto pelo mercado por esse motivo.

Toda a discussão de nearshoring beneficia a geografia próxima da maior economia do mundo. Ou seja, é um concorrente à altura, mas que vai atrair parcela do capital.

O Brasil é um bom pretendente. Podemos atrair outra parcela desse fluxo.

2 – “Ah, agora você não está mais bravo comigo?”

As gestoras de recursos, na média, não carregaram grandes alocações em Brasil. O mercado ficou “de mal” com os ativos locais.

Pazes feitas, parte desse fluxo já mudou de direção. Os fundos seguem com resgates líquidos nas principais classes de risco, como multimercado e ações. Aos poucos, essa tendencia está mudando de direção e, como consequência, gerando mais entrada para ativos como a Bolsa.

3 – “Devagar e sempre, a gente sempre acaba chegando atrasado”

As pessoas físicas, que migraram seus recursos para renda fixa, em especial emissões bancárias, vão sentir a queda de juros diretamente no bolso. Os cortes na Selic esperados a partir de agosto devem cortar também a rentabilidade dessas aplicações.

O brasileiro habituado com o rentismo, zona de conforto gerada pelos juros mais altos, deve voltar a sofisticar a carteira e diversificar em outros mercados. Ainda mais assistindo os principais índices de ações respirarem.

Esse comprador costuma chegar ali no fim, gera maior expansão nos preços desses ativos. É o famoso momentum: ativos que estão subindo, tendem a seguir o movimento.

No geral, os três pontos possuem algo em comum: dúvidas que diminuíram. O Brasil pode ser um “no doubts, my friend” e isso pode ajudar os ativos locais, em especial a Bolsa brasileira.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney