NuCel: lançamento de operadora pode afetar projeções para TIM e Vivo na Bolsa?

Analistas veem alívio no curto prazo uma vez que plano não é agressivo, mas monitoram de perto futuros impactos no mercado

Equipe InfoMoney

Logo do Nubank na sede do banco em São Paulo 19/06/2018 REUTERS/Paulo Whitaker
Logo do Nubank na sede do banco em São Paulo 19/06/2018 REUTERS/Paulo Whitaker

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Na última terça-feira (29), um lançamento agitou o mercado: o Nubank lançou o NuCel, sua iniciativa de telefonia móvel para clientes da instituição e cobertura em quase todo o território brasileiro, fornecendo detalhes sobre seus planos iniciais de celular. Esse tem sido um passo amplamente esperado desde que o banco teve sua operação MVNO (operadora de rede móvel virtual) sobre a rede da Claro aprovada pela Anatel (reguladora brasileira de telecomunicações) no início do ano.

O plano pós-pago, com características de controle, começa em R$ 45/mês com 15GB de dados, cerca de R$ 10 abaixo dos principais planos das três operadoras, mas em linha com outros planos específicos e menos divulgados da Claro (Claro Flex) e da Intercel (MVNO do Banco Inter com a Vivo).

O lançamento do Nubank era monitorado de perto pelos investidores, principalmente para aqueles de empresas de telecomunicações, mais precisamente para os das listadas na B3 Vivo (VIVT3) e TIM (TIMS3), uma vez que seria visto como uma possível ameaça ao atual cenário de calmaria no setor com a saída da Oi (OIBR3).

Conforme destaca a XP, do ponto de vista dos preços, é difícil dizer que os planos irão perturbar o atual ambiente competitivo.

Entretanto, como a equipe de analistas da corretora ressaltou em seu relatório de maio, a Nu possui fatores diferenciais relevantes além do preço, tais como (i) uma estratégia de execução distinta com custos operacionais e de aquisição mais baixos; e (ii) uma experiência de usuário (UX) diferenciada proporcionada por uma abordagem 100% digital e uma marca bem conceituada. Além disso, o banco digital tem um forte canal de vendas, e o foco que ele colocar nessa implementação será crucial para avaliar sua capacidade de atrair e converter clientes nesse novo setor.

Na visão do Bradesco BBI, dado que um eventual lançamento do NuCel já era esperado, o banco tende a ver os novos elementos nas notícias como positivos para as empresas de telecomunicações, uma vez que: (1) os planos da NuCel não trazem aspectos disruptivos em termos de estrutura, (2) os preços da NuCel estão bastante alinhados com os planos das grandes empresas de telecomunicações e (3) os serviços da NuCel são inicialmente endereçáveis apenas a um universo muito restrito de clientes.

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Nesse contexto, vê o Nubank apostando na diferenciação por meio de serviços de atendimento ao cliente e sua forte reputação de marca para “revolucionar” o mercado de telefonia móvel.

O Nubank disse que eliminará complexidades, trará transparência e oferecerá o melhor serviço e suporte ao serviço móvel. “Vemos isso como uma abordagem racional e o cenário mais construtivo que poderíamos esperar da iniciativa móvel do Nubank. Embora a combinação de uma marca forte e serviços eficientes ao cliente deva garantir uma certa participação de mercado para a NuCel, acreditamos que a magnitude das vantagens competitivas da NuCel no mercado de telecomunicações é substancialmente menor do que as que o Nubank tinha no segmento de serviços financeiros, portanto, não esperamos que a NuCel replique um sucesso semelhante, com as empresas de telecomunicações mantendo seu domínio”, avalia.

O BBI aponta que a preocupação inicial quando o Nubank anunciou sua iniciativa móvel há alguns meses era que o NuCel pudesse entrar no mercado com preços muito mais baixos do que as grandes empresas de telecomunicações, forçando imediatamente uma redução nos preços médios do setor. Mas esse pior cenário parece muito improvável agora, na visão dos analistas, com base nos planos anunciados pela NuCel.

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E se a NuCel ganhar espaço no mercado?

No entanto, mesmo praticando preços semelhantes, se a NuCel começar a capturar uma participação de mercado substancial, isso deve desencadear uma reação rápida das empresas de telecomunicações estabelecidas, implicando risco para o atual ambiente construtivo de preços, avalia o BBI, também atribuindo baixa probabilidade a esse cenário.

Finalmente, o segmento de mercado médio (controle) é responsável por aproximadamente 50% da receita móvel total do setor, portanto, uma deterioração nos preços provavelmente afetaria as receitas. Nesse cenário, estima que a Claro também seria impactada negativamente, reduzindo um pouco os incentivos para que a parceria NuCel-Claro continue alimentando uma deterioração no mercado.

O Goldman Sachs também vê impacto limitado no curto prazo para as empresas de telecomunicações; de qualquer forma, vê isso como um fator de risco incremental para o setor, em linha com sua visão de longa data de que a competição no espaço móvel do Brasil deve se intensificar novamente, também após lançamentos de serviços móveis por várias operadoras regionais de fibra, discussões sobre potenciais incentivos regulatórios para operadoras móveis menores e ruído recente sobre o aumento da atividade promocional.

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O banco vê um impacto negativo maior para a TIM do que para a Vivo, dada a maior exposição da TIM ao celular (e ao pré-pago), com exposição muito mais limitada para a América Móvil, dona da Claro (que é menos exposta ao Brasil e é a operadora de rede, o que lhe rende parte das receitas dos planos).

O Itaú BBA também aponta que, embora o preço seja competitivo, não é tão disruptivo quanto inicialmente temido. Assim, por enquanto, o banco mantém as recomendações outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) para Vivo e TIM, com preços-alvo para o fim de 2025 de R$ 61 para VIVT3 e de R$ 21 em 2024 para TIMS3.