7 a 1 no mercado: enquanto Brasil era humilhado na Copa, ações brasileiras disparavam em NY

Há dois anos, os ADRs da Bolsa brasileira subiram forte logo após o 7 a 1 - para o mercado, a goleada sofrida iria afetar Dilma na eleição, mas não foi isso o que aconteceu...

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Há exatos dois anos, o Brasil sofria com a derrota mais humilhante da história da sua seleção, na sua própria Casa. No dia 8 de julho de 2014, a seleção nacional sofreu uma goleada histórica por 7 a 1 para a Alemanha em pleno Mineirão, na semifinal da Copa do Mundo. 

Se o pregão na Bovespa terminou mais cedo no dia 8 por conta do jogo e o dia seguinte não contou com negociações por causa do feriado paulista de 9 de julho, os ADRs (American Depositary Receipts) brasileiros negociados na Bolsa de Nova York “comemoraram” e muito a goleada, enquanto boa parte da população nacional ainda estava perplexa com o resultado do dérbi. O índice Brazil Titans 20 Dow Jones, negociado na Bolsa de Nova York, que têm como principal referência as maiores e mais líquidas ações brasileiras que possuem ADRs, fechou em alta de 1,24%, com destaque para os papéis da Petrobras (PETR3PETR4). Os ADRs PBR, que representam as ações ordinárias da estatal, avançaram 3,52%, a US$ 14,98, enquanto os PBR.A, dos papéis preferenciais, subiram 3,54% naquela data. No dia seguinte, a Bovespa acompanhou o movimento e fechou em alta de 1,8%. 

Para saber o porque da comemoração do mercado, vale fazer uma recapitulação sobre o que foi o ano de 2014 na Bovespa. O período foi de forte volatilidade em meio ao pleito mais disputado da era democrática: sempre quando uma pesquisa mostrava a presidente Dilma Rousseff em baixa na disputa eleitoral para a reeleição, o Ibovespa disparava. Isso porque o mercado “sofreu” na segunda metade do primeiro mandato da petista, com as intervenções realizadas no mercado, com corte da taxa de juros de empréstimo de bancos públicos, regulação das taxas de retorno das concessões e congelamento de preços da gasolina para conter a inflação, o que prejudicou os números da Petrobras, entre outras. Em meio às perspectivas de troca de poder para um presidente mais pró-mercado, o Ibovespa se animava. 

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Assim, o mercado estava à flor da pele naquele ano: qualquer rumor de pesquisa eleitoral ou de notícia que poderia prejudicar a campanha da presidente à reeleição já levava a um grande efeito para a Bolsa brasileira. E, para o mercado, a derrota da Copa do mundo era um fator desestabilizador para a presidente. 

A reação do mercado foi de que, após a derrota, o mercado voltasse a acordar sobre os problemas econômicos e a passageira euforia gerada durante a Copa do Mundo com o governo de Dilma Rousseff minguasse. “A melhora da aprovação do governo Dilma nas últimas pesquisas, impulsionada pela performance da seleção em campo deve ser revertida”, destacou uma das casas de análise. Enquanto tudo corria bem em campo brasileiro, Dilma mostrou uma arrancada nas intenções de voto, de 34% para 38%, mostrou o Datafolha. 

Porém, apesar da derrota humilhante para o Brasil e com tanta volatilidade do mercado em meio à disputa acirrada entre Dilma e o então candidato Aécio Neves (PSDB-MG), ela acabou reeleita com aproximadamente 52% dos votos no dia 26 de outubro, pouco menos de quatro meses depois do trágico dérbi na Copa do Mundo. Vale ressaltar que os últimos meses antes da eleição foram de forte tensão e com outros fatores que embaralharam a disputa, como a morte do candidato Eduardo Campos em um acidente aéreo no dia 13 de agosto daquele ano, sendo substituído por Marina Silva (que chegou a liderar a disputa em setembro, mas não chegou ao segundo turno), enquanto as denúncias de corrupção da Lava Jato seguiram guiando os mercados naquele período. 

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Assim, atropelada por novos acontecimentos, a Bolsa acabou “esquecendo” a Copa do Mundo, mas o pregão pós-jogo ficará marcado como aquele em que até o futebol – erroneamente – foi considerado para traçar previsões sobre as eleições. O que se viu, posteriormente, é que o efeito foi nulo ou, no mínimo, desprezível. E não precisa ir muito longe para observar que o “efeito-Copa” é extremamente baixo para definição do cenário político: na última Copa vencida pelo Brasil, em 2002, foi um ano justamente de troca de estilos de governo. O tucano Fernando Henrique Cardoso deu lugar para o petista Luiz Inácio Lula da Silva, dando início a um período de mais de treze anos em que o PT ocupou a presidência. Em 2006, Brasil perdeu para a França na Copa da Alemanha nas quartas-de-final e Lula conseguiu se reeleger; em 2010, o Brasil perdeu para a Holanda nas quartas-de-final e Lula conseguiu fazer a sua sucessora, Dilma Rousseff. 

Se a Copa não foi suficiente para enfraquecer Dilma, outros fatores de risco seguiram no radar e culminaram com o afastamento da presidente em 12 de maio: crise econômica, Operação Lava Jato, falta de traquejo político da presidente reeleita foram fatores que enfraqueceram a petista e já estavam no cenário em 2014. O futebol não influenciou naquele ano, mas outras questões seguiram em campo e levaram ao ambiente em que estamos hoje. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.