Natura (NTCO3): analistas reforçam otimismo com ações – mas veem companhia ainda melhor se vender The Body Shop

Bradesco BBI, Itaú BBA e JPMorgan revisaram preço-alvo e reforçaram compra para as ações, além de sugerirem próximos passos após venda da Aesop

Lara Rizério

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Depois de um período de baixa logo após a venda da Aesop (considerada por muitos “a joia da coroa”), em abril, as ações da Natura&Co (NTCO3) se recuperaram. Os papéis saíram da casa dos R$ 10 no período e foram para os R$ 16: nesta quinta-feira (20), o ativo NTCO3 fechou com ganhos de 4,96%, a R$ 16,72.

Nos últimos dias, diversas casas têm destacado visões positivas para o papel, principalmente de olho na integração da Natura da América Latina, ao mesmo tempo que vislumbram novas vendas de ativos pela companhia de cosméticos.

Em relatório, o Bradesco BBI elevou o preço-alvo das ações da NTCO3 de R$ 16 em 2023 para R$ 24 em 2024, ou potencial de valorização (upside) de 51%, mantendo recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra).

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“Estamos mais construtivos sobre a integração da Natura/Avon na América Latina antes dos anúncios sobre o progresso esperado para 16 de agosto. A principal força da Natura&Co está no canal de vendas diretas, que é mais competitivo nos mercados emergentes, especialmente na América Latina”, avalia o banco.

Na mesma linha, nesta semana, o Itaú BBA atualizou o preço-alvo para os ativos de R$ 18 em 2023 para R$ 21 ao fim de 2024 (upside de 32%), também vendo a unidade de negócios da Natura & Co na América Latina como o principal impulsionador da geração de valor para a empresa no futuro.

“Embora ainda não tenhamos clareza sobre quando a The Body Shop e a Avon Internacional retomarão o crescimento, elogiamos os esforços da empresa e observamos sinais iniciais de melhoria na lucratividade”, apontam os analistas do BBA.

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Para o banco, a Natura & Co LatAm mostra uma combinação de crescimento da Natura com margens melhores na Avon.

“No curto prazo, esperamos que essa unidade de negócios mantenha a tendência de expansão da margem bruta no ano contra ano, embora com volatilidade na margem Ebitda (Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, sobre receita, ou a chamada rentabilidade operacional) devido à Onda 2 (integração de fato da rede Natura e Avon, com a representante vendendo os dois produtos e fazendo venda cruzada).

“Nosso cenário-base de médio prazo para cada uma das duas marcas é o seguinte: a marca Avon cresce a um ritmo médio de 5% ao ano, com melhoria tanto na margem bruta (cerca de 60%) quanto nas despesas gerais e administrativas; enquanto a marca Natura entra em sua próxima fase de crescimento em outros países da América Latina, especialmente aqueles onde a marca Avon é bem conhecida, gerando alavancagem operacional e alcançando margens brutas na região que, ao longo do tempo, se aproximam dos níveis alcançados no Brasil (por volta de 70%)”, avalia.

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Para o BBA, essas dinâmicas das marcas levam a uma margem operacional de cerca de 14% até 2027 (aumento de 9 pontos porcentuais em relação a 2022).

O JPMorgan também reforçou recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para os ativos e com um novo preço-alvo de R$ 25 para 2024, upside de 57%, ante o de R$ 23 para o fim de 2023.

O banco ressalta que a Natura tem sido uma das ações de consumo/varejo com melhor desempenho na Bolsa brasileira, superando o Ibovespa em 25% e subindo 35% no acumulado do ano.

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Ainda assim, o nível de volatilidade é alto, pois há várias “peças móveis” em seu caso de investimento, dadas as diferentes histórias de mudança (turnaround) em andamento (Avon LatAm, Avon International e TBS).

“No entanto, embora tenhamos visto potenciais de alta nas expectativas de consenso do lado dos gestores no início do ano agora, com base em nossa pesquisa, vemos maior convergência com menor dispersão de estimativa”, avaliam os analistas do JPMorgan.

Isso sugere que os investidores estão de acordo com a tese em torno da simplificação dos negócios com alto foco no fluxo de caixa, mesmo no contexto de que isso deve trazer volatilidade ao crescimento da receita, que provavelmente não será um vetor de alta para as ações até 2024.

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Nesse contexto, embora os analistas do JPMorgan vejam melhorias materiais sendo incorporadas às expectativas dos investidores, apontam que a Natura ​​​​negocia atualmente com um desconto significativo de 30% ante os pares globais de saúde e cuidado pessoal, enquanto ostenta um dos mais fortes saldos de caixa após a venda da Aesop – operação que viram como um movimento transformacional para reduzir o risco de execução de turnaround.

O UBS BB, por sua vez, elevou o preço-alvo para as ações da companhia de cosméticos, de R$ 17 para R$ 18 (upside de 13%), mas seguiu com recomendação neutra para as ações.

Para os analistas, após a venda da Aesop (com conclusão prevista para o 3T23), a Natura&Co poderá desalavancar significativamente e reduzir sua carga de juros, enquanto a administração concentrará esforços em suas principais operações na América Latina e iniciativas de redução em Avon Internacional e TBS.

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Além disso, o lançamento da “Onda 2” ​​na América Latina deve contribuir significativamente para melhorar a economia de pedidos de consultoria e é favorável para margens de longo prazo. Os analistas também veem oportunidades de sinergias fiscais quando a integração da Natura e da Avon for concluída.

“No entanto, o caminho para a melhoria da margem pode ser escorregadio, com a Natura podendo incorrer em pesados encargos de reestruturação nos próximos trimestres, ao mesmo tempo em que enfrenta o risco de rotatividade de representantes da Avon durante a integração”, aponta a equipe de análise.

Próxima venda: TBS?

Enquanto os analistas mostram, no geral, uma visão positiva sobre as atuais operações da Natura&Co, também monitoram uma possível venda de ativos pela Natura após a Aesop.

A bola da vez na bolsa de apostas é a The Body Shop (TBS).

O Itaú BBA espera que a marca The Body Shop continue enfrentando um ambiente macroeconômico desafiador este ano, afetando negativamente seu crescimento. No entanto, também assume uma melhoria gradual na lucratividade, principalmente devido a iniciativas de redução de custos.

Embora não espere que esta unidade de negócios se destaque positivamente este ano, ainda vê algum valor na marca de quase 50 anos.

Mas, dado o atual foco da Natura & Co em otimizar sua estrutura de custos e de capital, procurou avaliar a que preço a The Body Shop poderia ser vendida em um cenário hipotético de desinvestimento.

“Realizamos uma análise comparativa das taxas de crescimento, margens e avaliações para esta marca e outras empresas de beleza listadas. Assumindo um múltiplo conservador de 6 vezes o valor da empresa em relação ao resultado operacional (EV/Ebitda) para 2024, estimamos que esse ativo poderia ser vendido por R$ 3,4 bilhões”, aponta o banco.

Para o Bradesco BBI, excluindo a TBS, o valor justo da NTCO3 poderia ser R$ 2,00 maior em relação ao seu cenário base, com melhores margens/retornos: “modelamos um cenário de +1,0pp de margem Ebitda e +2,5% de ROE [Retorno sobre o Patrimônio Líquido] alcançado de forma conservadora até 2029”, aponta.

Além disso, uma simplificação de seus negócios, redução de complexidades e foco no negócio principal da Natura&Co (venda direta) podem ser bem recebidos pelo mercado, avalia.

O JPMorgan, além de ver as ações mais dependentes da entrega de resultados, também enxerga uma venda extra de ativos, citando potencialmente a TBS, como um catalisador para maiores ganhos na Bolsa.

“Nesse contexto, acreditamos que os próximos resultados provavelmente apoiarão uma tendência positiva, enquanto o foco contínuo na simplificação dos negócios deve culminar com o desinvestimento do TBS, que, em nossa opinião, é um ativo que se ajusta de forma limitada ao portfólio principal da Natura”, aponta.

Para o banco, a TBS não se encaixa muito bem ao negócio principal da empresa ​​devido à sua presença geográfica e modelo operacional.

A TBS opera principalmente por meio de lojas próprias e franqueadas, além de uma plataforma de comércio eletrônico, enquanto a penetração de vendas diretas é baixa – mesmo após o boom durante a pandemia.

“Assim, em nossa opinião, há sinergias limitadas, principalmente porque o foco principal da Natura ​​está na América Latina, onde o núcleo é baseado em um modelo de vendas diretas em constante evolução. Desta forma, acreditamos que o TBS poderia ser considerado um ativo não essencial pela empresa, tornando-se um potencial candidato ao desinvestimento dentro de seus ativos e levando em conta o mote da simplificação societária”, afirma, ressaltando ainda que a administração não discutiu publicamente essa possível transação.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.