Nas casas de câmbio, dólar já é vendido a mais de R$ 5. Veja o que fazer

Disparada da moeda reflete coronavírus e foi agravada com a guerra de preços do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia

Anderson Figo

Uma pessoa se afogando em dólares

Publicidade

SÃO PAULO — Quem tem viagem marcada ao exterior ou alguma outra despesa prevista em dólar está de cabelo em pé nos últimos dias. A cotação da moeda americana disparou e chegou à máxima de R$ 4,7791 no pregão de hoje, por ora, seu maior valor nominal da história.

Nas casas de câmbio, o dólar em espécie já é negociado a R$ 4,97, segundo o comparador de taxas MelhorCâmbio.com. Para recarregar cartões de viagem pré-pagos, a cotação chega perto de R$ 5,20. Esses preços já incluem o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), que é de 1,10% para moeda em espécie e de 6,38% para os cartões pré-pagos.

No ano, o dólar já acumula uma alta de mais de 17%, enquanto em 12 meses a moeda já subiu mais de 22%. A escalada recente da moeda americana está relacionada a dois fatores. O primeiro é o avanço da epidemia de coronavírus pelo mundo, que causou interrupções de produção e consumo e deve afetar os balanços das empresas.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Já o segundo é o crash nos preços do petróleo, que se agravou com a falta de acordo entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados para cortar ainda mais a produção do grupo, diante da menor demanda com o coronavírus.

A situação ficou ainda mais grave com a Arábia Saudita anunciando na noite de ontem que vai praticar desconto de 20% nos preços a partir de abril, em retaliação à decisão da Rússia, líder informal da Opep+, que não concordou com a redução de produção proposta pelo grupo.

“Qualquer exercício que a gente faça aponta um dólar justo na casa de R$ 4,15/R$ 4,20, no máximo. Este valor de R$ 4,75 está muito esticado e reflete a tensão externa”, diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

Continua depois da publicidade

Para Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio da Frente Corretora, outro fator pontual adiciona pressão sobre o câmbio neste momento: a baixa demanda. “A procura por câmbio turismo diminuiu bem com as pessoas viajando menos pelo coronavírus. A baixa demanda tende a elevar o preço”, disse.

Velloni concorda que o atual patamar do dólar é exagerado. “As condições macroeconômicas não refletem dólar a R$ 4,75. O próprio Focus mostra um valor bem inferior, de R$ 4,20.”

“É um problema mais global do que local. A cotação está refletindo o pânico nos mercados com a queda do petróleo e o coronavírus. Na China, os casos de novos infectados estão caindo. Na Europa, a chegada da primavera pode ajudar a reduzir a disseminação do vírus. Então, por enquanto, temos que esperar”, avaliou.

Continua depois da publicidade

Hora de manter a calma

Para escapar das fortes oscilações do dólar, a recomendação geralmente é de que você faça um preço médio, com compras em diferentes datas e cotações para minimizar os riscos. Mas, segundo Velloni e Rosa, o momento agora exige mais cautela. Para eles, o ideal é que quem puder esperar, espere.

“É preciso manter a calma. O momento é de tensão externa: não sabemos quanto tempo vai durar, mas sabemos que o dólar atual está esticado demais. Qualquer preço médio que você for tentar fazer agora, vai estar muito alto. Como as pessoas estão adiando viagens desnecessárias, o ideal é que você acompanhe o mercado e deixe para fazer sua compra de moeda em um momento de alívio momentâneo na cotação mais próxima da sua data de partida”, disse Velloni.

“Em um cenário mais calmo, o preço médio é a melhor opção, sim. Mas, em situações como a atual, a pessoa tem que aproveitar todo o seu poder de barganha. Em compras de valores menores, as taxas podem ser altas, além da cotação da moeda. Há custo de delivery, às vezes de TED, por exemplo. Se a pessoa for comprar uma quantia maior de moeda, pode conseguir um desconto adicional ou até uma isenção”, completou.

Publicidade

A dica de procurar pela melhor cotação na hora da compra é sempre válida, independentemente do cenário. As casas de câmbio tendem a embutir nas cotações praticadas de dólar taxas que reflitam o custo de suas operações, por isso o valor varia de um lugar a outro — e, em alguns casos, a diferença pode ser grande.

No site do Banco Central, é possível utilizar a ferramenta Ranking do VET, que mostra o Valor Efetivo Total (VET) da conversão de moedas estrangeiras em de diferentes casas de câmbio. O VET engloba a taxa de câmbio, as tarifas e os tributos incidentes sobre a conversão, apresentando o custo final da compra.

Os sites comparadores como o MelhorCâmbio.com também podem ser utilizados como referência para encontrar os melhores preços ou até como “arma de barganha” na negociação direta com as diferentes casas de câmbio.

Continua depois da publicidade

“Se a pessoa não tem viagem próxima e não precisa comprar dólares tão cedo, aguarde. O momento certamente não é bom para isso. O andamento do mercado vai depender do quadro lá fora, que não parece tão simples. O Banco Central está atuando corretamente por aqui para dar liquidez ao mercado. Isso vai continuar aliviando pressões de curto prazo no câmbio, mas não vai mudar a tendência da moeda”, afirmou Rosa.

Cartão pré-pago

Quem está indo para o exterior e precisa comprar dólares, a opção cartão pré-pago é, sem dúvida, a mais cara neste momento. Os valores praticados são todos acima de R$ 5, por isso é preciso ponderar muito bem os prós e os contras antes de embarcar no produto.

A diferença é basicamente por causa do IOF cobrado nas recargas de dólar em cartões pré-pagos, que é de 6,38%, enquanto que a taxa para a compra da moeda em espécie é de 1,10%.

Publicidade

A maior vantagem é que ele vai te proteger em caso de roubo ou perda, já que o cartão pré-pago pode ser facilmente bloqueado e substituído onde você estiver. Já o dinheiro em espécie, quando perdido, não há o que possa ser feito, e você fica com o prejuízo.

Os cartões possuem bandeiras diferentes, são aceitos em todo o mundo e podem ser solicitados em casas de câmbio, agências de intercâmbio, online ou até mesmo por telefone. Também é possível comprar dinheiro em espécie com a mesma facilidade.

A recarga dos pré-pagos pode ser feita remotamente e você consegue controlar o extrato de gastos online. Por isso é uma opção escolhida por alguns pais que estão mandando seus filhos para estudar no exterior, por exemplo.

Ao recarregar o cartão pré-pago, você paga a taxa de câmbio negociada no momento da recarga, assim é possível também com esse produto fazer um preço médio, se este for o caso. Mas, como dito anteriormente, os especialistas indicam que, quem não tem real necessidade de comprar dólar neste momento, deve esperar até que as cotações possam voltar a refletir um cenário mais “normalizado” da economia.

Quer investir melhor o seu dinheiro? Clique aqui e abra a sua conta na XP Investimentos

Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.