Na Venezuela da hiperinflação e depreciação do bolívar, Bolsa dispara 80% em 6 dias

A impressionante alta das ações venezuelanas ocorre em meio à rápida desvalorização cambial e uma expectativa de inflação de mais 100% este ano

Paula Barra

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SÃO PAULO – A Bolsa de Valores de Caracas deu um salto nos últimos seis pregões. O IBC, índice de referência do mercado de ações da Venezuela, acumulou alta de 80% somente nesse período, fechando a 10.847 pontos na quarta-feira (27) e destoando da variação do restante das bolsas mundiais, apesar da crise econômica que assola o país. No acumulado do ano, o índice de ações venezuelano registra alta de 202%. 

A impressionante alta das ações venezuelanas ocorre em meio à rápida desvalorização cambial e uma expectativa de inflação de mais 100% este ano, enquanto os investidores estrangeiros praticamente não veem nenhuma chance de ter seu dinheiro fora do país.

Mais do que tudo, o fenômeno da disparada das ações do país mostra o quão desesperados estão os venezuelanos para ter em suas mãos ativos que irão protegê-los da forte queda da moeda e inflação. “Algumas pessoas estão comprando ações como proteção contra a desvalorização”, disse Miguel Octavio, chefe de pesquisas do BBO Financial Services, que tem foco na Venezuela, à Bloomberg. “É melhor ter ações do que bolívares, que está perdendo cada vez mais seu valor”.

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Na semana passada, o bolívar desabou 25% no mercado negro, para 423 por dólar, antes de se recuperar para 413 na terça-feira, de acordo com o dolartoday.com, um site que acompanha a taxa de câmbio na fronteira colombiana. O valor corresponde a 66 vezes a principal taxa oficial de 6,3 bolívares por dólar e significa que cada cédula de 100 bolívares equivale a 24 centavos de dólar dos Estados Unidos entre os negociantes ilegais das ruas. A Venezuela tem mantido controles cambiais rigorosos desde 2003, o que leva indivíduos e empresas ao mercado negro quando não conseguem autorização do governo para comprar dólares à taxa legal.

O país tem a inflação mais acelerada do mundo, embora seja difícil dizer exatamente qual é a taxa dado que o banco central venezuelano não divulga indicadores econômicos básicos. Uma estimativa do Bank of America Merrill Lynch aponta que a taxa de preços ao consumidor (CPI) alcançou 100,7% em abril em termos anualizados. Economistas do banco explicam que a rápida aceleração é um motivo de preocupação para os credores, porque é um sinal de que o governo está ficando sem fontes de receita.

E enquanto isso, as pessoas seguem comprando ações e dólares, já que não têm dinheiro para outros bens duráveis, como carros ou imóveis, tornando cada vez maior a pressão compradora.