Não somos ricos!

Com a crise ou fora dela, fazemos mais com menos. Aprendemos a valorizar cada centavo. Precisamos inverter a lógica dos que não geram riqueza, mas que dela usufruem - talvez imaginando que os recursos públicos caem do céu.

Equipe InfoMoney

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Luiz Augusto Rocha é diretor-Presidente da BDS – Indústria de Confecções e EPIs e Fio de Água Lavanderias, no Amazonas e São Paulo, Conselheiro da Associação Brasileira da Industria Têxtil -ABIT, Presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções do Amazonas – FIEAM e Conselheiro do Centro da Industria do Estado do Amazonas – CIEAM.

O cronista Xico Sá, em seu livro “A pátria em sandálias da humildade”, aborda o paradoxo de sermos a pátria do futebol e o 7×1 da última Copa do mundo. A abundância de insumos e a inépcia de sua gestão. Como sociedade em crise, estamos vivendo um momento de enormes possibilidades. Sabemos disso porque enfrentamos nas empresas privadas, especialmente nos últimos cinco anos, dificuldades de toda ordem e muitos ficaram pelo caminho. Todavia, alguns se reinventaram, mudaram, e colhem os frutos, estão mais fortes! Aprendemos a eliminar desperdícios, a fortalecer os relacionamentos competentes, a cobrar melhor os resultados, a gerar mais riqueza. Em razão disso a indignação dos empresários com a situação atual deveria ser a maior de todas. Mas não é. Por que isso ocorre? Enfrentemos alguns fatos: No Brasil o número de desempregados seguirá aumentado. Austeridade é fundamental na recomposição da Petrobras. O Polo Industrial de Manaus não voltará aos 130 mil empregos diretos no médio prazo. Consequentemente, os orçamentos dos estados e do país não voltarão aos patamares anteriores tão rapidamente. Precisamos enfrentar as consequências desta realidade com inteligência e pragmatismo. Como sociedade ainda estamos aprendendo a parar em faixas de pedestre e sinais vermelhos. Como lideranças, estamos aprendendo a ouvir opiniões diferentes com serenidade e respeito aos contrários. Como entidades empresariais ainda estamos aprendendo a compartilhar valores com nossas coirmãs e encontrar o que nos une – e parar de realçar o que nos separa.  

Entretanto, o mais preocupante é perceber que não há na sociedade de forma geral o reconhecimento da gravidade do momento que estamos vivendo. Onde está o sentimento de urgência? Lemos nos jornais: Meta de déficit de 159 bilhões! R$ 3,6 bilhões para o fundo partidário! Aumentos para parte do funcionalismo público acima da inflação! Mais aumento de impostos! Como é possível no cenário atual alguns seguirem querendo mais orçamento, para mais salários, para mais estrutura, mais prédios, mais mordomias, mais carros novos, mais, mais, mais? Destes castelos não ouvimos notícias sobre mais produtividade, mais racionalidade  ou mais competência. Convivemos com um estado perdulário, que já não entrega há tempos os serviços que a sociedade paga. E não há na grande mídia, nas conversas informais em muitas entidades de classe, na sociedade em geral, o reconhecimento da pauta que deveria ser levada a sério: se nada mudar de verdade a insegurança vai se agravar ainda mais, a crise vai se aprofundar, o desemprego aumentará. Sabemos disso porque nas nossas empresas aprendemos a duras penas que se não mudarmos o que está errado hoje, o amanhã será com certeza pior. Com a crise ou fora dela, fazemos mais com menos. Aprendemos a valorizar cada centavo. Precisamos inverter a lógica dos que não geram riqueza, mas que dela usufruem – talvez imaginando que os recursos públicos caem do céu. Não caem! São fruto das vidas dos trabalhadores e dos empresários e da obstinação do investidor.

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Será que, por pensarmos que somos ricos, insistimos em ignorar os indicadores de desempenho da indústria do Amazonas, o terceiro PIB industrial do Brasil, que encolhe há 5 anos? Será por isso que este Estado, o maior geograficamente da federação brasileira, com uma cobertura vegetal preservada de mais de 95%, não sabe precificar o valor do serviço ambiental que prestamos ao clima – uma mercadoria preciosa para o Brasil e para o planeta? Por que o Amazonas segue isolado por terra, com um custo elevadíssimo de sua  precariedade logística de transportes, energética e de comunicação? Será por isso que o Amazonas tem sido alvo de perseguição da imprensa, atribuindo-lhes responsabilidades pelo déficit fiscal do Brasil? Nosso país deve ao Ciclo da Borracha, nas décadas de virada para o Século XX, a contribuição dessa riqueza amazônica para 45% do seu PIB, à época. Mas atualmente, por pressões inconfessáveis, estão sendo tiradas as suas vantagens comparativas, por incompreensão de sua importância. Não somos ricos! Os juros e os riscos da insegurança jurídica no país espantam o investimento privado, pois é melhor deixar o dinheiro no banco com títulos do Tesouro, do que em uma atividade produtiva. Não dá para estimular a produção e atrair investimentos com um juro tão alto. A atração de investimentos em títulos do governo afugenta os investimentos produtivos. Nosso juro real (SELIC – IPCA) é desproporcional ao risco do país e contrário à produção e ao estímulo para a geração de riqueza. O Tesouro Nacional elevou de R$ 328 bilhões em 2017 para R$ 619,3 bilhões a emissão líquida de títulos.  

Precisamos urgentemente definir as prioridades e enfrentar as realidades. A contribuição das lideranças empresariais ao Brasil é indispensável neste momento por um motivo simples: sabemos planejar estrategicamente e fazer mais com menos. Aprendemos a administrar recursos escassos. Sabemos gerar riqueza e tomar decisões. Sabemos trabalhar duro, administrar diferenças e sabemos vencer. Já esperamos o suficiente sem assumir o protagonismo? Vamos ficar menos indiferentes, além da porta de nossas fábricas e entidades? Vamos agir? Aos verdadeiros líderes, liderar! Mas podemos começar com um exercício simples, repetindo até sermos ouvidos: Não somos ricos! Não somos ricos! Não somos ricos! Não somos ricos!