Os motivos por trás do pedido de demissão de Serra do Itamaraty

Quem conhece bem o senador tucano, seu estilo e seus projetos, diz que ele também estava insatisfeito não diretamente com o Itamaraty e suas funções, mas com seu "protagonismo" no governo

José Marcio Mendonça

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 SÃO PAULO – A saída do senador tucano do Ministério das Relações Exteriores em princípio não deve implicar alterações na política externa que ele vinha comandando, com foco nas negociações bilaterais e maior aproximação com os países ricos.

 O presidente Michel Temer e seus auxiliares mais próximos, pessoas ligadas ao agora ex-chanceler e umas poucas outras pessoas bem antenadas em Brasília não se surpreenderam demais com o pedido de demissão do senador tucano de São Paulo, José Serra do Ministério das Relações Exteriores. Nem consideram que a carta em que ele pediu afastamento, alegando fundadas razões de saúde, foi meramente protocolar, uma praxe na capital federal, onde sempre se procura manter as aparências, somente em raras ocasiões se confessa a real motivação da saída ou demissão de alguém.

Serra submeteu-se em dezembro a uma delicada (e dolorosa) cirurgia da coluna no Hospital Sírio Libanês em São Paulo e chegou a ficar mais de um mês afastado do cargo. Quando voltou ao trabalho, não disfarçava os incômodos, inclusive e principalmente nas viagens, uma obrigação constante da chancelaria. Duas semanas atrás esteve na Alemanha, quando se encontrou com chanceleres de diversos países, inclusive com o nome de Donald de Trump na política exterior dos EUA. Desse sacrifício parece ter amadurecido a idéia de ir embora.

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Ele informou a Temer que terá de passar por um rigoroso tratamento da coluna para se recuperar da cirurgia, num período de no mínimo quatro meses, o que o impediria de fazer longas viagens, prejudicando negociações importantes para o país.

De todo modo, quem conhece bem o senador tucano, seu estilo e seus projetos, diz que ele também estava insatisfeito não diretamente com o Itamaraty e suas funções, mas com seu “protagonismo” no governo. Ele se achava restrito e manietado, fora do núcleo decisório de Brasília, o que contraria sua vocação. No princípio com Temer ainda chegou a participar de algumas reuniões no Palácio, sobre assuntos não ligados diretamente à sua área no governo. As intrigas de Brasília diziam então que ele costumava palpitar no terreno alheio. Não esquecer que no período pré-impeachment, quando Temer arregimentava forças para seu futuro governo, Serra frequentou a lista de possíveis ministros da Fazenda. Aos poucos, afastou-se ou foi afastado do mundo palaciano.

Não se imagina que a mudança de ministro no Itamaraty possa implicar alterações na política externa adotada por Temer, de aproximação com os países ricos, de afastamento do bolivarianismo e da busca de acordos comerciais bilaterais, em tudo por tudo oposta à da dupla Lula da Silva-Dilma Rousseff. Mas vai abrir uma pesada disputa pela vaga na base política de Temer – o PMDB deve entrar na disputa pelo posto com o PSDB, partido de Serra. No Itamaraty a torcida é que a vaga volte para um diplomata de carreira, como foi em boa parte do governo Fernando Henrique Cardoso e inteiramente nos governos petistas.

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 MEIRELLES DIZ QUE NÃO TEM CPMF – ‘NO MOMENTO’. MAS NÃO CORRIGE O IR

 No mais, um dia sem surpresas:

1.    O Banco Central não deu o agrado que o governo queria e cortou a taxa de básica de juros no já mais que indicado 0,75 ponto percentual, com a indicação, porém, que a Selic fechará o ano abaixo de 10%.

2.    Satisfeito com a evolução positiva da arrecadação de tributos em janeiro, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, diz que o governo não cogita recriar a CPMF, mas com uma ressalva – “no momento”. “No momento”, não precisa mesmo aumentar, pois há maneiras sutis de aumentar impostos de forma menos perceptível pelo contribuinte. Ao divulgar as normas para a declaração do Imposto de Renda deste ano, ano base do ano passado, por exemplo, a Receita Federal não corrigiu a tabela de deduções para compensar a inflação. Em termos práticos, quem tiver que pagar imposto vai pagar um pouco mais e quem tiver devolução do IR na Fonte terá uma devolução menor. A tabela do IR na Fonte deste ano também não foi corrigida. Simples assim – e tudo como sempre.

3.    Era para a semana passada, ficou para segunda, depois para terça, em seguida para ontem e agora para hoje a remessa pelo governo do Congresso da proposta da nova lei de recuperação fiscal dos estados, sem a qual Brasília não poderá socorrer os governadores. Não é tão simples quanto o Ministério da Fazenda vendia que seria.

4.    Em sessão quase relâmpago o Senado aprovou definitivamente o ex-ministro Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal na vaga aberta com a morte do ministro Teori Zavascki; posse em março, provavelmente dia 22.

O ‘PRIMEIRAS’ TIRARÁ ALGUNS DIAS DE DESCANSO. VOLTA NO DIA 6 DE MARÇO.

Destaques dos jornais do dia

– “Governo corta em 50% exigência de conteúdo local no pré-sal” (Globo/Folha/Estado)

– “Tabela do Imposto de Renda não foi corrigida para repor a inflação” (Globo)

– “Arrecadação federal começa o ano em alta, mas exige cautela” (Globo/Valor)

– “Construtora PDG pede recuperação judicial para reestrutura R$ 6,2 bilhões” (Globo/Valor)

– “Odebrecht falará de chapa Dilma-Temer” (Globo/Estado)

– “Lava-Jato terá cooperação inédita entre Brasil e Uruguai” (Globo)

LEITURAS SUGERIDAS

1.    Editorial – “Sociedade paga a conta do dirigismo de Lula e Dilma” (diz que a intervenção no setor elétrico deixou uma fatura adicional de dezenas de bilhões a ser paga pelo consumidor) – Globo

2.    Vinícius Torres Freire – “BC pisca para juro ainda menor” (diz que Banco Central indica que pode acelerar a baixa da Selic – sinais de fim da recessão ainda são tímidos) – Folha

 3.    Roberto Romano – “Indecoro” (diz que se as mãos de muitos políticos estão sujas, que pelo menos limpem a língua) – Estado

 4.    Ribamar de Oliveira – “Eleição de 2018 afeta lei de recuperação fiscal” (diz que tudo indica que benefícios concedidos serão suficientes para que a maioria absoluta dos estados atravesse a atual recessão econômica) – Valor

 5.    Maria Cristina Fernandes – “Garantismo à Moraes” (diz que o garantismo do novo ministro em encontro marcado no STF com Luis Roberto Barroso, defensor do ativismo judicial) – Valor