A 4ª vem agitada: avanços da Lava Jato e temores no mercado externo por causa dos bancos

E há ainda a revelação de que o ministro Nelson Barbosa, no “novo” modelo fiscal, estuda permissão para abatimento da meta de compromisso de superávit primário da perda de receita quando o PIB for fraco

José Marcio Mendonça

Brasília puxou aceleração de preços na prévia do IPC-S

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A quarta-feira de Cinzas, apesar do ano político oficial de Brasília só começar, de fato, em sua plenitude, na terça-feira que vem, quando os parlamentares deverão retornar em peso a Brasília, depois de mais quase dois meses de férias e um interregno de doze dias para o Carnaval, começa tensa, amarga, com gosto real de cinzas. Há no ar Lava-Jato e confusões no mercado internacional.

Não bastasse tudo que restou do ano passado, dos temores com o desenrolar da Lava-Jato e das expectativas de como se dará o desfecho do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff e do processo de cassação do mandato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dois fatos surgidos nesses dias do chamado “tríduo momesco”, aqueceram ainda mais o ambiente político. E devem se desdobrar a partir de hoje:

  1. O acordo de delação premiada de dois executivos da Andrade Gutierrez, entre eles o presidente da empresa, Otávio Azevedo, aceito pelo juiz Sérgio Moro, que já mandou soltar os dois na sexta-feira. Eles prometeram revelar, entre outras coisas, os negócios do petrolão, da construção de Angra-3 e Belo Monte e o financiamento da campanha da presidente Dilma em 2014. Acendeu de vez o sinal vermelho no mundo político.
  2. A decisão do juiz da Operação Lava-Jato de autorizar a Polícia Federal, dentro desse processo, a investigar a história do sítio de Atibaia, usado pelo ex-presidente Lula, cuja reforma é atribuída à OAS, à Odebrecht e ao empresário José Carlos Bumlai. É o segundo caso em que Lula aparece agora como investigado.

Isto deve aumentar as insatisfações do PT (a parcela majoritária, que segue Lula e que já está fazendo publicamente uma enfática defesa do ex-presidente) com o governo e com Dilma. Segundo análises publicadas em jornais do fim de semana prolongado, o ex-presidente estaria “muito aborrecido” com a presidente.

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Tudo num momento em que Dilma precisa da base partidária com alguma paz para tentar aprovar as medidas de ajuste fiscal pendentes ainda no Congresso (DRU e CPMF) e o restante do pacote de acerto da economia brasileira que está sendo preparado – reforma previdenciária e “novo” modelo fiscal. É na economia que Dilma vai travar a verdadeira batalha de seu governo.

MULTITRILHÕES DE DÓLARES

Quanto à questão do modelo fiscal que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa está discutindo, o jornal “O Estado de S. Paulo” traz alguns detalhes hoje. E não são alentadores para os que defendem que a meta de superávit primário deve ser rígida e cumprida integralmente.   

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De acordo com a reportagem – e esta é uma idéia antiga de Barbosa, antes mesmo de ele virar ministro da Fazenda -, ele quer estabelecer uma meta flexível – uma “banda fiscal”. Ou seja, criar um mecanismo que permita reduzir o compromisso em ano de PIB fraco, reduzindo do valor a parcela da queda de impostos. Para compensar, a proposta incluiria um limite para a expansão dos gastos.

Como, segundo muitos analistas, a arrecadação deste ano ainda deverá cair, fica aberta a porta para o governo não realizar, na prática, o superávit de 0,5% do PIB (cerca de R$ 30,5 bilhões). Economistas já trabalham com um déficit este ano próximo de 1% do PIB. A arrecadação da Receita Federal em janeiro, segundo informação do “Valor Econômico”, teve uma queda de 5% na comparação com o mesmo mês do ano passado, em termos reais, excetuada a Previdência Social.

E para complicar o dia das Cinzas, o ambiente no mercado financeiro internacional nos dois dias de descanso carnavalesco no Brasil foram de péssimo agouro. Com muita especulação sobre a saúde dos bancos internacionais.

Matéria do “The New York Times”, citado hoje pelo colunista Celso Ming no “Estado”, fala em encrencas bancárias medidas em “multitrilhões de dólares”. Ademais, o preço do petróleo voltou a cair ontem.

Outros destaques dos

 jornais do dia

– “Bolsas globais recuam pelo quinto dia seguido” (Folha)

– “Subsídio ao BNDES terá impacto fiscal até 2060” (Valor)

– “Obama propõe taxar milionários em 30%” (Valor)

– “Receita dos estados cai 4,2% em 2015” (Estado)

– “Minas dribla descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal com depósitos judiciais” (Estado)

– “Uma em cada três corretoras de valores independentes está no vermelho” (Estado)

Destaques dos jornais

no Carnaval

SÁBADO

– “Inflação surpreende em janeiro a vai a 1,27% em janeiro, com alta disseminada de preços”

– “Governo fecha pacote de estímulo ao setor de petróleo” (Estado)

– “Petrobras venderá terminal de gás em pacote com térmicas” (Folha)

– “Dilma cede na renegociação das dívidas [dos Estados] com a União” (Folha)

– “Taxa de retorno pode prejudicar leilão das linhas de transmissão” (Folha)

– “Novo acordo de delação [de executivos da Andrade Gutierrez] engloba campanha de Dilma e Copa de 2014”(Estado/Folha/Globo)

– “Procuradoria pede quebra de sigilo de Capez” (Estado)

– “PF cobrou explicações de Cunha sobre Comitê de Obras” (Globo)

– “Argentina propõe pagar US$ 6,5 bi [com 25% de deságio] a fundos credores” (Globo/Estado/Folha)

– “Vale começa a pagar R$ 320 milhões devidos de royalty” (Globo)

 

DOMINGO

– “Isenções de impostos correspondem a metade do rombo da Previdência (Estado)

– “Relator da CPI do BNDES rejeita indiciamentos” (Estado)

– “Por reformas, presidente negocia com PT e centrais [sindicais]” (Folha)

– “Governo quer meta fiscal flexível ainda este ano” (Globo)

SEGUNDA

– “Oito dos nove programas sociais perdem verba” (Estado)

– “Empresas correm para criar núcleos internos de combate à corrupção” (Globo)

– “Cortes de luz disparam com alta de tarifas e inadimplência” (Folha)

TERÇA

– “Dívidas de 20 estados chegam ao limite da lei” (Folha)

– “Setor privado tem primeiro recuo no crédito consignado [em 2015]” (Folha)

– “Bancos viram foco de preocupação e derrubam mercados globais” (Folha/Estado)

– “Para senador do PMDB [Jucá] impeachment não está morto” (Estado)

– “PT afirma que Lula sofre ação de linchamento” (Estado)

LEITURAS SUGERIDAS (jornais de quarta-feira)

  1. Editorial – “Ameaça real à democracia” (diz que já ficaram claros para os brasileiros os danos causados pelas relações obscuras entre os representantes eleitos pelo povo e os financiadores de campanha) – Estado
  2. Zeina Latif – “Não vai funcionar” (diz que a política fiscal tornou-se elemento desestabilizador da economia brasileira, comprometendo a eficácia da política econômica) – Estado
  3. Bernardo Mello Franco – “Mea culpa tucano” (diz que depois de flertar com a irresponsabilidade fiscal em 2015, o PSDB promete não acender mais o pavio das pautas-bomba na Câmara) – Folha
  4. Elio Gaspari – “Somos todos Lula” (diz que é impossível saber como o ex-presidente irá safar-se das encrencas em que se meteu, mas que uma coisa é certa – seus maiores aliados, como sempre, são seus adversários) – Folha/Globo
  5. Editorial – “Incerteza e insegurança comandam o mercado” (diz que a nova maré de baixa do crescimento acentuou todos os problemas não resolvidos, amortecidos pelos incentivos dos bancos centrais) – Valor