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Em relatório em que destaca as projeções para os mercados da América Latina para 2025, o Morgan Stanley reduziu a sua exposição para o Brasil na região para underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda), por conta do risco político e preocupações fiscais. O banco também é underweight em ações do México.
A política atrapalhou o momento da América Latina e vários obstáculos precisam ser superados para que a região “redesenvolva” uma narrativa clara de investimento, avalia o Morgan, ressaltando que valuations baratos não são suficientes. Enquanto o banco está menos otimista com México e Brasil pro conta de riscos políticos e pontos de interrogação com o crescimento, estão overweight (exposição acima da média) com a região andina.
Para o banco, os riscos de dominância fiscal, caracterizado por um cenário em que a política monetária perde eficácia devido a um desequilíbrio nas contas públicas, do Brasil são muito altos.
“Há um cenário positivo para Brasil e México, mas é muito cedo para construir um portfólio em torno disso, e as coisas podem piorar antes de melhorar”, avaliam os estrategistas.
O cenário otimista para o Brasil, diz o Morgan, é um pouso suave para o atual modelo de crescimento impulsionado pela alavancagem que afeta os gastos e o consumo do governo (G&C), seguido por um reequilíbrio da economia em direção ao investimento e às exportações (I&X). As taxas de juros precisam cair no Brasil e o mercado precisa se afastar dos riscos associados à dominância fiscal.
“Monitoraremos os sinais de mudanças de curso pelos formuladores de políticas brasileiras que podem mudar a maré da dívida e dos gastos do governo para o investimento e, portanto, reduzir as taxas de juros, (…) permitindo o crescimento do investimento e maior VPL (Valor Presente Líquido) para lucros futuros para empresas brasileiras. Um ciclo liderado por investimentos para o Brasil impulsionaria um cenário otimista poderoso para o Brasil, mas taxas de juros mais baixas são necessárias”, reforça.
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“Estamos com exposição abaixo em Brasil, pois o curso atual para os formuladores de políticas brasileiros sugere um alto risco para que esse cenário [mais positivo] se concretize”, complementam.
Para o México, o cenário otimista seria transformar o Acordo Estados Unidos-México-Canadá em uma estrutura ainda mais forte — até mesmo parecida com uma união aduaneira — e se beneficiar da relocalização adicional das cadeias de valor de manufatura para a América do Norte. O banco acredita que o México poderia ganhar muito com a eleição de Donald Trump à presidência dos EUA, mas vê que é muito cedo para projetar uma narrativa de investimento e portfólio em torno disso e há riscos claros também.
Com relação ao Brasil, os estrategistas do Morgan apontam que o país pode ser o mais afetado com a eleição de Trump por meio do canal financeiro, pois um câmbio mais fraco e taxas mais altas podem aumentar as condições financeiras já apertadas no Brasil. Isso se aplica a todos os mercados da América Latina e é um fator determinante para a fraqueza do câmbio latino-americano que é essencialmente negativo para todos os mercados. Por outro lado Brasil é o mais afetado pelo risco para o canal financeiro, pois um câmbio mais fraco e taxas mais altas podem afetar as condições financeiras já apertadas no Brasil.
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O Morgan aponta, no seu cenário-base, o dilema fiscal mantendo as taxas altas — o governo fazendo alguns cortes de gastos próximos às expectativas do mercado (de cerca de R$ 50 bilhões) — o crescimento econômico e dos lucros desacelerando, mas evitando uma recessão, além das saídas líquidas dos fluxos de ações domésticas permanecendo nos níveis atuais. O banco tem uma projeção para o cenário-base do Ibovespa para 2025 a 146 mil pontos, ou potencial de alta de 14% em relação ao fechamento de quinta.
Sobre a estratégia de investimento em Brasil, os estrategistas veem teses positivas de investimentos em digitalização, energia e agricultura, enquanto evitaria cases domésticos cíclicos, incluindo small & mid caps — que foi um fator-chave para o desempenho superior em 2024 em relação ao índice. Com juros altos, o banco também vê riscos para empresas domésticos.
No cenário otimista, em que prevê a mudança no modelo de crescimento econômico do país em direção às exportações e investimentos, o banco destaca que os formuladores de políticas restringiriam os gastos além das expectativas de consenso. O crescimento econômico e dos lucros desaceleraria, mas taxas materialmente mais baixas forneceriam suporte ao investimento (pouso suave) e as entradas de fluxos de ações domésticas acelerariam, abrindo caminho para um mercado otimista. Neste cenário otimista, a projeção do Ibovespa para 2025 iria para 160 mil pontos, ou potencial de alta de 25%.
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Nesse cenário de taxas mais baixas e investimento crescente, o Morgan vê com melhores olhos ativos de prazo mais longo, como concessões, energia, eletricidade e serviços financeiros, assim como ações selecionadas a ativos de consumo discricionário. Entre as ações, estariam CCR (CCRO3), Ecorodovias (ECOR3), BTG Pactual (BPAC11), XP (BDR: XPBR31), Localiza (RENT3), Hapvida (HAPV3) e Iguatemi (IGTI11).
Já em um cenário negativo (bearish), a projeção para o Ibovespa para 2025 iria para 105 mil pontos, ou queda de 18% em relação ao fechamento de quinta. Neste cenário, os formuladores de políticas decidem manter os gastos altos antes das eleições presidenciais de 2026, desencadeando uma reação negativa mais forte dos mercados de renda fixa — uma forte desaceleração econômica e de lucros ocorre à medida que as taxas de política afetam o crescimento e a confiança dos investidores (pouso forçado). O crescimento global mais fraco do que o esperado representa um obstáculo para os preços das commodities.
A estratégia de investimento seria reduzir a exposição a vencedores seculares e adicionar exposição aos nomes defensivos: serviços públicos, produtos básicos e geradores de receita em dólar fora do país.