Montadoras anunciam paradas de produção: como isso afeta as empresas com ações na Bolsa?

BTG aponta que empresas de autopeças (e logística dedicada) devem desacelerar enquanto locadoras de veículos terão melhores condições de compra de veículos

Equipe InfoMoney

Velocímetro de carros

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Na última quinta-feira (30) foi noticiado que, sem componentes suficientes para a produção e já sentindo impactos da queda de demanda, a Volkswagen anunciou novos períodos de férias coletivas aos trabalhadores das fábricas de automóveis em Taubaté e de motores em São Carlos, ambas no interior de São Paulo para início de abril.

Antes, a empresa já havia confirmado uma segunda parada na unidade de São José dos Pinhais (PR) também para o próximo mês.

Somado aos feriados do mês em que as linhas também estarão paradas, a produção deve ter significativa queda no período. Desde fevereiro, a Volkswagen já anunciou sete períodos de férias coletivas em suas quatro fábricas no País.

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Nas últimas semanas, várias montadoras anunciaram medidas de corte de produção, algumas por falta de semicondutores e a maioria por redução de vendas. No grupo estão General Motors, Hyundai, Stellantis (Jeep, Peugeot e Citroën) e também as fabricantes de caminhões Mercedes-Benz e Scania.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) tem alegado que os juros altos inibem financiamentos, modalidade que já chegou a responder por 70% das vendas.

As montadoras automotivas estão anunciando interrupções de produção de 10 a 15 dias para evitar o acúmulo de estoque.

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Conforme aponta o BTG Pactual, mais importante ainda, a notícia marca a transição da indústria automobilística para um cenário de menor demanda restringindo o crescimento do setor.

“É o oposto do cenário de pandemia, quando o lado da oferta controlava o crescimento da indústria”, afirma.

Os analistas do banco destacaram ter sentimentos diferentes para o seu universo de cobertura: as empresas de autopeças (e logística dedicada) devem desacelerar enquanto as locadoras de veículos terão melhores condições de compra de veículos.

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Em sua última apresentação ao mercado, a Anfavea (associação das montadoras) disse que as condições do mercado de crédito e as restrições na oferta de componentes eram desafios ao setor automotivo. A associação tem pedido ao governo políticas para fomentar o mercado automobilístico e (re)estabelecer a cadeia produtiva local. Para 2023, estima um crescimento de produção de 2,2% ao ano, enquanto a produção acumulada no ano (jan-fev) é de apenas 0,8%.

A Anfavea também prevê um crescimento de vendas de 3% ao ano em 2023, enquanto a Fenabrave (associação das concessionárias de veículos) é mais conservadora e espera que as vendas de veículos em 2023 cresçam 0,1%.

Os analistas destacaram três setores (e suas ações) que podem ser afetados pelo cenário de parada de produção nas montadoras. Confira abaixo:

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Bens de capital

Na avaliação do Bradesco BBI, este cenário impacta empresas como a Iochpe Maxion (MYPK3), para a qual possuem recomendação equivalente à compra, com preço-alvo de R$ 15, e como Mahle Metal Leve (LEVE3), com recomendação de venda e preço-alvo de R$ 21, já que a produção de veículos no país deve sofrer um baque nos próximos meses.

Também na visão do BTG, o cenário automotivo desafiador atinge os produtores de componentes automotivos que cobre. Com a desaceleração macro prejudicando mais os veículos leves, empresas como a Iochpe-Maxion estão sofrendo enquanto que, pelo lado positivo, ela mencionou melhores perspectivas da indústria em regiões como os EUA.

Randon (RAPT4) e Tupy (TUPY3) estão relativamente menos expostas a veículos leves. A persistente volatilidade do mercado das montadoras é um dos pilares do otimismo  do BTG com a Fras-le (FRAS3), que também é a principal escolha do banco no setor, uma vez que ela tem a maior exposição ao mercado de reposição. Além disso, ao comprar a MWM, a Tupy também adicionou exposição ao mercado de reposição.

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Aluguel de Automóveis

O BTG aponta também um cenário misto para as locadoras de veículos. A menor demanda por automóveis é negativa para a demanda do mercado de carros usados. Por outro lado, devido ao preço mais acessível e à menor relevância do financiamento, os carros usados podem se tornar uma opção barata para os clientes.

Já do lado positivo para o setor, um mercado automotivo de varejo mais fraco significa que as negociações com as montadoras devem começar a favorecer as empresas de aluguel de carros.

Neste sentido, a Movida (RENT3) e a Localiza (RENT3) mencionaram melhores condições de compra, mas ainda não no nível pré-pandemia. “Se a demanda continuar fraca, esperamos que as condições de compra melhorem rapidamente”, afirmam os analistas do banco.

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Logística

As empresas de logística também são afetadas, aponta o BTG, principalmente aqueles impactados pelas paralisações das montadoras e consequentemente sendo afetadas pelos volumes transportados menores, com os analistas citando a Tegma (TGMA3). Como atende muitas montadoras, quanto maior a paralisação, maior o impacto no volume.

“Em nossas últimas conversas, eles nos disseram que esperam um crescimento da indústria automobilística de 0-10% e planejam ganhar participação de mercado este ano, com os principais clientes retomando a produção. O crescimento do transporte de carros usados pode atenuar a queda do mercado de veículos novos, mas em muito menor grau”, avalia.

A JSL (JSLG3) também atende muitas montadoras, mas a relevância da indústria automobilística na empresa, caiu após as recentes fusões e aquisições, representando agora apenas 17% do negócio hoje, avaliam.