Minerva além do “efeito Argentina”: o que faz ação cair quase 9% após o 4º tri

Analistas veem nota operacional positiva, mas apontam que Brasil decepcionou e que ainda há preocupação com endividamento

Equipe InfoMoney

(Arte: Leonardo Albertino)

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Mais um trimestre decepcionante leva a uma forte queda das ações da Minerva (BEEF3), que reportou na noite da véspera um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 606 milhões no quarto trimestre de 2023 (4T23), estável em relação ao ano anterior) mas 21% abaixo do consenso. Com isso, na sessão desta terça-feira, as ações caíram 8,73%, a R$ 6,59.

A desvalorização da moeda argentina em 2023 resultou em um impacto pontual (e não caixa) de R$ 1,5 bilhão, integralmente contabilizado no 4T23, explicando os resultados abaixo do esperado. A operação paraguaia foi o destaque positivo do 4T23, com preços melhorando 5% em base trimestral, enquanto no Brasil os preços ficaram estáveis no mesmo período. As demais operações reportaram quedas sequenciais de preços.

Para a XP, a Minerva reportou um trimestre de difícil leitura, com destaque para o desempenho operacional, embora ofuscado pelo ajuste de hiperinflação/câmbio da Argentina (não-caixa) e geração de caixa mais fraca do que o esperado. Considerando uma margem de 8,5% para a Argentina, o banco estima Ebitda ajustado da Minerva para o 4T23 em R$ 733 milhões (+21% frente o 4T22 mas 7% abaixo do que a XP esperava), com uma margem consolidada de 9,6%, também aquém das projeções, decepcionando os investidores, especialmente considerando sua natureza de estimativa, deixando espaço para percepções diferentes.

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Apesar da sazonalidade positiva e do mercado doméstico apresentar números animadores, o Brasil foi uma surpresa negativa, apontam os analistas. A receita líquida ficou em R$ 3,2 bilhões (-6,7% na base anual e -14,3% na trimestral), com volumes sequencialmente menores na casa dos 10%, juntamente com uma ligeira queda nos preços.

Para os analistas da XP, esse é um final agridoce após um ano tumultuado, um sentimento que deve perdurar até que o negócio de compra de dezesseis plantas de abate da Marfrig anunciado em meados de 2023 se concretize.

Do lado operacional, a Levante ressalta que o período foi marcado por preços de vendas mais baixos da arroba do boi, tanto no mercado local quanto para as exportações. No entanto, os efeitos foram compensados por maiores volumes vendidos, que totalizaram 354,2 mil toneladas, representando crescimento de 16,8% quando comparado ao último trimestre do ano anterior Outro fator que impactou de maneira favorável os resultados da Minerva foram os Custos dos Produtos Vendidos, 12,9% menores quando comparados ao 4T22.

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Com isso, a empresa apresentou uma margem bruta de 22,2% e crescimento de 2,7% pontos percentuais na comparação ano contra ano, Já o lucro bruto foi de 1,37 bilhão de reais, 2,6% acima do mesmo período do ano anterior. As despesas administrativas e relativas às vendas da companhia totalizaram 866 milhões de reais, 1% acima do mesmo período do ano anterior.

A equipe de análise da Levante reforça ainda que a Minerva iniciou o processo de captação de recursos junto ao mercado para realizar a operação de compra de plantas da Marfrig. Elas devem compor o portfólio da companhia a partir de 2024 e, com a operação, a dívida líquida cresceu para R$ 8,9 bilhões – aumento de 32,7% quando comparado ao 4T22. Atualmente a Minerva tem uma relação de dívida líquida sobre Ebitda de 3,5 vezes. “Este segue sendo o principal ponto de atenção para a tese de investimentos na empresa”, avalia a Levante.

Vale ressaltar, entretanto, que o lucro operacional da companhia deve aumentar em ao menos de R$ 750 milhões com a entrada das novas plantas ao longo de 2024. Com os dados colocados, a Minerva apresentou um lucro líquido de R$ 19,7 milhões, revertendo um prejuízo de R$ 25,7 milhões do ano anterior

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“A Minerva é a maior exportadora de carne bovina na América do Sul e essa liderança deve crescer com a aquisição de parte do portfólio da Marfrig, sendo outro fator possível de crescimento da empresa o aumento da demanda asiática por proteína animal ao longo dos anos. A companhia concluiu sua vigésima aquisição de operações de plantas produtivas de proteína animal no ano de 2023, com isso é esperado um crescimento do faturamento em 44% já em 2024, à medida que a operação seja concluída com a liberação dos órgãos reguladores. A Minerva acredita que pode adicionar até 1,5 bilhão de reais ao seu Ebitda”, destaca a Levante, avaliando que acompanhará atentamente os resultados da companhia nos próximos trimestres para entender o potencial de geração de caixa do novo portfólio de ativos.

“Acreditamos que ao longo do tempo a administração consiga retirar o máximo potencial, no entanto isso pode não ocorrer no primeiro ano, pois isso deve requer um volume de investimentos via capex adicional. Portanto, esperamos que a volatilidade continue nas ações da Minerva e, para o investidor que tem um horizonte mais longo para seus investimentos, observamos a empresa criando uma sólida vantagem competitiva através de uma escala de volumes que nenhum outro player na América Latina”, reforçam os analistas, tendo assim visão otimista para BEEF3.

Já o BBI tem recomendação neutra e preço alvo de R$ 16,00. “O preço das ações da Minerva superou o Ibovespa em 2 pontos percentuais no acumulado do ano, uma vez que o mercado reagiu positivamente às novas autorizações de exportação das fábricas da Marfrig no Brasil para a China. Por outro lado, ainda vemos os preços da carne bovina na China demorando mais para se recuperar, o que, juntamente com o potencial ramp up dos ativos adquiridos da Marfrig, são os principais impulsionadores da recuperação da ação”, pondera.