Mercado Livre: ação queridinha do e-commerce cai 10% após balanço; o que explica?

Margens mais fracas, impacto de provisões em rentabilidade e investidores embolsando lucros após alta recente consistente afetam ações na sessão pós-balanço

Equipe InfoMoney

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Queridinha entre as companhias de e-commerce, as ações do Mercado Livre (BDR:(MELI34) tiveram uma forte baixa em Nova York após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2023 (4T23). Na sessão desta sexta-feira (23), as ações fecharam em baixa de 10,38%, a US$ 1.629,32.

A empresa registrou lucro líquido de US$ 165 milhões, prejudicada por duas provisões no Brasil que totalizaram US$ 351 milhões, em linha com o lucro reportado no mesmo período em 2022, mas bem abaixo dos US$ 356 milhões estimados por analistas consultados pela LSEG.

“A companhia reportou uma boa tendência de crescimento, tanto no E-commerce, quanto na Fintech. Ainda assim, os números do trimestre foram impactados por despesas não recorrentes. Dado esse efeito, o resultado operacional e o lucro do período vieram abaixo de nossas expectativas e também abaixo do consenso”, aponta a Genial Investimentos.

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O Itaú BBA também ressalta que a companhia teve um forte crescimento, com destaque para a receita, que foi 42% superior a um ano antes, a US$ 4,26 bilhões, mas que as tendências de lucratividade foram mais fracas do que esperavam (e do que o consenso projetava), afetadas negativamente por essas despesas únicas.

“Ao ajustar esses impactos, a margem Ebit (rentabilidade operacional) aumentou em 2,7 pontos porcentuais (p.p.) em relação ao ano anterior (mas ainda 2,4 p.p. abaixo do nosso número projetado)”, avalia a equipe de análise do banco.

As principais diferenças nas expectativas foram na margem bruta, que ficou 3,1 p.p. abaixo da sua estimativa, devido ao aumento da penetração de 1P (vendas que o Mercado Livre atua como vendedor) e custos logísticos mais altos, além de uma alavancagem operacional mais lenta do que o antecipado (devido a despesas de vendas e marketing acima do previsto).

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Assim, dado o desvio em relação às estimativas de consenso e considerando o sólido desempenho das ações nos últimos meses, o BBA destacou no seu relatório, divulgado antes da abertura do mercado, que esperava um movimento de realização de lucros na sessão, o que se concretizou.

Sobre os efeitos não-recorrentes, a Genial ressalta que o primeiro foi um impacto de US$ 89 milhões nos custos. Deste valor, US$ 31 milhões são relativos ao julgamento do STF em relação à necessidade de pagamento retroativo do DIFAL referente ao período entre abril e dezembro de 2022. Os outros US$ 58 milhões se referem a um provisionamento relacionado à processos judiciais correntes. Com esse efeito, a margem bruta apresentou uma redução de -2,7p.p. a/a, chegando a 45,9%.

Excluindo impactos não recorrentes a margem é de 47,9% (-0,3 p.p. na base anual). Assim como o BBA, a Genial destaca maior pressão por conta de (i) maiores investimentos na rede logística e (ii) redução dos taxas de envio, com maior participação de uma política de frete grátis via MELI+ (programa de fidelidade).

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O segundo gasto não recorrente do trimestre de US$ 320 milhões se refere a uma provisão relativa a processos judiciais em curso que discutem a possibilidade de cobrança de imposto de renda sobre pagamentos das subsidiárias brasileiras à subsidiária argentina pela prestação de serviços de suporte informático e outros serviços de TI. Segundo a empresa, o risco de perder o caso é agora provável, levando ao provisionamento desses gastos no trimestre.

Frente a esse montante de efeitos extraordinários, o Mercado Livre reportou um resultado operacional de US$ 240 milhões (-31% ano a ano), com uma pressão de 6 p.p. na margem. Excluindo estes impactos, a margem operacional teria sido de 13,4% (+1,8 p.p. frente o 4T22).

Apesar desses fatores negativos, Genial e Itaú BBA seguem construtivos com a ação do Mercado Livre, mantendo recomendação de compra ou equivalente para os papéis. A Genial tem preço-alvo de R$ 87 (upside de 27% frente o fechamento da véspera) para os BDRs da companhia, enquanto o BBA tem preço-alvo de US$ 2.106 para o ativo negociado nos EUA, com potencial de alta de 16%.

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Dentre os pontos positivos do 4º trimestre, o BBA cita o bom momento operacional em todas as geografias na divisão de e-commerce, liderado pelo Brasil (valor bruto de vendas aumentou 35% em relação ao ano anterior, em moeda local) e impulsionado pelo forte crescimento de 1P (aumento de 85% em relação ao ano anterior, em moeda local). A penetração do fulfillment (modalidade logística que uso o centro de distribuição da empresa) atingiu 50%, novamente liderada pelo Brasil, com um aumento de 10 p.p.

Além disso, o banco vê números saudáveis para o Mercado Pago em todos os produtos. O Mercado Crédito foi o destaque, com um ganho de 0,8 p.p. em relação ao ano anterior na rentabilidade, atingindo 39,8%, com receitas em crescimento e uma redução na dívida ruim como porcentual da carteira; e uma queda nos NPLs (índice de inadimplência) atrasados (mais de 90 dias) de 10,9 p.p. em relação ao ano anterior, para 18,7%.

A empresa ainda trouxe maior tranquilidade sobre a contínua depreciação da moeda argentina ao compartilhar um exercício de simulação sobre o efeito de uma desvalorização de 100% da moeda em relação ao dólar em seus resultados para 2023, que mostrou um impacto neutro a ligeiramente positivo no lucro líquido, destaca o BBA. Assim, o banco reforçou visão positiva.