Menor produção, maiores preços: a explicação para o ânimo dos analistas com Vale apesar do revés nas operações

Analistas veem, no momento, alta dos preços mais do que compensando queda da produção, mas seguem atentos a possíveis desdobramentos em outras operações

Lara Rizério

Vale, em Itabira (Divulgação: Vale)

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SÃO PAULO – As preocupações com o coronavírus seguem afetando as operações de companhias brasileiras. Reforçando os temores sobre um aperto na oferta de minério, a Vale (VALE3) sofreu revés nesse último fim de semana após a Justiça do Trabalho determinar a suspensão das operações do complexo de mineração de Itabira (MG).

Com isso, o minério de ferro negociado no porto de Qingdao, na China, foi a US$ 106,55 a tonelada, com alta de 5,5% nesta segunda-feira. A parada da operação da Vale elevou ainda mais as preocupações de que o aumento dos casos possa afetar outras minas no país, principal exportador de minério depois da Austrália.

A indicação é de que o minério de ferro possa ficar acima de US$ 100 nos próximos dois meses, segundo a avaliação do Morgan Stanley, embora tenha alertado que ainda espera superávit e preços mais baixos no último trimestre.

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A Vale informou que, apesar da suspensão, não será necessário revisar a projeção de produção de minério para o ano. Isso porque a empresa já tinha feito uma provisão relacionada à pandemia do coronavírus de 15 milhões de toneladas.

Ainda assim, pode ocorrer um “desabastecimento temporário de pelotas para o mercado interno”, o que atingiria as siderúrgicas do complexo de Tubarão (SC).

Para os analistas do Morgan Stanley, a Vale tem condições de retomar a operação do complexo ainda no curto prazo, precisando apenas adotar as medidas sanitárias definidas pelas autoridades trabalhistas. “Além disso, o fato de a taxa de mortalidade em Itabira ser muito baixa, acreditamos que a posição da Vale permanece sólida”, explicaram em relatório.

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No entanto, apontam, a situação é fluida e eles continuarão a monitorar como ela evolui. Itabira produziu 36 milhões de toneladas de minério de ferro em 2019 e 8 milhões de toneladas no primeiro trimestre.

“Uma interdição prolongada pode resultar em um impacto da pandemia nas operações potencialmente maior do que a empresa assumiu em seu guidance para produção entre 310 milhões e 330 milhões de toneladas em 2020”, avaliam os analistas do Morgan.

Na mesma linha, o Itaú BBA projeta que a produção da Vale em 2020 chegará ao limite inferior do guidance de produção, com viés de produção ainda menor.

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Menores preços, maiores ganhos?

A mineradora está apelando na Justiça para retomar as operações, mas o timing parece incerto, aponta o Credit Suisse. Contudo, os analistas do banco suíço apontam que o avanço no preço do minério de ferro mais alto pode mais do que compensar as perdas de produção. “Em um exercício simples, se a Vale embarcar 300 megatoneladas no ano (abaixo do guidance), cada US$ 1 a tonelada de aumento no preço da commodity podem representar US$ 300 milhões de [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] Ebitda adicional”, avaliam os analistas do Credit.

Enquanto isso, as perdas vindas do complexo Itabira devem chegar a no máximo US$ 160 milhões de queda no Ebitda. Assim, no final das contas, o impacto deve ser positivo no balanço da Vale, apontam.

Esse movimento remete ao início de 2019, quanto um outro choque de oferta por conta da Vale atingiu o mercado global nos últimos 18 meses. No período, o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho afetou os preços e, neste ano, fatores climáticos também atingiram a produção.

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Os analistas do Credit também reforçam que o complexo não deve ficar fechado ate o final do ano e que a Vale parece estar adotando diversas práticas incentivadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“Continuamos com nossa estimativa de 310 megatoneladas de embarques para 2020, mas lembramos que o risco de não chegar a este número aumentou um pouco, principalmente em função de Brucutu ainda operar com 40% de capacidade”, avaliam.

Australianas ganham espaço

Embora as perspectivas no Brasil sejam incertas, os embarques australianos estão em alta. As exportações de Port Hedland – o principal porto de minério de ferro do país – atingiram recorde para o mês de maio e o volume foi o segundo mais alto da história.

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Assim, as mineradoras australianas BHP, Rio Tinto e Fortescue Metals Group (FMG) vêm enviando volumes recorde para a China diante das grandes interrupções ocorridas não só no Brasil, como também na África do Sul. A demanda chinesa continua forte e encaminha para aumentar à medida que as políticas de confinamento do país forem abrandadas e sua economia se recuperar.

Apesar do avanço das australianas, a demanda da China é positiva para a Vale pois o produto da mineradora brasileira tem o diferencial de ser composto por 65% de hematita (rocha com minério de alta qualidade), avalia a Levante de Ideias de Investimento. “Este é o motivo do minério da Vale ser negociado a preços acima da média do mercado internacional, pois o minério de ferro da Vale tem qualidade superior à concorrência”.

Com todo esse cenário do aumento das paradas afetando a produção, mas elevando o preço do minério os analistas do Credit Suisse seguem otimistas com a ação da Vale, avaliando ainda que a companhia tem uma alavancagem bastante baixa (de 0,3 vez a relação entre a dívida líquida e o Ebitda), ressaltando também que a política de dividendos deve voltar em algum momento no ano. Neste cenário, um dividend yield (dividendo sobre o preço da ação) entre 7% e 8% seria bem factível.

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Na mesma linha, o Morgan Stanley mantém recomendação overweight para os ativos, mas avalia que seguirá monitorando os casos e o impacto na produção. Para que a Vale consiga cumprir o guidance, precisa exportar mais de 6 milhões de toneladas por semana no resto do ano, um ritmo que ainda não foi conseguido em 2020, destacou a Macquarie em relatório de 2 de junho (veja mais clicando aqui). De 21 casas que cobrem a ação da Vale, 16 recomendam compra para o ativo, 4 recomendam manter e só 1 recomenda venda.

Desta forma, o fato da Vale ser uma grande produtora global está compensando a possível perda na sua produção, já que sua menor produção leva os preços para cima, ainda mais por sua produção de minério de boa qualidade. Porém, o fator de risco do coronavírus segue rondando a companhia: os investidores estão cada vez mais de olho o período de duração da pandemia e o impacto nas operações em um cenário em que o Brasil vem se tornando um dos epicentros do novo coronavírus.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.