Mais digital e preparado para o pior: CEO explica como o Magalu superou as expectativas – apesar da queda do lucro

Empresa conseguiu aumentar vendas totais mesmo com 60% das suas lojas fechadas pela quarentena

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Magazine Luiza (MGLU3) viu seu lucro cair 76,7% no primeiro trimestre de 2020, como consequência do impacto generalizado da pandemia de coronavírus no varejo, mas espantosamente a empresa registrou um aumento de 7% nas vendas totais no mês passado, além de crescimentos de 138% na sua operação online em abril e de 203% em maio até o dia 20. As ações fecharam o pregão pós-resultado com alta de 6,75%, a R$ 64,48, após chegarem a registrar uma alta de 12,80% na máxima do dia.

“O segundo trimestre de 2020 está a caminho de um ótimo começo, batendo todas as expectativas do mercado. A expansão das vendas foi notável até agora, apesar do fechamento da maioria das lojas físicas da companhia”, escreveram os analistas Thiago Macruz, Gabriel Simões, Helena Villares e Emerson Vieira, do Itaú BBA.

Na avaliação dos analistas do Bradesco BBI, os resultados deixam o Magazine Luiza na posição de um dos vencedores da atual crise. O crescimento do comércio eletrônico, os prazos de entrega e a comercialização de novos segmentos, como cosméticos, foram destacados. “Vemos a queda nos lucros como uma questão menos importante, devido ao progresso estratégico significativo que está sendo feito”, avaliaram.

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Segundo o presidente do Magazine Luiza, Frederico Trajano, a varejista está colhendo os frutos de anos de investimento em uma estratégia omnichannel de vendas. “Faz 13 trimestres que crescemos no comércio eletrônico. O varejo online vem ganhando participação sobre o físico no mundo todo há algum tempo e vai continuar assim”, explica.

Na teleconferência de resultados, o CEO ressaltou que boa parte do crescimento registrado durante a crise do coronavírus se deveu à resposta rápida da companhia aos efeitos econômicos que o coronavírus provocaria. “No início da segunda quinzena de março fechamos lojas e entramos em home office antes dos decretos governamentais. Quando todos os comércios do Brasil estavam fechados colocamos aquele filme na Globo sobre o Parceiro Magalu e expandimos nosso marketplace”, lembra.

De acordo com ele, nesse momento em que tantos pequenos comerciantes estão parados porque a crise os forçou a fechar lojas, é importante que a sociedade enxergue o Magazine Luiza como o “sistema operacional do varejo”.

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Em entrevista ao InfoMoney antes da divulgação do resultado do Magazine Luiza, o estrategista da Eleven Financial Research, Adeodato Volpi Netto, apontou que apesar da empresa estar bem posicionada no varejo digital, a crise do coronavírus forçaria concorrentes a melhorarem suas plataformas digitais, reduzindo as vantagens competitivas da Magalu.

“Em absoluto ela continua forte, mas relativamente está menos superior aos concorrentes, que foram obrigados a prestar mais atenção na multicanalidade”, defendeu.

Trajano diz não se sentir incomodado com este avanço das outras varejistas e comparou a situação com dois populares videogames que focam na competição entre jogadores. “A concorrência no varejo hoje não é como em uma partida de FIFA, que é um contra um, está mais para uma batalha de Fortnite, em que são todos contra todos. Nós sabemos que a competição irá crescer e as outras empresas irão se aprimorar, mas uma ilusão que eu nunca tive foi a de que um dia o varejo brasileiro seria um mercado não competitivo.”

Ele enxerga ser difícil que uma empresa comece agora a se digitalizar e consiga superar 20 anos de investimento e 10 anos de desenvolvimento da multicanalidade do Magazine Luiza. “Tivemos muita consistência de investimento e não é tão fácil chegar nesse nível.”

Preparar-se para o pior

Para Trajano, a postura ideal de todo CEO em um momento de crise como o atual é esperar pelo melhor se preparando para o pior.

O momento exige, segundo ele, muita prudência e cautela, uma vez que a varejista está com 60% das suas lojas físicas fechadas por conta do coronavírus e não se sabe quando os governadores dos estados irão permitir a reabertura dos comércios. Principalmente em estados como São Paulo e Rio de Janeiro, que possuem os maiores mercados consumidores do País, mas ao mesmo tempo são os mais afetados pela pandemia.

O estado governado por João Doria já teve 6.163 mortes pela Covid-19, enquanto aquele administrado por Wilson Witzel atingiu a marca de 3.993 óbitos.

Em entrevista coletiva, o presidente do Magazine Luiza adotou um tom cauteloso ao falar da pandemia. “O Brasil é um dos únicos países do mundo que está flexibilizando as medidas de isolamento social ao mesmo tempo em que aumentam os casos”, comenta.

Na avaliação dele, o pico do coronavírus no Brasil ocorrerá em duas semanas, motivo pelo qual promete estudar cuidadosamente a reabertura de lojas. “Não iremos reabrir as filiais que estejam em locais que não consideramos seguros mesmo que os governantes dessas regiões flexibilizem suas regras de isolamento social”, destacou.

Por outro lado, Trajano criticou pontualmente o governador de São Paulo, ao afirmar sua atuação na contenção do coronavírus foi eficiente, mas que já enxerga regiões do estado em que a pandemia está em trajetória descendente e o comércio continua fechado.

Na opinião do executivo, as principais referências em combate à Covid-19 são os estados do Rio Grande do Sul, governado por Eduardo Leite, e do Paraná, gerido por Ratinho Júnior.

Pontos fortes e fracos do trimestre

O analista Pedro Fagundes, da XP Investimentos, destaca que a Magalu reportou resultados do primeiro trimestre que foram negativamente impactados pelo fechamento temporário das lojas no final do mês de março. O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) do Magazine Luiza veio 22% abaixo da projeção da XP.

“A pressão na rentabilidade foi reflexo da menor diluição de despesas em função da queda nas vendas após o fechamento temporário das lojas”, apontou o analista.

Já os analistas Andrew Ruben, Fernando Donega e Alexandre Namioka, do Morgan Stanley, ressaltaram o avanço do e-commerce da empresa, que teve um crescimento de 73% no volume bruto de vendas online no primeiro trimestre de 2020 contra o mesmo período do ano passado. Como em abril o mesmo indicador avançou 138% e em maio 203% até o dia 20, já é possível falar em aceleração do comércio eletrônico da companhia ao longo do segundo trimestre.

Ao mesmo tempo, as vendas de terceiros pelo marketplace da Magalu cresceram 185% em relação aos três primeiros meses de 2019.

Por outro lado, a equipe do Morgan lembra que a rentabilidade da empresa deve continuar pressionada no curto prazo por conta da disrupção nas lojas físicas. “Nós esperamos pressão sobre as margens por causa das menores vendas em lojas contra maiores custos de envio de mercadorias e aumento da inadimplência”, escrevem os analistas.

Por fim, os analistas Victor Saragiotto e Pedro Pinto, do Credit Suisse, avaliam que o resultado da Magalu era um dos mais esperados da temporada e não desapontou, porém destacaram alguns pontos preocupantes.

“As lojas físicas têm uma rentabilidade maior do que a operação online e acreditamos que a margem no segundo trimestre deva ser um pouco pior. De toda forma, o grande apelo da história está no crescimento e nos parece razoável acreditar que o mercado irá dar um peso maior a este ponto do que à rentabilidade”, escreve a equipe do banco suíço.

Eles reconhecem o que consideram um trabalho brilhante feito pela gestão, mas apontam que o papel negocia a um patamar que implica expectativas bastante altas.

Tanto XP como Bradesco BBI, Itaú BBA e Morgan Stanley têm recomendação de compra para as ações MGLU3. O Credit Suisse, por sua vez, está neutro no papel.

Apesar das preocupações com rentabilidade, a força da companhia no online é inegável e anima os investidores para um futuro em que a migração do consumo do varejo físico para o comércio eletrônico deve ultrapassar o período de pandemia e se tornar uma tendência de longo prazo.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.