Líderes empresariais veem eclosão de duas bolhas no Brasil, mostra G100

A despeito das adversidades vislumbradas, o G100 tem ampliado o otimismo com relação à retomada brasileira, o que se confirma nas projeções para a maioria dos indicadores econômicos analisados

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O ingresso de uma nova equipe econômica mais adepta à ortodoxia e que inspira maior confiança dos agentes do mercado com os primeiros meses do governo do presidente interino Michel Temer revela-se ferramenta indispensável para a superação de um momento crítico pelo qual o Brasil passa. Em uma nova reunião realizada no início de julho, cem dos principais líderes empresariais do país, representados por um grupo chamado G100, reiteraram a percepção de que já haveria sinais de melhora na economia por conta dos recentes acontecimentos políticos, mas não deixaram de explicitar preocupação com o que chamam de “conjugação de duas bolhas que se arrebentam ao mesmo tempo”: uma econômica e outra do sistema político.

“A bolha econômica começa em 2006, no início do ciclo de commodities, o Brasil tem um empuxo de economia com crescimento mais acelerado que o normal e que o potencial e, ao mesmo tempo, começa um ciclo hegemônico do PT. As duas coisas andam mais ou menos simultaneamente”, escreveu o presidente do G100, Rodrigo Romero, em ata do último encontro dos presidentes de empresas, economistas e analistas políticos. A lista dos membros do grupo não é divulgada por conta da proposta de promover liberdade de expressão aos empresários, e dados mais específicos sobre sua relevância no mercado brasileiro ainda não estão disponíveis.

Na leitura do grupo de empresários, houve dois momentos distintos na gestão petista da presidência da República. O primeiro marcou o que chamaram de “política econômica correta” de Lula, na qual ele teria “pego o software de Fernando Henrique, feito algumas adaptações e tornado o Brasil um dos maiores potenciais no ciclo de commodities”. No contexto, eles falaram sobre a política de valorização do salário mínimo e a formalização no mercado de trabalho, conquistas importantes para uma sociedade desigual, mas que teriam acabado por contribuir na perda de capacidade de enxergar os problemas que estavam por vir. “O PT e o Lula, que foram engenheiros dessa mudança social perderam a capacidade de olhar o que estava acontecendo e acharam que aquela situação era uma criação deles, que continuaria infinitamente. E aí as duas bolhas se unem”, afirmaram.

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“É preciso entender o que está acontecendo hoje, quando a bolha explodiu toda a capacidade de produção. Neste primeiro período, não havia desemprego. Era o momento do pico da bolha de consumo e também o pico de aprovação do Lula, que girava em torno de 80%. É também nessa hora que as duas bolhas começam a explodir. A econômica porque o déficit foi para um nível muito alto, o desemprego lá embaixo e os salários subiam, uma típica bolha. Como toda bolha, ela explodiu e a curva de absorção e investimento sai dos 10% e chega em 2012 quase a zero”, complementaram. Apesar de se autodenominar apartidário, o grupo não esconde seu descontentamento com os governos petistas. Eles enxergam uma série de indícios para a configuração de uma bolha na economia do país, como, por exemplo, a pequena melhora observada em 2012/2013, repique que seria padrão deste tipo de evento. Para os membros do G100, a mudança de matriz não passou de uma tentativa desesperada do governo se levantar novamente através do crédito voltado para o consumo.

“Hoje sabemos que, se na economia a tentativa de conter a bolha foi via crédito, na área política foi via propina”, dizia a ata da última reunião do G100. “Há outro ensinamento importante das bolhas políticas: quando termina um período hegemônico há um vácuo de lideranças, porque toda hegemonia leva a ter um indivíduo que é o líder e não deixa outras lideranças aparecerem, até para evitar concorrência. E isso gera um vácuo político, que é o que viveremos por algum tempo, até que apareça uma nova liderança”, complementaram. Portanto, é vital para o país neste momento o surgimento de novas lideranças capazes de gerar consensos para que se supere a crise. Nesse sentido, os empresários veem com muito otimismo a figura do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que passa a ser uma alternativa real para o poder caso a economia brasileira cresça cerca de 4% em 2018. Outra opção apontada por eles é o chanceler José Serra, “que precisa passar ainda pela prova da Lava Jato”.

A despeito das adversidades, o G100 tem ampliado o otimismo com relação à retomada brasileira, o que se confirma nas projeções para a maioria dos indicadores econômicos analisados. Na avaliação dos líderes empresariais, o Brasil tem uma vantagem sobre muitos outros países, que é a abundância de profissionais competentes e estudos qualificados sobre os mais diversos temas necessários para a reorganização da sociedade. “Depende da classe política, com esse material, construir o caminhar na direção correta. Hoje o grande problema é como construir uma mudança da Constituição de 88 para uma constituição que reflita a sociedade nova, as questões institucionais. O risco hoje é ir rápido demais. Há muitas pessoas clamando uma revolução liberal. Isso não existe, não pode ser feito, não há a bala de prata. Temer e Meirelles parecem ter entendido que é preciso ir com calma, para não perder a mão. Estamos em um processo de construção de uma nova estabilidade política e social”, escreveu Romero no documento.

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“Se conseguirmos fazer isso, o PT é passado, estamos vacinados, e teremos uma sociedade dependente do crescimento econômico. Essa é a fronteira, por isso devemos estar felizes. A situação já foi pior, seis meses atrás. Os fundos de investimento que cerca de um ano atrás estavam preparados para o caos, já dão indicações de que a situação tende a melhorar”, observou o G100. Embora o tom do empresariado seja otimista, a ata da reunião do grupo pedia realismo para as análises brasileiras, evitando-se o desânimo pelo excesso de expectativas. “Precisamos ter uma visão realista sobre o Brasil. O Brasil não cresce mais de 5% ao ano, não pode crescer e não crescerá. Somos uma sociedade de consumidores, como os Estados Unidos, onde 70% do PIB é consumo. O brasileiro não poupa. E isso cria um teto de crescimento. O potencial do país é crescer entre 3% e 4%”, ponderaram.

O infográfico abaixo mostra a evolução das projeções dos presidentes empresariais membros do G100 e economistas consultados pelo grupo para os principais indicadores da economia brasileira em 2016 e 2017:

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.