Juros futuros despencam 25 pontos em 8 dias e vão à mínima desde 2013

A uma semana do Copom, mercado precifica corte mais agressivo na Selic mesmo com aumento de impostos no radar

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após iniciar a sessão em alta, acompanhando as sinalizações mais dovish do Banco Central Europeu e os números da “prévia da inflação” indicando uma deflação acima do esperado em julho, o Ibovespa virou para queda ao final da manhã desta quinta-feira (20), acompanhando o movimento visto no mercado global. Às 12h12 (horário de Brasília), o benchmark da bolsa brasileira caía 0,28%, a 65.000 pontos, puxado sobretudo pela queda das ações de Vale (VALE3; VALE5) e siderúrgicas, além da virada dos papéis da Petrobras (PETR3; PETR4).

Os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuavam 5 pontos-base, a 8,55%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíam 4 pontos-base, a 9,47%. Pesa sobre os movimentos no mercado de renda fixa a queda de 0,18% no IPCA-15 de julho, divulgado hoje pelo IBGE, número que veio abaixo da mediana das estimativas dos analistas consultados pela Bloomberg, que apontava para recuo de 0,10%. No acumulado de 12 meses, o indicador aponta para uma alta de 2,78%, contra estimativas de 2,87%. É o oitavo dia consecutivo de queda dos DIs, com o yield dos papéis curtos acumulando recuo de 25 pontos-base, no menor patamar desde janeiro de 2013.

Um cenário mais benigno para o avanço dos preços, somado às avaliações de dificuldades na retomada da economia, pode favorecer um corte mais agressivo nos juros por parte do Banco Central. A uma semana da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o mercado precifica chances maiores de corte de 100 pontos-base na Selic. No entanto, a decisão do governo por elevar impostos para cumprir a meta primária deste ano pode pressionar os preços e obstruir uma política monetária mais incisiva, embora muitos economistas questionem os efeitos da elevação da carga tributária sobre a inflação em períodos de baixo nível de consumo e economia estagnada.

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Já os contratos de dólar futuro com vencimento em agosto deste ano caíam 0,27%, sinalizando cotação de R$ 3,147, indicando continuidade no movimento de desvalorização da moeda americana. “O fato de Draghi não ter mudado o discurso, expectativa de alta gradual dos juros nos EUA, BC local atuante também ajudam a manter dólar forçado para atuar em baixa”, diz José Carlos Amado, operador da Spinelli. A moeda americana ampliou recuo após notícia de que advogado especializado Robert Mueller estendeu a investigação sobre possíveis laços entre Donald Trump e a Rússia na eleição do ano passado.

Confira ao que se atentar neste pregão:

Destaques da Bolsa

Do lado das empresas, além da estréia do Carrefour na B3 (saiba mais aqui), o destaque do dia fica com o relatório de produção de minério do segundo trimestre da Vale (VALE3; VALE5). A companhia produziu 91,849 milhões de toneladas da commodity no período, 5,8% superior ante o mesmo período do ano anterior e um novo recorde para o segundo trimestre. O dado foi acima da estimativa média de 6 analistas consultados pela Bloomberg, que era de 91,4 milhões de toneladas. O crescimento na relação anual é explicado pelo aumento da produção em seu projeto S11D, que teve início do final do ano passado.

A Vale destaca que reduzirá ao longo do segundo semestre deste ano a produção de produtos de alta sílica em algumas de suas minas no Sistema Sul, em uma quantidade anualizada de 19 milhões de toneladas. Em conjunto, a companhia irá limitar a qualidade de sílica a 5% de seu produto, que vem sendo bem aceito no exterior, o Brazilian Blend Fines (BRBF). Com isso, a mineradora informa que sua produção em 2017 ficará no limite inferior da faixa prevista para o ano, de 360 milhões de toneladas a 380 milhões de toneladas, o que está, segundo a empresa, “em linha com a estratégia atual de maximização de margem”. Apesar disso, a meta de longo prazo de produção anual de 400 milhões de toneladas foi reafirmada.

Além disso, a Justiça Federal manteve o prazo concedido às mineradoras Vale e BHP Billiton para negociar um acordo para ações decorrentes do desastre da Samarco até 30 de outubro, segundo afirmou em nota na quarta-feira. Com o colapso de uma barragem da Samarco, em Mariana (MG), em novembro de 2015 –que deixou 19 mortos, centenas de desabrigados e poluiu o rio Doce, que deságua no mar do Espírito Santo– uma série de ações foram movidas contra as empresas. Em uma delas, o Ministério Público Federal (MPF) pede que as mineradoras paguem um total de 155 bilhões de reais em ações de mitigações e reparações. Essa ação foi suspensa até 30 de outubro e, com isso, todas as ações conexas.

A decisão havia sido proferida em junho, quando a Justiça concedeu um prazo extra para que as empresas negociassem um acordo. No entanto, a Vale publicou um fato relevante na quarta-feira no qual afirmou que, em 17 de julho, “o juiz determinou por prazo indefinido a suspensão da ação movida pelo MPF”.

Também merece atenção a novidade sobre o acordo entre a Metalúrgica Gerdau (GOAU4) e o BTG Pactual (BBTG11) para troca de ação da Gerdau (GGBR3; GGBR4) e o consequente pedido de OPA (Oferta Pública de Aquisição) das ações GGBR3, anunciado em março. A CVM autorizou pedido de registro de OPA (Oferta Pública de Aquisição) de ações por aumento de participação mediante a permuta de ações ordinárias por ações preferenciais de emissão da companhia, segundo informou a Gerdau em fato relevante. A OPA fica sujeita à adesão de acionistas titulares de, no mínimo, 39,6 milhões de ações ordinárias, ou seja, o equivalente a dois terços das ações ordinárias em circulação.

Já a Petrobras (PETR3; PETR4) anunciou novo reajuste de preços, com elevação do diesel em 2% e da gasolina em 0,1%. O aumento de preço para refinarias acontece a partir de 21 de julho.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 VALE3 VALE ON 28,88 -3,41 +24,19 73,93M
 BRAP4 BRADESPAR PN 21,16 -3,38 +46,01 12,09M
 GOAU4 GERDAU MET PN 5,40 -3,23 +12,50 41,45M
 VALE5 VALE PNA 27,13 -3,14 +28,36 233,88M
 CSNA3 SID NACIONALON 7,66 -2,42 -29,40 17,85M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 CYRE3 CYRELA REALTON 11,71 +2,36 +14,84 55,54M
 ELET3 ELETROBRAS ON 14,45 +1,83 -31,57 6,88M
 UGPA3 ULTRAPAR ON 75,18 +1,66 +11,34 23,31M
 WEGE3 WEG ON 19,64 +1,66 +28,05 9,84M
 BRKM5 BRASKEM PNA 39,81 +1,40 +16,23 39,17M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Alta de impostos e reformas
O destaque desta quinta-feira fica com a expectativa de elevação na carga tributária. De acordo com diversos jornais e agências, o governo deverá anunciar hoje aumento de impostos sobre a gasolina para ajudar a melhorar as receitas e garantir o cumprimento da meta fiscal em 2017, em meio à recuperação econômica mais fraca do que esperada após dois anos seguidos de recessão, dando segurança ao cumprimento da meta de déficit de R$ 139 bilhões deste ano. O plano é elevar em R$ 10 bilhões as receitas. Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, essa medida foi recebida com resistência por integrantes da base aliada do governo, que estão de olho na repercussão negativa e o impacto para as eleições de 2018.

As reformas também estão no radar. De acordo com a Folha de S. Paulo, Temer prometeu que irá se empenhar para a aprovação das reformas tributária e da Previdência no segundo semestre. A promessa teria acontecido durante jantar no Palácio do Jaburu e seria uma forma de manter o DEM na base aliada. Neste sentido, vale destacar a entrevista do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para o jornal O Estado de S. Paulo. Contrariando o ceticismo, Maia se comprometeu a pôr a reforma da Previdência na pauta do plenário da Câmara em agosto.

Após bater o martelo sobre uma alta de impostos, Temer viaja hoje no fim da tarde para Mendoza, na Argentina, onde participa da 50ª Reunião do Conselho do Mercado Comum e Cúpula do Mercosul e Estados Associados. Ele volta na sexta-feira (21). Após a Cúpula de Mendoza, o Brasil deve assumir a presidência pro tempore do Mercosul. Segundo o Itamaraty, o país quer continuar o trabalho realizado pela Argentina, que presidiu o bloco no primeiro semestre deste ano e eliminou diversas barreiras comerciais entre os países que compõem grupo. O Brasil tentará também concluir os acordos de cooperação entre Mercosul e União Europeia, o Canadá e alguns países da Ásia, como Japão, Coréia do Sul e Índia, entre outros blocos internacionais. A situação da Venezuela também deve ser discutida durante a Cúpula.

Ato pró-Lula

Nesta quinta-feira, o PT, sindicatos e movimentos sociais realizarão atos em todo o Brasil em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo “fora Temer”, “diretas já” e contra as reformas trabalhista e da Previdência. Em São Paulo, a mobilização está marcada para a Avenida Paulista, a partir das 17h, em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo). Já estão confirmadas a presença do próprio Lula e da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann.  

Ontem, após o bloqueio de bens do petista feita a pedido do juiz Sérgio Moro, a defesa do ex-presidente se manifestou, afirmando que a medida é ilegal e abusiva.  Os advogados Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins disseram que a decisão de Moro “retira de Lula a disponibilidade de todos os seus bens e valores, prejudicando sua subsistência, assim como a subsistência de sua família”. “É mais uma arbitrariedade dentre tantas outras já cometidas pelo mesmo juízo contra o ex-presidente Lula.”

Bolsas mundiais

A sessão é misto nos mercados europeus após o anúncio de manutenção do programa de estímulos pelo BCE (Banco Central Europeu) e com as sinalizações de que o Quantitative Easing continuará contando com recompras mensais de 60 bilhões de euros em títulos até dezembro, com possibilidade de prorrogação se necessário. A autoridade monetária local deixou claro que está pronta para ampliar os estímulos “em termos de tamanho e/ou duração” se o cenário econômico piorar ou as condições financeiras “tornarem-se inconsistentes”.

Também repercutem nos mercados os ganhos da véspera em Wall Street e a decisão do Bank of Japan por manter estímulos monetários e adiar prazo para bater meta de inflação. Enquanto isso, o dólar se aprecia ante os principais pares. Nos EUA, o destaque será o índice da atividade industrial da Filadelfia de julho. Conforme aponta a LCA Consultores, espera-se a continuidade do crescimento, ainda que num ritmo um pouco mais fraco.

“Com o Banco do Japão e o BCE se colocando mais dispostos a postergar o período de estímulos monetários, as principais bolsas da Europa e os futuros de Nova York operam em alta. O avanço do petróleo e balanços corporativos melhores que o esperado, também contribuem para a alta dos mercados”, escreveu a equipe de análise da XP Investimentos em relatório a clientes.

Já na Ásia,  as ações subiram para seus níveis mais altos em quase uma década, também impulsionadas pelo movimento global. Já no mercado de commodities, o petróleo tem leves ganhos, enquanto o minério de ferro tem expressiva queda após atingir os US$ 70 a tonelada na véspera em Qingdao.

Às 12h35, este era o desempenho dos principais índices:

*CAC-40 (França) +0,44%

*FTSE (Reino Unido) +0,75%

*DAX (Alemanha) -0,13%

*Hang Seng (Hong Kong) +0,26% (fechado)

*Xangai (China) (fechado) +0,44% (fechado)

*Nikkei (Japão) +0,62% (fechado)

*Petróleo WTI -0,23%, a US$ 47,01 o barril

*Petróleo brent -0,06%, a US$ 49,67 o barril

*Contratos futuros do minério de ferro negociados na bolsa chinesa de Dalian -1,90%, a 517 iuanes

*Minério de ferro 62% spot negociado no porto de Qingdao, na China, -3,12%, a US$ 68,05 por tonelada

(Com Agência Estado, Bloomberg e Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.