JBS (JBSS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3): entre ciclos de gado e China, analistas destacam ação preferida após balanços

Com maior exposição ao Brasil, onde o ciclo é positivo, Minerva é a favorita de analistas com 13 recomendações de compra

Vitor Azevedo

(Shutterstock)

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O segundo trimestre não foi exatamente um dos mais positivos para os frigoríficos brasileiros como JBS (JBSS3), Marfrig ([ativo=MFRG3]), mas mostrou sinais positivos, enquanto a Minerva (BEEF3) se destacou.

A última empresa continua a ser a favorita da maioria das casas após os seus resultados. A companhia  foi a única entre os três frigoríficos a ter um documento considerado predominantemente positivo por analistas, além de ser a única sem anotar um prejuízo na sua linha final.

Os fatos de a empresa ter maior exposição ao Brasil, onde o ciclo do gado é positivo, e à China ajudam a explicar o desempenho.

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Confira as recomendações da Refinitiv para os frigoríficos: 

Empresa Recomendações de Compra Recomendações Neutras Recomendações de Venda Preço-alvo médio
Minerva 13 1 0 R$ 15,65
JBS 11 6 0 R$ 27
Marfrig 6 8 1 R$ 10,44
BRF 3 10 1 R$ 10,50

Diferentes ciclos

O ciclo de gado, primeiramente, é algo natural que os frigoríficos enfrentam. Ele é explicado basicamente pela oferta e demanda com momentos que se alternam.

Quando há muitas cabeças de gado disponíveis, os preços caem e os criadores perdem margem de lucratividade. Nesse momento, frigoríficos lucram mais, por conseguirem comprar animais por um preço mais em conta. Logo, no entanto, os criadores passam a diminuir sua criação, simplesmente porque não compensa. O número de cabeças vai diminuindo e o preço, subindo. Neste momento, empresas como JBS, Marfrig e Minerva gastam mais e nem sempre podem repassar os custos aos consumidores, sob o risco de verem suas vendas caírem.

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A questão é que Estados Unidos e Brasil estão em momentos diferentes do ciclo. Nos EUA, o número de cabeças caiu e JBS e Marfrig, empresas com maior exposição no país, estão com suas margens prejudicadas. No Brasil, a disponibilidade de gado está alta e a Minerva, que tem a maior parte da sua produção por aqui, deve surfar o momento.

“O ciclo bateu. As receitas da JBS caíram, impactadas pela normalização das operações da carne bovina na América do Norte, e as vendas líquidas recuaram 12,3% no ano. Fora isso, houve impacto também da apreciação do real”, falou o time do Itaú BBA, encabeçado por Gustavo Troyano, sobre a JBS.

Já sobre a Minerva, a mesma equipe de análise destacou: “A rentabilidade já está aqui. Acreditamos que a forte expansão da margem foi o destaque do segundo trimestre, o que deve aliviar parcialmente as preocupações dos investidores sobre a recuperação dos ganhos. O aumento da margem foi impulsionado por um ciclo em melhoria no Brasil, onde os preços do gado continuaram a cair e as exportações de carne bovina melhoraram.”

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Os executivos da Minerva apontaram ainda, durante a teleconferência de resultados, que veem o segundo semestre sendo melhor do que o primeiro.

Apesar das melhores margens, com a Ebitda ficando em 9,8%, ante 9,2% no mesmo período de 2022, o faturamento da empresa foi fraco, por conta dos baixos preços da carne no mercado mundial. A receita líquida caiu 14,1% no ano, para R$ 7,2 bilhões. Isso, no entanto, deve mudar por conta da China.

Para fins de comparação, na JBS houve um recuo de 3% das receitas, que foram para R$ 89,3 bilhões, mas com a mesma margem consolidada ficando em 1,5%, com queda de 9,7 pontos percentuais no ano. A Marfrig teve sua receita caindo 5,7% na mesma base, para R$ 32,5 bilhões, e a sua margem encolhendo 4,4 pontos, a 7,1%.

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“Vemos uma inflexão dos preços na China. Eles bateram o fundo e agora se recuperaram. Vale lembrar que além de o Brasil ter ficado suspenso de vender para o país, os embarques quando isso aconteceu estavam feitos, o que formou estoque por lá. Houve um represamento de produtos que impediu os preços de subirem depois da reabertura”, diz Fernando Galletti de Queiroz, diretor executivo (CEO) da Minerva.

Para os diretores, apesar de a economia chinesa estar dando sinais de enfraquecimento, o consumo de carne bovina, por lá, se tornou algo estrutural após problemas sanitários com as proteínas de frango e de porco (gripe aviária e suína, respectivamente). O recuo dos estoques também deve liberar espaço para as altas.

“Estamos otimistas com a demanda na Ásia, principalmente com a retomada da China. Isso, combinado com o ciclo do gado caindo nos EUA e com o momento do mesmo ciclo no Brasil, sustentam nosso otimismo para o fim do ano”, falou Edison Ticle, diretor financeiro (CFO) da Minerva.

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JBS, Marfrig e Minerva falam de China

De forma geral, essas sinalizações quanto à China foram uma constante em todos os três frigoríficos.

“Com a redução dos estoques, a demanda e os preços da carne bovina já aumentaram na China em julho. E, sazonalmente, o segundo semestre costuma ser mais forte”, afirmou Rui Mendonça, CEO da Marfrig para a América do Sul, a jornalistas.

Na BRF, empresa dona da Sadia que trabalha mais com aves e carne de porco, a melhora projetada para o segundo semestre vem dos custos com grãos.

O CFO da BRF, Fábio Mariano, afirmou que a queda de 7% dos custos dos produtos vendidos (CPV) no segundo trimestre foi, em grande parte, por conta desse fator.

Ele indicou que o efeito da queda nos preços dos grãos sobre o índice ainda está por vir – o que sinaliza uma perspectiva de alívio nas margens. “Podemos dizer que 70% do ganho de eficiência já foi reconhecido nas linhas de custos e despesas. [A queda de CPV] tem muito a ver com o programa de eficiência e pouco a ver com o cenário de grãos, que deverá surtir efeito no segundo semestre”.

Analistas já destacaram que a reestruturação da empresa trouxe resultados no segundo trimestre.

“O plano de melhoria operacional da BRF roubou a cena, contribuindo com R$ 540 milhões em eficiências e indicando que a administração está no caminho certo para entregar uma perspectiva de rentabilidade mais otimista à frente”, escreveu o analista Gustavo Troyano. A mesma visão trouxe o Bradesco BBI, que viu a geração de caixa acima do esperado como o principal ponto do balanço.

A BRF vem corrigindo sua rota e no último um ano e meio realizou dois follow ons, fora possíveis vendas de ativos previstas para os próximos meses. Essas mudanças, no entanto, mantêm analistas um pouco mais receosos, o que explica o menor número de recomendações de compra.

Percepções para o segundo semestre

As questões vistas no segundo trimestre devem seguir até o final do ano e sustentam as percepções das casas de análise.

O Goldman Sachs e a XP, em relatórios divulgados nesta semana, definiram a Minerva como sua top pick entre os frigoríficos. Entre os motivos para a escolha estão, justamente, a China e o ciclo benéfico.

“O volume geral de importação de carne bovina da China aumentou em 6,1% no acumulado do ano, e os segmentos de alimentos e lazer continuam impulsionando a maior parte do consumo doméstico. O segundo semestre de 2023 marca uma sazonalidade positiva, e o Brasil deve ganhar participação nas exportações”, fala a equipe encabeçada por Thiago Bortoluci, do Goldman. “Fora isso, embora observado que os custos do gado no Brasil já tenham ajustado substancialmente (redução de 28,1% desde o início do ciclo), notamos que a região está apenas na metade do movimento”.

A XP vai no mesmo caminho, falando em um “posicionamento único em momento positivo de ciclo” e destaca que as ações estão com desempenho pior do que o Ibovespa.

Na segunda, a corretora revisou sua análise para a JBS. Apesar de ter mantido a recomendação de compra, ela cortou o preço-alvo de R$ 39 para R$ 27, incorporando o resultado pior do que o esperado.

“Uma tempestade perfeita atingiu as mais diversas operações da companhia no primeiro semestre, reduzindo os seus resultados e levando a uma perspectiva de alavancagem desconfortável, que poderia ter sido ainda mais crítica se não fosse a bem-vinda gestão de passivos feita pela empresa”, expõe o time da corretora.

A XP cita enxergar uma melhora na US Beef, mas vê também a frente de aves e suínos da empresa enfrentando dificuldades por conta de um excesso de oferta.

Para a Marfrig, o Itaú BBA também vê uma melhora para as margens nos Estados Unidos a partir do segundo semestre. “Enquanto isso, no entanto, esperamos que o desempenho volátil da Marfrig continue refletir sua participação no capital da BRF”, falam, em referência ao fato de a empresa ter 53% do capital da empresa.