JBS (JBSS3) enfrenta “tempestade perfeita” no 1º tri; ação fecha em baixa de 6,7% após chegar a cair mais de 12%

Divisões de carne bovina e suína dos Estados Unidos, e Seara no Brasil, foram destaques negativos do intervalo de janeiro a março

Vitor Azevedo

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A JBS (JBSS3) enfrentou, de acordo com analistas, “uma tempestade perfeita” no primeiro trimestre de 2023 o que se traduziu no seu resultado e, agora, nas suas ações. Após a divulgação do balanço na véspera, os papéis ordinárias da companhia chegaram a registrar queda de 12,60%, a R$ 15,12, mas amenizaram as perdas, ainda que fechando com baixas expressivas. A ação fechou a sessão desta sexta-feira (12) em baixa de 6,71%, a R$ 16,14.

“A JBS divulgou resultados fracos no geral, com compressão de margem em todas as unidades de negócios, exceto na Pilgrim’s Pride”, avalia o time do Itaú BBA. “As divisões dos Estados Unidos continuam lutando devido ao excesso de oferta de proteína no mercado, enquanto no Brasil, os custos mais altos dos grãos levaram a Seara a ter um desempenho ruim”.

O frigorífico, no consolidado, trouxe uma receita líquida de R$ 86,7 bilhões, um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), de R$ 2,2 bilhões e um prejuízo de R$ 1,5 bilhão.

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Na JBS Beef North America, uma das principais divisões da companhia, a margem Ebitda, ou margem operacional, foi de apenas 0,4% – o ciclo de gado por lá está com tendência de queda do número de cabeças, com a diminuição da oferta, o que leva a empresa a gastar mais na aquisição de animais. O Ebitda da divisão foi de R$ 115,8 milhões.

“Uma margem Ebitda apertada de 3,7% na JBS USA Pork [braço de suínos na América do Norte] se soma ao efeito do excesso de oferta de proteína nos EUA. O Ebtida caiu 65%, para US$ 66 milhões, uma vez que os preços domésticos caíram 20% no ano nos EUA e o custo dos produtos vendidos (CPV) aumentou 2%, devido aos aumentos sequenciais nos custos de grãos de ração e menor disponibilidade de suínos”, menciona o time do BBA.

Na Seara, como já mencionado, o que puxou o resultado também foi o preço dos grãos.

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“A Seara reportou resultados fracos e muito abaixo de nossas estimativas em função dos custos de produção ainda elevados e preços fracos devido a um cenário de oferta e demanda desequilibrado”, corrobora o time da XP Investimentos, chefiado por Leonardo Alencar.

Como resultado, a corretora afirma que a receita veio em linha com suas estimativas, em R$ 10,3 bilhões, mas a margem Ebitda foi de 1,4%, contra sua estimativa de 6,0%. O Ebitda de R$ 147 milhões foi 76% menor do que suas projeções.

“O Ebitda abaixo do esperado em 55% é explicado por margens abaixo do esperado na divisão de carne bovina dos EUA, em 30% devido à Seara e 15% por conta da divisão de suínos norte-americana”, concorda Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI.

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Leandro, em relatório, também fala que é preciso clareza quanto ao fluxo de caixa, uma vez que a JBS queimou R$ 6 bilhões de caixa entre janeiro e março.

“Os segundo e terceiro trimestres sazonalmente são mais fortes, mas a queima levou a uma alavancagem [medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda] de 3,1x, ante 1,4x no primeiro trimestre de 2022. A maior parte desse aumento na queima de caixa foi impulsionada pela  a perda de Ebitda, mas também houve um aumento na queima de caixa de contas a pagar a fornecedores e financiamento da cadeia de suprimentos”, explica.

O Itaú BBA, apesar do resultado, manteve sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra), com preço-alvo em R$ 39.

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“Por um lado, a empresa afirmou que as perspectivas para 2023 mostram sinais de melhora sequencial; por outro lado, o nível de lucratividade mais baixo em todos os setores marca um ponto de partida desafiador (e abaixo do esperado)”, falam. “Em nossa visão, a magnitude da surpresa negativa provavelmente superará o tom construtivo para o próximo trimestre até que tenhamos uma visibilidade mais clara do caminho de recuperação à frente”.

O BBI está neutro para os papéis, com preço-alvo em R$ 30, mencionando as margens fracas para os setores de bovinos, suínos e frango nos Estados Unidos.