“Investidores precisam aprender a encontrar oportunidades”, diz professor

Investidores não sabem interpretar os indicadores com efetividade, afirma Juliano Carneiro

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Comprar uma ação é uma negociação que envolve uma parte que acredita em alta contra outro que aposta no contrário. A sensação de estar fazendo um bom negócio geralmente prevalece nas duas pontas do negócio – mas geralmente, um está fazendo um negócio muito melhor que o outro.

Geralmente, as duas pontas da operação estão olhando para pontos diferentes: alguns podem estar apostando na melhora do lucro, baseado nos últimos trimestres, quando outros olham para múltiplos, que julgam já estar elevados, ou deprimidos. Geralmente, estão olhando para números frios, que pouco dizem sobre as perspectivas futuras – e que pouco dizem se a oportunidade é boa ou não. “O pequeno investidor ainda precisa aprender a encontrar boas oportunidades na bolsa”, crava Juliano Carneiro, trader e professor do portal JulianoCarneiro. 

Para ele, os pequenos investidores focam nas coisas erradas, ficam muito presos em indicadores. “Eles acham simples olhar o indicador P/L (Preço sobre Lucro), mas na realidade não sabem à fundo o que ele quer dizer”, diz, salientando que um número de P/L baixo não necessariamente é um bom sinal, caso o investidor não saiba interpretar a razão daquilo. “Existem pessoas que seguem a evolução do lucro, mas não sabem de onde o lucro vem”, afirma. 

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Ambev e Petrobras: 2 mundos diferentes?
Carneiro chama a atenção para o caso da Ambev (AMBV4) e Petrobras (PETR3; PETR4), as duas empresas com maior de valor de mercado no Brasil. Enquanto a primeira vem apresentando forte crescimento no lucro líquido e consequentemente na valorização das ações, a segunda vem apresentando resultados cada vez piores e já perdeu quase 50% de valor de mercado nos últimos três anos. Para Carneiro, somente os números frios dos fundamentos não são capazes de explicar o que ocorrerá com as duas empresas.  

Recentemente, a Ambev passou a Petrobras em valor de mercado. Depois de uma forte valorização das ações da companhia de bebidas, houve quem chamasse a empresa de bebidas de “extremamente cara” – por conta de seu P/L esticado – sem espaço para que as ações subissem, assim como alguns viram a petrolífera como uma “barganha”, pronta para ser adquirida, já que o seu valor patrimonial está acima de seu valor de mercado. Em outras palavras, se todos os ativos da Petrobras fossem liquidados da noite para o dia, o seu valor, dividido por ação, seria superior ao valor da empresa em bolsa.  

Para Carneiro, é muito simples perceber que a Petrobras tem um valor patrimonial acima de seu valor de mercado, enquanto a Ambev negocia a um prêmio. Em teoria, só por conta disso, a petrolífera deveria valer mais do que atualmente, o que a transformaria, automaticamente, em uma “barganha”. Mas qual crescerá mais? “Para achar a barganha, é necessário entender a empresa, seu setor, seus indicadores e suas perspectivas futuras. Ou seja, se tornar um P.h.D nela”, destaca Carneiro. 

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Há a possibilidade, por exemplo, de que a Ambev continue a mostrar a melhora operacional de seus números, o que, na opinião do professor, garantiria que os papéis continuassem subindo além das atuais cotações. Nada impede também que as ações da Petrobras continuem caindo – já que parte do mercado teme as ingerências do governo, a destruição da rentabilidade da empresa no longo prazo. Na pior das hipóteses, o patrimônio desaparece com o passar do tempo. 

Empresas medíocres podem ser boas?
Além disso, algumas empresas podem melhorar de um tempo para outro, tornando em uma empresa de melhor qualidade. “Empresas medíocres podem dar certo, desde que siga o plano de expansão ou recuperação. Tem que ser medíocre, mas séria e transparente”, diz o professor. Esse é o exemplo da Petrobras, que atualmente é acusada de não olhar para o interesse do acionista minoritário – mas pode ter um choque administrativo em busca da rentabilidade com os efeitos da gestão de Maria das Graças Foster.  

A melhora de qualidade da empresa começa com um bom comando, uma gestão qualificada que a permita criar valor. “Uma empresa boa começa com uma boa gestão, e precisa mantê-la para continuar tendo lucro”, diz. Mas nenhuma empresa consegue crescer com uma gestão ruim, ou mesmo manter uma gestão ruim.

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“Temos vários casos de empresas na beira da falência, com falta de transparência, péssima gestão que retornaram a ser boas após serem adquiridas por um grande grupo, ou então expandidas”, avalia. Ele lembra que a questão da gestão é tão importante que muitos hedge funds colocam como exigência a não mudança no comando – para evitar que se façam besteiras e degradem a empresa.