Investidores ganham 2.000% com maconha. E tudo dentro da lei

Nova "moda" em Wall Street lembra a febre das criptomoedas, não só pelas fortes altas, mas também pelos riscos do investimento

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO –Um novo tipo de aplicação tem provocado uma onda de euforia no mercado. Alguns investidores ganharam mais de 2.000% em poucos meses, o que, claro, chamou a atenção de quem ficou de fora.

Mesmo sem muita informação a respeito, mais investidores passaram a colocar dinheiro nessa aplicação, que, com isso, voltou a valorizar. Os analistas, porém, alertam para os riscos desse setor. Não, não estou descrevendo o oba-oba com as criptomoedas. A nova moda em Wall Street é investir em maconha.

Para quem surfou na febre do bitcoin, a “bad vibe” da derrocada dos preços em 2018 coincidiu com o surgimento do mercado da cannabis (a moeda virtual valorizou 41% em 2019, mas está cotada a US$ 5.300, ainda longe do recorde de US$ 20.089 atingido em 17 de dezembro de 2017). A maconha tem deixado muitos investidores nas nuvens com suas diferentes oportunidades de investimento, do uso medicinal ao recreativo.

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Apesar das óbvias diferenças entre os dois mercados, não é difícil compará-los. O mercado de cannabis hoje dispara por pura euforia diante das notícias positivas, lembrando muito o do bitcoin em 2017. Naquele ano, a moeda disparou 1.300% pela empolgação dos novos investidores sobre a adoção deste ativo no mundo.

Em 2018 o Canadá se tornou o segundo país a legalizar a maconha para uso recreativo, depois do Uruguai. A cannabis medicinal, por sua vez, já é liberada em dezenas de países.

A produção é bastante controlada por todos os governos, mesmo onde o consumo já é legalizado. Ainda assim, especialistas do setor projetam números bilionários em vendas. Segundo a Deloitte, as vendas legais de maconha no Canadá devem chegar a US$ 4,3 bilhões este ano, enquanto a Cowen & Co. aponta que, se o governo norte-americano legalizar o mercado, as vendas nos EUA poderiam chegar a US$ 80 bilhões até 2030.

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A cada dia surgem novidades envolvendo a erva, e as empresas de bebidas, que até pouco tempo tinham medo de terem suas vendas prejudicadas, agora estão unindo forças com a cannabis. A cidade de São Francisco recebe neste ano a primeira Cannabis Drinks Expo para discutir esta nova versão de bebidas, que pode se tornar um mercado de US$ 1,4 bilhão até 2023 segundo a Zenith Global, consultoria especializada em bebidas e alimentos. Em 2018, as vendas de bebidas com cannabis foram de US$ 89 milhões.

Diversas empresas que produzem e comercializam maconha têm ações listadas em bolsa — e muitas têm valorizado de forma expressiva, apesar dos altos e baixos. A Canopy Growth, que recebeu um investimento de US$ 4 bilhões da Constellation Brands, é hoje uma das companhias mais bem posicionadas no mercado. Em três anos, as ações da companhia tiveram um salto de 2.125%, saindo de US$ 2,45 para atuais US$ 54,50.

Uma das gigantes do setor, a Aurora Cannabis viu suas ações saírem de US$ 6,09 em agosto para US$ 13,71 em dois meses. Hoje os papéis negociam em torno de US$ 11,45, uma alta de 87,5% desde a mínima de agosto.

Já a Tilray, umas das mais famosas do mercado, disparou 398% do seu IPO em julho até outubro, batendo o nível dos US$ 148,30. Hoje, as ações estão em US$ 48,90, uma forte queda desde a máxima, mas ainda 64% acima de quando estreou na bolsa, a US$ 29,77.

O governo federal americano ainda proíbe a cannabis, mas, como as empresas estão sediadas no Canadá, elas conseguem a listagem nos mercados dos Estados Unidos.

Bolha ou oportunidade?
As maiores empresas listadas em bolsa produzem milhares de quilos de cannabis por trimestre. Dos cinco maiores produtores no Canadá, todos vendem seus produtos para fins medicinais, enquanto no mercado recreativo ainda há grande dificuldade de produção.

Um dos efeitos da legalização da maconha é a disparada do preço da grama do produto, pelo menos no Canadá. Um estudo feito pelo departamento de estatísticas do país, o StatCan (Statistics Canada), mostra que o preço da cannabis em lojas legalizadas é 56,8% maior que o produto ilegal. Além disso, o preço da erva legal já subiu 17% nos seis meses desde a liberação do uso recreativo no país.

Como ocorre com as criptomoedas, os analistas têm dificuldade de calcular o valuation das empresas ligadas ao setor de maconha, dadas as novidades desse mercado. A maior parte destas companhias ainda não conseguiu dar lucro – e não se sabe quando (e se) isso irá acontecer. Portanto, é cedo para dizer se suas ações já ficaram caras ou se ainda existem oportunidades.

Em outubro do ano passado, a Canadian Securities Administrators (regulador do mercado canadense) afirmou que a forma como os produtores calculam os custos de produção por grama da erva ainda não está clara e é preciso dar maiores detalhes para os investidores.

A SEC (Securities and Exchange Commission), por sua vez, ainda estuda este novo negócio e alerta para a possibilidade de fraudes em relação à falta de informações para clientes e investidores. Segundo integrantes da comissão norte-americana, muitas empresas estão gastando muito caixa e não deixam claras suas reais capacidades de produção e venda, o que pode enganar quem quiser se tornar acionista.

A história do mercado de capitais está recheada de investimentos que valorizaram mais de 1.000% em poucos meses – e não acabaram bem. Geralmente, foram bolhas que estouraram e deixaram investidores no prejuízo.

Pode ser que a maconha seja uma exceção, e também pode ser que algumas pessoas consigam enriquecer entrando e, especialmente, saindo no momento certo. O fato, por enquanto, é que existe um novo ramo de negócios que pode receber investimentos. A dúvida é quanto ele vale.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.