Interessa ao Brasil que a Amazônia se integre ao mundo

 Curioso lembrar que há 150 anos, no período imperial, pressionados pelos investidores estrangeiros, o Parlamento e a Coroa Brasileira abriram o Rio Amazonas para navegação internacional

Equipe InfoMoney

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Augusto César Barreto Rocha (*)

Realizado em Manaus na semana passada, o Fórum de Logística Industrial, organizado pelas principais entidades industriais do Amazonas, CIEAM e FIEAM, debateu gargalos e desafios contemporâneos, com a visão de alguns dos principais atores na operação dos modais aquaviários, aéreos e terrestres, utilizados pela indústria regional. Empresários, representantes poder público, pesquisadores e entidades de classe ligadas setor. Curioso lembrar que há 150 anos, no período imperial, pressionados pelos investidores estrangeiros, o Parlamento e a Coroa Brasileira abriram o Rio Amazonas para navegação internacional. Era o começo da globalização amazônica. Liberdade para empreender era tudo que os europeus – notadamente os ingleses – precisavam para fazer dos insumos regionais a folia de agregar – no caso da economia da borracha – 45% de valor ao PIB do Brasil e 60% aos negócios da Inglaterra na virada do século.

O que se concluiu dos debates? A hora exige – com a soma de talentos e gestão competente – o aproveitamento das janelas de oportunidades deste segmento. De quebra, este é o melhor roteiro para viabilizar/induzir a retomada da economia, de uma indústria que encolheu. Seu faturamento em 2011 era de US$ 41.2 bilhões e caiu para US$ 21.8 bilhões em 2016, um retrocesso de 10 anos. Em 2006, o Polo Industrial do Amazonas foi de US$ 22.7 bilhões. Redução da burocracia e compulsão fiscal: redução do ICMS para o combustível, atualmente, em 25%. No caso do modal aéreo, essa redução traz benefícios aos passageiros dos voos nacionais, e ao turismo e tarifas das mercadorias, nos voos internacionais para a região. Para a competitividade da indústria, essa medida criaria um Hub em Manaus, com operação aérea em maiores frequências, atrativas, operações mais céleres de todos os intervenientes, incluindo uma Alfândega e Receita eficiente, competente, com uso de ferramentas digitais, de liberação de passageiros ou cargas. Isso viabilizar a redução de custos e maior inteligência operacional, compatível com a modalidade lucrativa dos Hubs mundo afora.

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O modal rodoviário, conhecido na região como rô-rô caboclo (do termo roll-on/roll-off), pela crônica e eterna falta de estradas, sofre de um problema diferente. Há um expressivo encolhimento das empresas, com várias falências e aquisições de empresas nacionais por empresas de capital estrangeiro, como a Araçatuba pela TNT ou a Rapidão Cometa pela FedEx. É assustador, não só por tirar o empresário nacional do setor, como pelo virtual incremento de custos no futuro, em função da menor concorrência. Ainda nos deparamos com a desculpa ambientalista da Rodovia BR-319, para ligar Amazonas e Roraima ao resto do país. Essa hipocrisia impede o DNIT, órgão habilitado e em estado de prontidão para resguardar o direito constitucional do cidadão ir e vir e da região criar base econômica para proteger seus estoques naturais. Ou há outro jeito? Foram gastos mais de R$ 200 milhões para recuperar os buracos de uma estrada que já existe, desde 1975, recurso suficiente para fazer uma nova rodovia. Uma das desculpas risíveis e insanas era a de evitar a extinção de uma espécie de gralha e outra do macaco-de-cheiro. Abandonada, a BR319 apenas favorece a grilarem predatória e a violência do narcotráfico. Que país é este?

As nações não são anjos nem demônios elas apenas representam oportunidades se soubermos integrar a Amazônia ao sumário da economia e gestão nacional. Empresas Bertolini e Socorro Carvalho demonstraram expressivas oportunidades, com o escoamento e a integração da produção agrícola do Centro-Oeste pelos rios da Amazônia. A Bertolini possui 187 balsas graneleiras e a Socorro Carvalho inovará com a adoção de alimentadores (“feeders”) para contêineres, embarcações semelhantes às usadas nas navegações de interior na Europa, nos portos de Roterdã e Antuérpia. Foi essa inteligência do modal aquaviário – onde os ingleses investiram milhões de livros na construção de embarcações adequadas a frete e transporte de passageiros – que propiciou a economia da borracha.
Por fim, o modal aquaviário demonstrou seu crescimento pela atração das cargas do modal rodoviário, com um grande crescimento das operações do Porto Chibatão (TUP de capital local) e da Aliança (controlada da Hambur Süd, que foi vendida para a Maersk por cerca de US$ 4.3 bilhões, em fase final de liberação pelos reguladores). As operações são crescentes e rentáveis por uma falta de concorrência efetiva da rodovia, com o frete Manaus-Santos mais caro que Shangai-Santos, bem como pelo desequilíbrio de cargas para o exterior a partir de Manaus versus o que se importa, apesar de oportunidades potenciais para o fluxo do agronegócio.

Como conclusão do evento, a redução do custo Brasil e da complexidade operacional, pelo excesso de regulação pode levar a um conjunto expressivo de oportunidades: mais fácil acesso aos recursos naturais e desenvolvimento da biotecnologia e fármacos – a economia lucrativa e de baixo carbono – da Amazônia, associados a um turismo maior, poderá auxiliar o modal aéreo no seu desenvolvimento, se existir um incentivo do estado para a construção do Hub. Para o modal rodoviário, a recuperação da BR-319 é fundamental. Para a cabotagem, a integração com o escoamento do agronegócio e apoio nas iniciativas de conexão do Mato Grosso com a região são oportunidades amplas para a região e o restante do país. É pegar ou largar…

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(*) Doutor em Engenharia de Transportes e Coordenador da Comissão de Logística do CIEAM/FIEAM.

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